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Raul do Valle reúne sons guardados na memória
desde a infância em peça para a Sinfônica de Campinas

Sonoridades de rituais
profano-religiosos

LUIZ SUGIMOTO

O compositor Raul do Valle, do Departamento de Música do IA: rituais inspiradores (Foto: Antoninho Perri)Antífona é um curto versículo lido ou cantado antes do canto dos salmos nas missas católicas. Ao ouvir a "Antífona 1", a sensação para o público será de que ritualistas do candomblé, dos índios navajo e omaha dos Estados Unidos, espanhóis em procissão solene da Sexta-Feira Santa e dominicanos com seu belo canto gregoriano cruzam o palco em menos de dez minutos. É o que espera o compositor Raul do Valle, professor do Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, com a peça Ritual – Sonoridades profano-religiosas, a ele encomendada pelo maestro Henrique Lian para o concerto oficial da série Pindorama da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. A obra abrirá os espetáculos de estréia nos dias 21 e 22 de maio, no Centro de Convivência.

Sincretismo religiosa permeia a obra

"Em meu percurso musical, é sintomático me sugestionar com o título da obra, que ao ser escolhido me dá as diretrizes sonoras preenchendo aquele vazio do início de qualquer empreitada. Precisava decidir se aceitava a encomenda na hora, por telefone, e o nome que me veio foi Ritual, palavra forte como Totens, minha composição anterior", afirma Raul do Valle. O compositor conta que a inspiração não veio de A Sagração da Primavera, "o grande ritual de Stravinsky", mas de pequenos rituais, cujos sons marcam sua memória da infância até hoje.

Assim, Valle puxou da memória o verso: Caboclo da terra preta/pena branca, vem saravá/eu nasci noutro terreiro/em outro Juremá. E também a cena de um terreiro de candomblé que visitou com alunos da PUC no início dos anos 1960, quando um participante do culto, meio em transe, ajoelhou-se a seu lado e cantarolou Ogum tá de ronda. "São dois cantos afro-brasileiros. No primeiro explorei cordas e madeiras e, no segundo, solos de trompete e trompa fazendo o papel dos cantores. Ambos os movimentos são apoiados pelo som característico dos atabaques", descreve.

O movimento seguinte é "Homenagem às Tribos Navajo, Ute e Omaha", dos Estados Unidos, um tributo aos indígenas remanescentes que lutam para preservar seus cantos, costumes e crenças. "Omaha é uma cidade que ganhou o nome da tribo e onde mora meu filho, Luiz Fernando, que produziu um documentário sobre um encontro periódico em que a universidade recebe a visita dos índios americanos que restam no país e lutam para que seus cultos não morram", conta Raul do Valle.

No ritual dos omaha, adultos cantam e batem num mesmo tambor, chamando as crianças para que também aprendam o ritmo, antes que todos vistam seus parlamentos. O tributo aos navajo e ute vem antes, em que uma flauta faz um solo de cunho íntimo, acompanhada apenas por chocalhos. Depois entram violoncelos fazendo o canto fúnebre dos omaha, com o suporte de tambores e guizos. "É um ritmo continuado, sem a pretensão de agradar, mas tocado com cerimônia e respeito", acrescenta o compositor.

Procissão - "Los Pasos", segundo Valle, traz sonoridades que permeiam a mística Procissão Solene da Sexta-feira Santa em toda a Espanha, país que percorreu por seis meses em viagem para firmar acordos de cooperação entre Unicamp e universidades espanholas. "Sou católico praticante e fui às procissões da Semana Santa. Cada cidade possui seus andores [padiolas onde são levadas imagens de santos] e os fiéis das chamadas cofrarias saem com indumentárias. Em Granada, vi a Los Pasos (Procissão do Senhor Morto), que para mim, um espectador mais interessado no som, ficou como a procissão dos passos", recorda.

Na peça, a música procura criar a impressão de que as confrarias, com seus andores singulares e bandas de música, aproximam-se uma a uma, passam pelo espectador e seguem penitentes. "A percussão que abre e encerra esse movimento é parte indispensável da tradição hispânica", acrescenta. Quando o som dos passos desaparece, surge um tocar de sinos, criando um clima favorável para o canto gregoriano de "Monasterio de Santo Domingo de Silos". "A paz que se sente junto à comunidade dominicana é algo que marca para sempre. Tentando reproduzir a beleza do canto gregoriano, serão nove violoncelos "cantando" salmos de louvor", explica o compositor.

O interlúdio vem a seguir suprindo a vontade de Raul do Valle de incluir um movimento mais "virtuosístico", oferecendo espaço para a técnica e destreza dos instrumentistas, com bongôs e tímpanos que dialogam com madeiras, metais e cordas. "O ritmo é apressado com a inclusão paulatina de outros instrumentos, até acabar abruptamente, deixando um vazio. É o momento da "Antífona 2", que lembra o vigor do início mas um pouco modificado e amplificado, onde a percussão anuncia o final da peça", completa o compositor.

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