Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 245 - de 22 a 28 de março de 2004
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Nova técnica: fibra de vidro
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Material extraído de planta amazônica substitui fibra de vidro com vantagens

Patenteada, nova técnica possibilita a produção
de plásticos reforçados e já pode ser transferida para a indústria

MANUEL ALVES FILHO




O professor Marco Aurélio De Paoli, coordenador da pesquisa: tecnologia pode agregar valor


A aluna Karen Fermoselli, cujo projeto foi premiado no XI Congresso Interno de Iniciação Científica.

A fibra de curauá, uma planta nativa da Amazônia e pertencente à família das bromeliáceas, está sendo utilizada por pesquisadores da Unicamp para substituir a fibra de vidro no reforço de compósitos poliméricos. A nova técnica, que já foi patenteada, apresenta uma série de vantagens sobre o modelo convencional.

Além de ser cerca de dez vezes mais barata do que a fibra de vidro, a fibra de curauá é biodegradável. Como se não bastasse, também é menos abrasiva aos equipamentos de processamento. Para completar, o material vegetal ainda possibilita a produção de plásticos reforçados por meio do método de injeção. Este, ao contrário da termoformagem, gera peças mais complexas, que apresentam detalhes como pontas e cavidades. De acordo com Marco Aurélio De Paoli, coordenador da pesquisa e professor do Instituto de Química (IQ), a tecnologia está pronta para ser transferida para a indústria.


Fibra é biodegradável e mais barata


O estudo, conforme De Paoli, teve início com a colaboração da professora Márcia Spinacé, também do Instituto de Química, e com o projeto de uma de suas alunas, Karen Fermoselli, premiada no XI Congresso Interno de iniciação científica da Unicamp, realizado em 2003. A estudante conta com bolsa de Iniciação Científica da Fapesp. Ao longo dos últimos dois anos, De Paoli, Karen, Márcia Spinacé e Carlos Salles Lambert, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), realizaram vários esforços, principalmente no sentido de promover a compatibilidade da fibra de curauá com a matriz polimérica. Isso foi obtido por meio do tratamento com plasma a frio, método de baixo custo e que não gera resíduos. Durante os experimentos em laboratório, os pesquisadores constataram que a fibra vegetal apresentou propriedades mecânicas específicas comparáveis às da fibra de vidro.

Adicionalmente, a fibra de curauá oferece diversas vantagens sobre a de vidro, conforme destaca o professor do IQ. Primeiro, a matéria-prima é obtida a partir de uma fonte renovável, que é a planta da região amazônica cultivada de forma intensiva no Pará. Segundo, trata-se de material biodegradável, ou seja, atenua significativamente a agressão ao ambiente. Terceiro, seu custo é pelo menos dez vezes inferior ao da “concorrente”. Quarto, é menos abrasiva, o que causa menor desgaste dos equipamentos de processamento. Quinto, exige menor quantidade de energia para ser processada. “Isso sem falar que a tecnologia, se empregada em larga escala, agregará valor a um produto agrícola que está se tornando importante para a economia de algumas comunidades da Amazônia”, ressalta De Paoli. “A fibra de curauá mostrou-se uma alternativa econômica e ambientalmente viável”, acrescenta.

O pesquisador lembra que a fibra de curauá já é empregada em tecelagem e reforço de plásticos. Estes últimos, todavia, têm sido moldados por termoformagem, processo que não permite a confecção de peças mais elaboradas. A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da Unicamp possibilita que a fibra vegetal reforce os compósitos poliméricos gerados também pelo método de injeção, por meio do qual são obtidas peças de maior complexidade. Como exemplo de aplicação dessas peças, De Paoli cita produtos das indústrias automobilística e de eletroeletrônicos.

No caso da primeira, destaque para o fato do plástico reforçado com a fibra de curauá ser mais leve do que o que incorpora a fibra de vidro. “Isso tende a tornar o carro também mais leve, o que reduz o consumo de combustível”, destaca o professor. Em relação ao setor de eletroeletrônicos, o plástico reforçado com a fibra de curauá pode ser empregado na confecção de componentes internos de vários aparelhos. Ainda segundo De Paoli, a tecnologia já foi testada com sucesso e patenteada. Para chegar à indústria, diz, falta apenas que o setor produtivo demonstre interesse. “De nossa parte, estamos prontos para promover essa parceria”, completa.

A planta - O curauá pertence à mesma família do abacaxi. Em razão da sua “versatilidade”, ela está mobilizando pesquisadores, produtores e técnicos do setor industrial. A planta produz uma fibra que pode ser utilizada na fabricação de tecidos, papel, plástico e até um tipo de anestésico. O curauá é bastante conhecido no Baixo-Amazonas, região oeste do Pará, onde foram feitos os primeiros plantios em escala comercial.

Diferente do abacaxi, a planta não tem espinho, o que facilita o manejo e o corte. O curauá pode ser plantado em solos menos exigentes e, a partir do segundo ano, a colheita pode ser de seis em seis meses. No total, a planta tem um aproveitamento por cinco anos, proporcionando nove colheitas. Cada planta produz entre 20 e 24 folhas, proporcionando perto de dois quilos de fibra. A máquina para beneficiamento do curauá é a mesma utilizada no sisal, planta do nordeste brasileiro. O composto viscoso que sobra do processo de desfibramento, a mucilagem, permite a fabricação de papel. O soro do curauá contém uma toxina que pode ser utilizada para a produção de um anestésico.


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