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Jornal da Unicamp - 10 a 16 de junho de 2002
Agora semanal

Economia

Para onde vai a América Latina?

Análise da conjuntura econômica entre os
anos 60 e 90 levanta novas questões

Luiz Sugimoto

A América Latina tem futuro ou a região está condenada ao subdesenvolvimento? Essa questão, que gerou inúmeras discussões e teses nos anos 60 e voltou à baila nos anos 90, norteou a dissertação de mestrado de Corival Alves do Carmo, no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob orientação do professor José Carlos de Souza Braga.

“Nos início dos anos 60 – que um historiador argentino chamou de ‘década das decisões’ – havia um grande entusiasmo quanto à possibilidade de um desenvolvimento em moldes simulares aos de Estados Unidos e Europa”, recorda Corival. Mas, segundo o pesquisador, à medida que se avançava na década, o pessimismo foi tomando conta, diante das conseqüências da opção dos países pelo projeto nacional-desenvolvimentista que começou a ser implantado ainda na década de 30.

“A inflação aumentava, a industrialização não solucionava os problemas sociais, crescia a pressão das massas urbanas por elevação de salários e exigia-se a reforma agrária no campo. Já havia todo um quadro de instabilidade na América Latina”, conta o pesquisador. Alguns autores viriam então a concluir pela impossibilidade de a América Latina se desenvolver. Surgiram as teses estagnacionistas – sobre uma tendência da economia da região à estagnação, permanecendo com baixas taxas de crescimento e alto nível de exclusão social. Seu principal defensor era Celso Furtado.

Alas mais à esquerda, representadas por Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini, sustentavam a teoria da dependência, afirmando que não havia como a AL se desenvolver dentro do regime capitalista. “Na visão deles, o capitalismo já tinha perdido suas características progressistas: não reunia mais condições de incorporar as massas, de aumentar os benefícios para a população e, portanto, a única alternativa seria o socialismo”, afirma Corival.

Outra corrente, encabeçada pela economista Maria da Conceição Tavares e pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso, defendia o contrário: o desenvolvimento dentro do capitalismo continuava sendo viável na América Latina. A exclusão era intrínseca ao sistema e se deveria, então, implantar políticas de correção das desigualdades sociais, adotar medidas paliativas.

Cenário atual – Saltando para o cenário dos anos 90, essas mesmas discussões são retomadas, observa Corival do Carmo. Novamente se discute a possibilidade de a América Latina se desenvolver ou não, dentro desse contexto de globalização. É possível à região progredir de forma autônoma? Ou este desenvolvimento virá simplesmente como reflexo da atuação dos países dominantes, sem que se consiga solucionar os problemas sociais?

“Vamos encontrar o mesmo tipo de tese: alguns afirmando que isso é inviável, pregando outro modelo, o socialismo; outros defendendo o rompimento com a globalização, uma economia autárquica, fechada, garantindo o desenvolvimento mesmo sob o capitalismo; e ainda aqueles para os quais, quanto mais se aderir à dinâmica da globalização, mais fácil será o desenvolvimento da região”, enumera o pesquisador do IE.

´É preciso negociar com o mundo’
Fugindo dos limites de sua dissertação, Corival Alves do Carmo arrisca uma opinião pessoal, vendo como extremamente limitadas as chances de que sejam vencidas as desigualdades na América Latina. “Para sair do subdesenvolvimento, esses países vão precisar negociar com o mundo, conseguir arranjos que resultem no compromisso das organizações internacionais em adotar soluções para a exclusão social”, prevê.

O pesquisador atenta, porém, que falta aos que lutam por isso – trabalhadores, pequenos proprietários, sem-terra – uma articulação mundial para defender seus interesses, colocando na agenda esse tipo de discussão. “O Fórum Social Mundial é um palco de discussões, mas como há várias tendências e falta um projeto único, isso torna inviável, a curto prazo, que os países subdesenvolvidos se imponham e obtenham vantagens diante de organismos como OMC, ONU, FMI e Banco Mundial”.

