Leia nesta edição
Capa
Fibrose Cística
Cartas
Segurança privada
Aerogerador
Argila e poluição
Vanguarda
Farinha de yacon
Identidade Nacional
Nutrição de idosos
Mobilidade Social
Painel da Semana
Teses
Unicamp na mídia
Portal da Unicamp
Livro da Semana
Violência no futebol
Ajuda à deficiência
 

4


Método usa argila para
identificação de poluentes

CARMO GALLO NETTO

As pesquisadoras Gláucia Maria Ferreira Pinto e Talita Takizawa Dias: tecnologia pode ser usada em laboratórios de pesquisa e nas indústrias em geralA pesquisadora Gláucia Maria Ferreira Pinto, da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, em colaboração com a aluna Talita Katiuska Takizawa Dias, desenvolveu método e processo que permitem separar, pela adsorção em argila – e depois identificar e quantificar, por meio de análises convencionais –, pesticidas e inseticidas utilizados na agricultura e nas residências e dissolvidos nas águas que, depois de tratadas, serão utilizadas para o abastecimento doméstico e industrial.

Barata, tecnologia reduz custoslho

As pesquisas, que levaram à deposição de patente, tiveram como objetivo inicial possibilitar maior conhecimento da qualidade das águas da região, determinando-lhes o grau de contaminação, e também fornecer alternativas para o seu tratamento, principalmente quanto aos pesticidas usados nas lavouras e arrastados para as bacias fluviais. Além de atender a cada vez mais presente preocupação ambiental, o foco nos pesticidas se justifica porque eles são muito tóxicos e causadores de sérios danos em plantas, animais e seres humanos.

Outra motivação das pesquisadoras foi a constatação de que o preparo das amostras ambientais que possuem baixa concentração de poluentes, em nível de traços, envolvem ainda recursos e métodos caros e trabalhosos, devido principalmente à necessidade de isolamento dos poluentes orgânicos da matriz ambiental e da necessidade de obter-lhes concentrações passiveis de determinação analítica pelos métodos usuais.

Para a separação inicial dos poluentes, se lança mão comumente da extração em fase sólida (solid phase extraction – SPE). Um dos dispositivos de sílica mais utilizados nessa separação tem custo do cartucho ao redor de R$30,00 a R$ 60,00, geralmente descartável após um único uso, o que inviabiliza seu emprego constante e facilita, pela ausência de controle mais efetivo, a disseminação de problemas ambientais. A pesquisadora esclarece ainda que, mesmo em baixa concentração, o pesticida é nocivo ao homem porque tem efeito bioacumulativo, pois fica retido principalmente na camada lipídica, que atua como sorvente e concentradora.

Com base nesse quadro, as pesquisas se orientaram na busca de uma alternativa para separação e determinação de poluentes orgânicos em amostras ambientais. Como sorvente sólido, foi utilizada argila natural e um procedimento alternativo para reter pesticidas persistentes, clorpirifós e profenofós, com o objetivo de isolá-los e concentrá-los a partir de amostras de águas. A tecnologia, mais barata que as convencionais, pode ser usada em laboratórios de pesquisa e nas indústrias em geral.

Gláucia faz questão de enfatizar que o trabalho não se orientou pela perspectiva do lucro, mas teve o objetivo de criar alternativas para o controle da contaminação das águas, com vistas à preservação ambiental, e de disponibilizar uma metodologia para tratar essas águas de maneira a torná-las mais apropriadas para consumo.

Segundo ela, “é perfeitamente possível investir hoje nesse tipo de tecnologia, que é simples, barata e que pode levar a resultados muito favoráveis para a comunidade”, e acrescenta: “Diante destes pressupostos, buscamos um método e um procedimento que pudesse introduzir inovação em relação ao que é usado. Enfrentamos o problema das concentrações muito baixas dos poluentes face ao volume hídrico disponível, o que não permite detectá-los através dos métodos convencionais, chegamos a um processo menos trabalhoso, pois simplificamos as operações, e superamos o problema dos custos”.

Gláucia explica que os pesticidas presentes em um volume previamente coletado de água são sorvidos pela argila e, retirados através de um solvente apropriado, têm suas massas determinadas, o que permite chegar à contaminação do rio. Os estudos concentraram-se principalmente nos pesticidas organo-fosforados, pois são os que causam maiores danos à saúde, mas ativeram-se inclusive nos inseticidas, aplicados nas lavouras e também nas residências, e que acabam contaminando as fontes de água.

Embora o objetivo inicial da pesquisa tivesse a dupla preocupação de atender laboratórios e empresas públicas e privadas que buscam técnicas que permitam caracterizar as fontes de contaminação ambiental, além de possibilitar às indústrias métodos economicamente mais viáveis para tratamento das águas que descartam depois do uso – o que contribuiria para a substancial redução da poluição das bacias - a pesquisadora entende que a tecnologia, face ao baixo custo, pode vir a ser utilizada para maior purificação das águas tratadas e destinadas às cidades.

Gláucia acredita que tanto as análises como os processos de tratamento para eliminação de substâncias orgânicas da água teriam uma redução nos custos de cerca de 50 vezes se comparados com os processos vigentes. Esta diminuição de custos certamente reduziria sensivelmente a resistência das indústrias em tratar as águas devolutas, e permitiria uma ação mais incisiva dos organismos públicos, considera ela.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2007 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP