Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 245 - de 22 a 28 de março de 2004
Leia nessa edição
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Superávit anticíclico
Para alavancar patentes
Nova técnica: fibra de vidro
Parto alternativo
Epilepsia fora das sombras
Speck: combate à corrupção
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Química: romance premiado
Academia de Ciências
Raridades de um homem raro
 

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Unicamp inicia esforço
para alavancar patentes

Caracterização da tecnologia e análise de sua
viabilidade econômica fazem parte de projeto inédito

CLAYTON LEVY



A Agência de Inovação da Unicamp (Inova) acaba de lançar a Diligência da Inovação, projeto inédito no meio acadêmico que tem como objetivo estudar o potencial de negócios das patentes registradas pela Universidade. A iniciativa ocorre apenas dois meses depois de a unidade ter anunciado a formação de um banco de patentes, cujo objetivo é obter dez licenciamentos novos por ano. Segundo o diretor de parcerias e projetos colaborativos da Agência, professor Roberto Lotufo, a idéia agora é ir além de um banco de patentes e disponibilizar para o mercado um banco de negócios.

Os estudos desenvolvidos pela diligência serão divididos em quatro partes: caracterização da tecnologia, prova de conceito, estudo de mercado e a análise de viabilidade econômica. "O objetivo é fazer uma análise detalhada da tecnologia, identificar os modelos de introdução da tecnologia no mercado, bem como os melhores caminhos para a comercialização e transferência tecnológica", explica Lotufo, que na última quinta-feira coordenou um seminário no Centro de Tecnologia da Unicamp para apresentar o projeto.


Edital abre espaço para inventores


Durante o seminário foi apresentado um projeto-piloto, envolvendo a patente "Processo de obtenção de catalisadores da conversão de CO a CO2 e catalisadores assim obtidos", do professor Eduardo Vichi. Para esse primeiro caso foi contratada a empresa Instituto Inovação (www.institutoinovacao.com.br), de Belo Horizonte, especializada no estudo de viabilidade de projetos com potencial de mercado. O estudo deverá durar dois meses. Durante esse período, a Inova concluirá a formatação do projeto global para dar início à segunda fase, que consistirá no estudo de outras patentes durante seis meses.

"Faremos um edital para convidar os inventores que queiram fazer diligências de seus projetos", diz Lotufo. A proposta da Inova é que nessa segunda fase os estudos sejam feitos com a participação de alunos e profissionais de várias áreas. Segundo o diretor, uma equipe de professores da Unicamp terá a missão de definir as linhas gerais e supervisionar o projeto. Abaixo dessa equipe haverá outro grupo, composto por profissionais do Instituto da Inovação e da Inova, que vai coordenar a execução do trabalho. O estudo propriamente dito deverá ser feito por alunos e outros interessados que atuam no setor. "Há várias empresas formadas por ex-alunos que têm interesse nesse tipo de projeto", observa.

O professor Roberto Lotufo, diretor da Inova: "Queremos que o projeto crie uma nova cultura na Unicamp" .

A segunda fase dos estudos está orçada em R$ 300 mil. Para conseguir os recursos, a Inova já acertou uma parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa, que fará o aporte de R$ 100 mil através do Fundo de Apoio de Ensino e à Pesquisa (Faep). O restante Lotufo espera obter junto a outros órgãos como Sebrae, Fapesp e Finep. "Estamos muito otimistas em conseguir esse financiamento porque nosso projeto está em perfeita sintonia com a necessidade de inovação tecnológica no cenário brasileiro". Em entrevista ao Jornal da Unicamp, Lotufo detalhou as metas e expectativas do projeto.


Jornal da Unicamp - Qual o objetivo da Diligência da Inovação?

Roberto Lotufo - É mais uma iniciativa que visa estreitar a distância entre a universidade e a empresa. Queremos tornar mais produtivo o processo através do qual a tecnologia desenvolvida na universidade é passada para a empresa.

JU - No que consiste o trabalho a ser feito pela Diligência?

Lotufo - Consiste em fazer um estudo da tecnologia de uma determinada patente, para responder às várias perguntas feitas pelo mercado na hora de avaliar o seu potencial como negócio. O estudo levanta informações sobre viabilidade econômica, características da tecnologia, legislação, custo final, nichos de mercado, concorrentes, etc. Cada diligência deverá demorar, em média, de dois a três meses. Ao final, a empresa interessada em licenciar o invento terá não apenas as características tecnológicas da patente, mas também o seu potencial de negócios. Em vez de ter apenas um banco de patentes passaremos a ter um banco de negócios para oferecer ao mercado.

JU - Qual a sua expectativa quanto aos resultados?

Lotufo - Queremos que o projeto crie uma nova cultura na Unicamp. Por isso, esperamos uma participação efetiva da comunidade. Talvez esse seja o maior benefício do projeto. Fazer com que os pesquisadores recorram à diligência até mesmo antes de patentear seus inventos, a fim de verificar sua aplicação na sociedade. Há, por exemplo, muitas teses de doutorado engavetadas que podem conter potencial de mercado. A diligência mostrará que tipo de negócio e quais as chances de sucesso que esse invento pode constituir. Além disso, estaremos capacitando pessoas para fazer esse trabalho.

JU - A diligência também inclui a identificação de formas de financiamento para viabilizar o negócio?

Lotufo - O trabalho permitirá uma visão maior das formas de financiamento. Não basta levantar todas as informações mercadológicas se faltar o investimento. Estamos agregando mais informações à tecnologia que está engavetada para colocá-la numa vitrine, de tal modo que mais empresas, empreendedores e investidores sejam atraídos e a chance de sucesso seja maior.

JU - Qual a diferença entre o banco de patentes e a diligência da inovação?

Lotufo - O banco de patentes catalogou e classificou por categorias as cerca de 300 patentes depositadas pela Unicamp. Hoje elas já estão na vitrine. Mas faltava responder a várias perguntas feitas pelas empresas interessadas em licenciá-las. A diligência está dando mais esse passo, que é um passo mais ambicioso porque estará agregando informações na perspectivas de negócios.

JU - É possível estimar o número de licenciamentos que o projeto pode consolidar no curto prazo?

Lotufo - Ainda não é possível falar em números. Mas uma universidade como a Unicamp, se estivesse no exterior, com certeza teria um fluxo de licenciamentos alto. Esses licenciamentos que não foram feitos estão represados. Estamos tentando fazer alguns buracos para que isso seja escoado. A publicação do catálogo de patentes já produziu um efeito positivo nesse aspecto. Agora, esperamos que a diligência da inovação gere um impacto ainda maior, a fim de ampliarmos os contratos de licenciamento. Mais do que novas tecnologias, as empresas interessadas terão acesso à propostas de negócios.

JU - Quais os resultados esperados do ponto de vista interno?

Lotufo - Queremos disseminar essa cultura a fim de termos mais tecnologia para acesso e uso da sociedade. Outro resultado esperado é fazer a diligência em tecnologias que não estão patenteadas. Buscaremos outras tecnologias que podem vir a ser um bom negócio. Há um número grande de tecnologias que não têm patentes mas oferecem um potencial igual ou maior. Do ponto de vista da universidade, isso também pode ter um impacto importante na qualidade das pesquisas. Podemos ter uma realimentação de pesquisas com grande potencial social ou comercial. A Unicamp, em particular, tem esse potencial de inovação desde o seu início.

JU - O senhor acha que esse projeto poderia servir de modelo para incrementar a inovação tecnológica no País?

Lotufo - Gostaríamos que esse projeto fosse copiado. Estamos fazendo um piloto. No futuro, podemos fazer outro piloto envolvendo parcerias com outras instituições. Achamos que esse é um bom modelo e que pode ser transferido para todas as universidades do Brasil. Como pesquisadores, sempre temos a sensação de que muitas as pesquisas têm grande potencial de mercado. Ficamos muito frustrados quando esses trabalhos não vão para o mercado. A distância entre a universidade e a empresa ainda é grande. No Brasil poucas empresas fazem pesquisa. Essa iniciativa sozinha não soluciona o problema. Mas é uma contribuição importante para estreitar esse relacionamento.

Evento debaterá transferência tecnológica e propriedade intelectual

A Agência de Inovação da Unicamp (Inova) promove nos dias 25 e 26 de março, no Centro de Convenções da universidade, a Conferência Internacional Campinas Inova 2004. O evento tem como tema central "Transferência de Tecnologia, Direitos de Propriedade Intelectual e Política Empresarial - Uma perspectiva Global". O programa inclui painéis e debates com a participação de especialistas do Brasil e do exterior. As inscrições podem ser feitas por e-mail, através do endereço http://www.inova.unicamp.br/campinasinova/.

Durante os dois dias do programa, serão apresentados temas decorrentes da experiência em patentes nos EUA e países da OECD (Organization for Economic Cooperation and Development) no presente ambiente econômico do Brasil. Fornecendo exemplos internacionais de desenvolvimento através de esforços em propriedade intelectual e transferência de tecnologia, os palestrantes vão promover discussões com os participantes da conferência para investigar como teorias, estudos de casos e experiências em outros países podem ser aplicadas para alimentar a busca do Brasil pela expansão de sua economia da informação.

Empresários da indústria tecnológica, advogados, pesquisadores, administradores de universidades e legisladores governamentais estarão entre o grupo que constituirá os painéis de propriedade intelectual e transferência de tecnologia. O evento, segundo os organizadores, beneficiará os iniciantes no setor de gestão de propriedade intelectual, assim como os executivos experientes, já familiarizados com propriedade intelectual, licenciamento, marketing e negociações empresariais, prometendo também ser uma excelente oportunidade para estabelecimento de uma boa rede de contatos.

O reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz, destaca a importância do tema no âmbito acadêmico. "Conhecimento é o objeto em torno do qual a Universidade gravita. Sua geração, difusão, transferência para os estudantes e para a sociedade, seu armazenamento em bibliotecas e bases de dados, compõem o coração das atividades acadêmicas. Direitos de Propriedade Intelectual constituem elementos importantes deste esforço e as Universidades de todo o mundo reconhecem sua relevância de maneira crescente", explica.


Detalhes do programa podem ser obtidos no site http://www.inova.unicamp.br/campinasinova/

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