Corival do Carmo lembra que, apesar das diferenças entre os países, a América Latina é vista como uma unidade pela comunidade internacional, pois todos padecem do mesmo mal. Ele critica a própria posição do Brasil: “Nosso governo tem mais condições de se firmar como liderança e encaminhar soluções, mas nunca se dispôs a isso. Deveria, por exemplo, fazer uma defesa muito mais forte da Argentina junto aos bancos internacionais e, com certo esforço, dar algum tipo de ajuda ao vizinho. Mas o país se mantém isolado nas negociações, sem pensar pelo conjunto da América Latina”.

Uma reflexão sobre o mercado de trabalho

Projeto faz com que jovem se conscientize sobre o
papel que desempenhará na sua área de atuação

Maria Alice da Cruz

A insegurança é um sentimento comum entre muitos jovens universitários ou recém-graduados que se pautam em fatores comuns para a escolha da profissão. Entre os estímulos que interferem no processo de escolha profissional estão a influência de pessoas da família e a tendência do mercado de trabalho, argumenta a pedagoga Maria Ana Marabita, da Faculdade de Educação da Unicamp. Um trabalho especial realizado por orientadores pedagógicos da rede salesiana de ensino com a finalidade de abrir um leque de informações e possibilidades profissionais a seus alunos inspirou a dissertação de mestrado desenvolvida por Maria Ana.

Há 12 anos atuando como orientadora no Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, a pesquisadora detectou em seu dia-a-dia profissional a necessidade de orientar estudantes com dificuldades para aplicar o que aprende no mundo da educação no mundo do trabalho. Ao extrair das avaliações socioeconômicas do Enem dados sobre as perspectivas profissionais de jovens estudantes de escolas públicas, Maria Ana notou uma expectativa comum entre alunos de escolas públicas e do Liceu Salesiano: uma vida digna, com estabilidade financeira, garantida por um emprego que dê condições de viver razoavelmente.

A primeira escolha ainda privilegia as profissões elitistas, assim definidas pela pesquisadora, como medicina, odontologia, advocacia, ou as mais modernas, como hotelaria, turismo, bioquímica e nutrição. O interesse por estas duas últimas profissões está associado às recentes discussões sobre qualidade de vida. Um dos objetivos do projeto é fazer com que o adolescente reflita sobre o seu papel social na área que pretende atuar. Dentro do projeto de Maria Ana, os alunos participam de palestras e realizam visitas a empresas da região para refletir sobre suas aptidões. Dos jovens avaliados, 92,5% pensam em realização profissional; 51,8% já são trabalhadores. Perguntados sobre o que precisam para profissionalizar-se, 72,4% manifestaram a necessidade de estudar língua estrangeira e computação. Segundo Maria Ana, na busca de esclarecimentos sobre as teorias vocacionais existentes e o mundo da educação, ela percebeu que o ser humano necessita ter oportunidades, sobretudo educativas, para desenvolver seu poder de decisão.

Maria Ana afirma que a participação de pedagogos no processo de orientação profissional foi uma das mais importantes modificações da LDB e dos PCNs. A partir das mudanças legislativas, o trabalho de orientação vocacional deixa de restringir-se apenas a psicólogos e psicopedagogos. “Os testes específicos com certeza devem ser feitos pelos psicólogos, mas a instituição educacional pode realizar atividades para que os jovens as descubram”, afirma a orientadora. Para ela, a família deve participar desse processo. Ela mesma realiza reuniões com os pais no colégio para discutir a questão vocacional. O trabalho do orientador deve ter como objetivo acompanhar o estudante para que ele não desista de seus projetos para o futuro.

Mais do que apresentar caminhos para a escolha, o orientador, na opinião de Maria Ana, deve orientar seus alunos sobre as formas de encontrar meios e gerir recursos quando este não se encontra em condições de realizar seu sonho. “Como um jovem de classe média que quer cursar medicina ficaria seis anos sem trabalhar?”. Ela se pauta em sua própria história de vida, na qual teve de quebrar barreiras para garantir sua educação, sua carreira profissional e até mesmo conquistar o título de mestre e ser indicada para o curso de doutorado na Faculdade de Educação da Unicamp. “A intervenção é diária. Tem de buscar o potencial do ser humano para que ele busque o caminho da realização, que é repleto de possibilidades que o próprio aluno desconhece”, defende.