Companhias formadas por ex-alunos e professores do Instituto de Artes tornam-se referência em pesquisa teatral

Isabel Gardenal

A efervescência de companhias teatrais no distrito de Barão Geraldo, muitas delas originárias da Unicamp, tem feito dele um dos mais importantes centros de teatro-pesquisa do Brasil. Pelo menos é assim que muitos grupos genuinamente da região têm sido apresentados em suas turnês. A proximidade com a Universidade é o pólo de referência para a localização dos grupos, que metaforicamente orbitam ao redor da cidade universitária.

A influência da cátedra na vida dos atores é vista nas formações do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais (Lume), Barracão Teatro, Boa Companhia, ParaladosanjoS, Grupo Matula Teatro, Grupo do Santo, Companhia Arrastão e Trupe Ofusca, todos safra de ex-alunos e professores do Instituto de Artes (IA).

Uma rápida volta pelas ruas do distrito é suficiente para identificar mais de uma companhia teatral, às vezes até no mesmo trecho. É o caso do Lume, da Boa Companhia e do Barracão Teatro.

O Lume - o mais antigo deles, criado há 15 anos por Luis Otávio Burnier (professor do IA) - acaba repassando a sua vasta experiência teatral e espaço físico para que grupos nascentes ensaiem. Atualmente, é uma revelação como núcleo ligado à Unicamp com ação direta na vida da sociedade.

Coordenado pelo professor Ivan Santo Barbosa, do IA, o Lume conta com sete atores para suas performances em espetáculos como La Scarpetta e Parada de Rua, que acabam de ser exibidos em um encontro artístico na Dinamarca. Desenvolve ainda vários projetos culturais e produz a Revista do Lume, em sua 4a edição.

Já a Boa Companhia é uma associação cultural sem fins lucrativos criada há dez anos. Ela, que produziu cerca de 15 peças, tem oito atores e é coordenada pela professora do IA - Verônica Fabrini. O próximo trabalho do grupo será mostrado em julho, no Festival Arena 02, na Alemanha. Único convidado brasileiro, Boa Companhia apresentará Primus, que retrata a evolução humana. Para a finalização da pesquisa, os atores estiveram no Zoológico de São Paulo e também fizeram um curso em Primatologia.

Quanto ao Barracão Teatro, ele tem como atores Tiche Vianna e Esio Magalhães, que também emprestam o espaço do Barracão para grupos sem sede própria. Tiche foi selecionada, entre 2 mil atores, para fazer um trabalho em São Paulo, dirigido por Denise Stoklos, atriz de renome internacional.

Novos grupos - É ponto pacífico que a escola da Unicamp está bem fundada em bem-sucedidas experiências com montagens teatrais. Uma de suas ênfases está na investigação de obras, consenso partilhado pelos ex-alunos.

Dos três grupos que estrearam há pouco tempo, uma proposta baseada em pesquisa arrojada é a do ParaladosanjoS, que existe há dois anos, com Marília Ennes e Marcos Becker atuando. Seus espetáculos unem cena teatral e show circense. Fazem acrobacias aéreas com tecido (grandes panos suspensos que permitem uma coreografia suave, intercalada por quedas bruscas) e lira (bambolê de ferro com 1 metro de diâmetro).

A sede do ParaladosanjoS fica num amplo terreno, no bairro do Guará. Mas, segundo Marília, as apresentações não se limitam ao local. Às vezes, elas são itinerantes. Marília e Marcos também promovem oficinas e cursos de malabarismo, maquiagem e outros.

O Grupo Matula Teatro surgiu há dois anos com a proposta de desenvolver uma pesquisa com moradores de rua. Assim tem sido. O grupo mostra a vida destes moradores e depois atua com a participação deles. Desta troca, surgiram dois espetáculos: Vizinhos da Fenda e Pedras de Coração.

Constituído por cinco ex-alunos do IA e coordenado pelos professores Verônica Fabrini e Sandro Tonso, o Matula conta com o auxílio irrestrito da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e do Lume. Além de se apresentar em lugares diversos, sempre que pode, o grupo vai até o público. Duas vezes por semana, realiza oficinas de teatro na Casa dos Amigos de São Francisco de Assis, no centro de Campinas, lugar que dá assistência a moradores de rua.

Trabalho semelhante, em termos de público de rua, o Grupo Santo tem sete atores, todos ex-alunos da Unicamp, que trabalham juntos há mais de três anos. Seu modo de atuação tem como ponto-de-partida o teatro popular, baseando no universo das máscaras, uma linguagem muito utilizada na Comedia Dell´'Arte. O grupo está amparado pelo Centro de Memória Unicamp (CMU) e Preac, recebendo orientação teórica da professora Olga von Simson e prática de Tiche Vianna e Carlos Simioni.

Um dos trabalhos mais recentes do grupo tem como objetivo investigar como a população de Barão Geraldo interpreta o que é o popular. Outro, uma pesquisa ocorrida em Diamantina-MG, reuniu os dados coletados a partir de histórias de seus moradores e tomou forma de esquetes, exibidas na frente das casas das pessoas.

Ao longo de quase dois anos, a Companhia Arrastão tem pesquisado a mulher. O grupo, formado por seis atores, expressa sua indignação ao posicionamento preconceituoso da mídia e da sociedade machista, que atribui à mulher uma condição inferior e excessivamente consumista – teor muito bem trabalhado na peça Maria, Maria. A Companhia Arrastão ensaia no Centro de Vivência 4 da Moradia Estudantil da Unicamp.

Mas o caçula de todos os grupos é a Trupe Ofusca, com sete componentes, que existe há um ano sob coordenação do ator-pesquisador do Lume - Ricardo Puccetti. O trabalho teve início com um projeto de iniciação científica do IA ligado ao clown (palhaço), patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

No Lume, a Trupe Ofusca segue a linha de pesquisa "O clown e o sentido cômico do corpo". Os integrantes desenvolvem o seu clown pessoal, que difere da criação do palhaço como um tipo característico. As expressões surgem de acordo com o contexto das corporeidades, refletindo a arte de interpretar no jeito de andar e de reagir. Coincidência ou não, todos os grupos lutam por ir bem, obrigada.

Contato

Boa Companhia - Rua Edna de Barros Sanches, 79/Vila Santa Izabel

Companhia ParaladosanjoS - Rua Jason Roque de Castilho, 200/Guará

Lume - Rua Carlos Diniz Leitão, 150/Vila Santa Izabel

Barracão Teatro - telefone 3289-4275 (Tiche)

Grupo Matula Teatro - telefone 3249-1194 (Fabiana)

Grupo do Santo - telefone 3289-5393 (Lidiane)

Companhia Arrastão - telefone 3289-5694

Trupe Ofusca - telefone 3287-5416 (Érika)