Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 245 - de 22 a 28 de março de 2004
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Chico de Oliveira
critica 'compra de vagas'

MANUEL ALVES FILHO



O sociólogo Chico de Oliveira: "A reforma universitária rouba a autonomia e o caráter público da universidade".

Ao pretender comprar vagas nas escolas privadas sob o argumento de que existe pouca oferta nas universidades públicas, tendo por objetivo a criação de oportunidades para os jovens de baixa renda, o governo federal estabelece uma espécie de "estado de exceção" no ensino. A crítica, em tom contundente, não partiu de um membro da oposição, como seria óbvio supor, mas de um observador insuspeito. O autor é o sociólogo Francisco de Oliveira, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Com a medida, segundo ele, o poder central "quer mandar negros, pobres e deficientes físicos para as escolas privadas, no lugar de melhorar e ampliar a escola pública para recebê-los".

“O PT perdeu uma rara chance histórica”

Chico de Oliveira, como é mais conhecido, participou no último dia 18 de março da abertura do ciclo de debates denominado "Reforma ou demolição? O que está em jogo?", promovido pela Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp). O evento, que prossegue até o dia 15 de maio, sempre às 12h no auditório da entidade, pretende fazer uma ampla reflexão acerca da reforma proposta pelo governo federal para a universidade pública. Na oportunidade, o intelectual afirmou o projeto de reforma universitária não leva em consideração aspectos importantes.

Um deles é o fato de a universidade privada não fazer pesquisa. Outro é que a universidade pública sempre foi um espaço de "transcendência de classes". De acordo com ele, durante os quatro ou cinco anos de vivência acadêmica, os estudantes superam as suas desigualdades sociais. "Ocorre uma reelaboração dos fundamentos das pessoas, situação que o mercado não cria". O intelectual lembrou que num país cheio de desigualdades e extremamente patrimonialista, a criação de universidades públicas de qualidade, como é o caso do Brasil, constitui um patrimônio que não pode ser dilapidado. "A reforma universitária, da forma como está colocada, rouba a autonomia e o caráter público da universidade. Essas conquistas precisam ser preservadas", destacou o sociólogo.

"Adversário" - De acordo com o Chico de Oliveira, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou-se em "adversário dos movimentos sociais". Por meio de suas ações, entre elas as reformas previdenciária, sindical e universitária, ele "coloca em curso o seqüestro das organizações da sociedade civil". Na opinião do sociólogo, o governo tem travando "uma guerra" contra as organizações da sociedade. O conflito, segundo ele, começou a se delinear a partir do momento em que o PT saiu da oposição e foi para a situação.

Ao assumir o poder, explicou, o PT transformou-se no "partido da ordem". E, ao optar por defender essa mesma ordem, de essência capitalista, teria deixado de ser "referência" para tornar-se "adversário" dos movimentos sociais, que no seu entender são "subversivos" por natureza. O segundo movimento do governo na direção do embate com a sociedade, analisou Chico de Oliveira, teria sido caracterizado pela formação do arco de alianças que lhe dá sustentação. Ao se aproximar de setores conservadores, o partido teria se tornado refém de uma série de compromissos. "O PT perdeu uma rara chance histórica de ampliar a capacidade de mobilização social. Ao contrário disso, passou a trabalhar contra a mobilização", insistiu.

O projeto de reforma universitária, conforme o intelectual, deve ser entendido no contexto da relação que o governo estabeleceu com a sociedade. Valendo-se do exemplo da proposta de reforma sindical, que na sua opinião tem o propósito de "pelegar" o movimento dos trabalhadores, Chico de Oliveira sustentou que Brasília está operando "o seqüestro das organizações da sociedade civil". A universidade pública, argumentou, está sendo reformada em nome de alguns princípios, entre os quais o de que o ensino superior roubaria recursos do ensino fundamental. "Como se um pudesse existir sem o outro!".

Ao todo, o ciclo de debates promovido pela Adunicamp contará com dez conferências. A programação completa e a relação dos participantes podem ser conferidas no seguinte endereço eletrônico: http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/adunidebate-programa.htm.

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