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Jornal da Unicamp - Novembro de 2000

Página 3

ENSINO

O novo médico

Unicamp faz mudanças no currículo de medicina para oferecer
uma formação mais humanística, com forte conteúdo ético

Roberto Costa

No dia 5 de março do próximo ano, quando os 110 calouros iniciarem o curso de medicina da Unicamp, estarão diante de uma nova fase do ensino médico no Brasil. Ao contrário de aulas estruturadas por disciplinas, vão ter um currículo baseado em módulos de conhecimento. Nada mais natural que começar estudando profundamente as funções da célula, razão da multiplicação da vida, e sobretudo com ensinamentos práticos, como se estivessem na pele de um profissional recém-formado enfrentando seu dia-a-dia.

Para o primeiro semestre estão programados temas como o corpo humano, a fisiologia humana e a relação entre medicina e saúde. "Queremos formar um médico com visão global e humanística, oferecendo-lhe forte conteúdo ético e de cidadania", anuncia Sigisfredo Luís Brenelli, coordenador do ensino de graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Num mundo marcado pelos avanços tecnológicos, outra meta, segundo ele, é "ensinar o
aluno a buscar a informação".

Acompanhado de um médico tutor, o calouro vai sair a campo já nas primeiras semanas de curso. Ele poderá participar de uma campanha de vacinação, pôr a mão na massa em atividades rotineiras de um posto de saúde da periferia ou mesmo acompanhar o tratamento de um dependente químico. Pelo currículo atual, que ainda vai acompanhar os ingressantes de 2000 até o final do curso, isso não acontece. A maior parte das aulas de primeiro e segundo anos é realizada no Instituto de Biologia (IB), bem longe da realidade que enfrentam os estudantes dos últimos anos, já integrados à rotina do Hospital das Clínicas (HC) e de outras unidades da área médica.

O profissional ideal – Mudar a grade curricular de um curso considerado de primeira linha não foi tarefa fácil. Não era possível desprezar a história e tradição da instituição, hoje em sua 38ª turma. O processo teve início em fins de 98, por ocasião de um seminário sobre ensino e currículo, quando foram estabelecidas as suas diretrizes. Em meio às discussões, projetou-se a imagem do médico ideal como aquele com formação geral, competência, técnica, ética e humanística; ele deve saber trabalhar em equipe e ter uma formação continuada; precisa mostrar espírito crítico e transformador em relação ao
sistema de saúde.

Outra ponderação foi de que o currículo de medicina da Unicamp não se alterava há duas décadas e havia necessidade de adaptá-lo a novos conceitos. Bom parâmetro são os Estados Unidos, onde um grande movimento culminou com uma mudança curricular baseada em dois fatores: a necessidade de formar um médico menos técnico e mais cuidador, e a dificuldade em manter atualizado um profissional após 10 anos de formação.

Este último fator é importante, pois tem-se como certo que, nos próximos 10 anos, 75% dos conceitos biomédicos terão se modificado, havendo desde já a exigência de uma reciclagem constante. Daí, a preocupação em ensinar o aluno a buscar a informação, pois quem não se atualizar certamente ficará alijado do mercado de trabalho.

Treinamento em serviço – A definição por módulos em lugar de disciplinas tem o objetivo de corrigir possíveis distorções e permitir a interdisciplinaridade do conhecimento. O coordenador de graduação destaca que o tema "célula", por exemplo, era dado em doses homeopáticas por três anos. Agora, agrupado, será esmiuçado em apenas dois meses.

Mudanças como estas são aguardadas com expectativa por outras faculdades de medicina, também ansiosas por aderir aos novos tempos. A Unicamp já foi referência há 20 anos, quando elevou o tempo de internato (treinamento em serviço) de um para dois anos (no 5º e 6º), levando o Ministério da Educação a estipular que esse período deva ser cumprido no mínimo em um ano e meio.

Estão previstos os seguintes blocos nos dois primeiros anos, a partir de 2001:

A Célula
O Corpo Humano
Fisiologia Humana Integrada
Medicina e Saúde
Neurociências
Princípio de Farmacologia
Introdução à Patologia
Relação Parasita-hospedeiro
Práticas de Ciências
Ações de Saúde Pública/Saúde e Sociedade
Temas Longitudinais

Quem já está no curso, lamenta

Patrícia Martins, 21 anos, deixou São Carlos no inicio do ano, atrás do sonho de se tornar uma cirurgiã respeitada. Ela lamenta que não possa participar das mudanças curriculares, previstas apenas para os novatos de 2001. Conta que, no primeiro semestre, apenas duas disciplinas foram ministradas na FCM. As aulas práticas limitaram-se a uma visita tutorada ao Gastrocentro e a um posto de saúde da periferia. "Eu soube das mudanças no curso quando foram aprovadas, mas
não participei das discussões",afirma.

Apesar da frustração por não poder vivenciar as transformações, Raquel ainda deve se considerar uma aluna privilegiada. Freqüenta um curso de medicina que está entre os cinco melhores do País e que obteve conceito "A" na avaliação de 99 do Provão. Entre os 379 professores, 87,8% possuem titulação mínima de doutor e 69,1% estão em regime de dedicação exclusiva ao ensino e pesquisa. Cerca de 10 mil candidatos disputam suas 110 vagas a cada ano, tornando-o de longe o curso mais procurado da Universidade.

Por trás de tudo existe um complexo hospitalar que atende a uma região habitada por 5 milhões de pessoas, a partir do Hospital das Clínicas com seus 403 leitos, um hospital da mulher – o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) – com 136 leitos e 300 partos/mês, além de unidades de apoio e igualmente de referência como o Hemocentro, o Gastrocentro e o Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Gabriel Porto.

Início em dois andares – Não era bem assim há quase quatro décadas, quando foi criada uma unidade médica em Campinas. A Faculdade de Medicina começou a funcionar em 1963, num prédio em construção que depois abrigaria a Maternidade da cidade. "O curso funcionava em dois andares da maternidade e só passou para a Santa Casa quando iniciamos a fase clínica, no terceiro ano", relembra o médico João Luiz de Carvalho Pinto e Silva, atual chefe do Departamento de Tocoginecologia da FCM.

Carvalho Pinto foi um dos alunos da segunda turma de medicina, que se formou em 1969, quando a faculdade já fazia parte da Universidade Estadual de Campinas (criada em 1966). "O ambiente naquela época era de improvisação, mas de muita luta e orgulho da escola". Ele guarda na memória as cadeiras do primeiro ano de então: anatomia, genética, histologia, estatística, psicologia mé
dica, microbiologia e parasitologia. A FCM mudou-se para o campus de Barão Geraldo em 1985, ocupando prédios ao lado do Hospital das Clínicas. Conquistou seu espaço atual em 97, com modernas instalações e pelo menos 30 salas de aulas para os cursos de graduação e pós-graduação, laboratórios de informática e especialidades clínicas (alguns no próprio HC). São 600 alunos apenas na graduação e 37 programas de residência médica, que a cada ano são disputados por mais de 1.500 candidatos.

Os dois primeiros anos do novo currículo já estão definidos e os demais continuam em estudos, já que a implantação ainda permite aperfeiçoamentos. Brenelli lembra que a incorporação pela Unicamp do Hospital de Sumaré, uma unidade secundária, permitirá que os novos profissionais possam ser treinados em diferentes cenários da futura atividade profissional. A partir dos últimos anos, isso vai ocorrer nos grandes departamentos: clínica médica, pediatria, clínica cirúrgica, saúde pública e emergência.


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