. Leia nessa edição
Capa
Reitores vão à Câmara
Museu de Ciências
Reformador de etanol
O Mundo da mecatrônica
CPFL: atuação da Aneel
Pesquisa: agressão a idosos
A esqueda chegou ao poder?
Dança: cultura afro-brasileira
Unicamp & Nature Medicine
Concreto a partir de resíduos
Nova proteína huimana
Unicamp na imprensa
Painel da semana
Teses da semana
A cena muda, a música fica
Computadores `vestíveis´
 

12

VESTIS: CORPOS AFETIVOS

Luisa Paragua Donati, doutoranda do Ia, pesquisa que valeu o prêmio Cultural Itaú

Luisa Paraguai Donati, em sua pesquisa sobre “computadores vestíveis” premiada pelo Itaú Cultural, escreve sobre Edward Hall, teórico do uso do espaço informal pelo homem em suas relações sociais. Ele definiu o que chama de zonas “proxêmicas”: espaço íntimo, para abraços e sussurros (15cm a 46cm); pessoal, para conversas entre bons amigos (0,5m a 1,2m); social, para conversas entre pessoas (1,2m a 3,6m); e público, para discursos (3,6m ou mais).

“Nós dois estamos aqui, numa conversa profissional, mas poderia ser entre amigos ou em família. Conforme o grau de afinidade e o contexto, uma pessoa pode se aproximar ou se afastar da outra. É uma relação espacial que também depende da cultura: durante uma conversa, o inglês se posta diferentemente do brasileiro”, observa a pesquisadora. Mesmo que Edward Hall leve em conta estas diferenças culturais, Luisa Donati pretende se valer da visualidade destes espaços interpessoais estabelecidos por ele para nortear um projeto ainda no papel, mas que já um tem título: “Vestis”.

Como mostram as ilustrações desta página, produzidas pela própria pesquisadora, “Vestis” é uma estrutura formada por diversos aros metálicos, formando uma unidade, mas que permite extensões e contrações de cada aro de maneira independente. Tais movimentos são determinados por sensores e controlados por micromotores, garantindo à estrutura uma forma dinâmica. Toda a movimentação será gerenciada por um aplicativo, a partir de impulsos enviados por participantes remotos e usuários da Web. Pretende-se, assim, através de “Vestis”, formalizar esteticamente estas espacialidades corpóreas, que se expandem e contraem a partir das interações estabelecidas.

“A idéia deste projeto é compreender estas relações espaciais, considerando que hoje a possibilidade de mediação tecnológica transforma o corpo e projeta sua ação, propondo outras atribuições para o significado de distância/proximidade, visibilidade/tactibilidade. Ao experimentar os aros contraindo e expandindo, impedindo ou ampliando os movimentos, reformulando o contorno físico da gente, este espaço de atuação que não é só metafórico passa a ser perceptível. Há pessoas mais contritas, contidas e outras que gesticulam e jogam os braços, e isto diferencia o entendimento deste espaço corpóreo. ‘Vestis’ irá mediar a relação entre as pessoas no espaço – que poderão se aproximar, se afastar ou tocar os aros – e os participantes via internet – que vão ‘existir’ por meio de sons”, explica Luisa Donati.

A arte por baixo
dos computadores ‘vestíveis’

LUIZ SUGIMOTO

Abaixo o "cyberjacke: parceria entre Hewlett Packard Lab e a Bristol university

Eles já estão ganhando formas de óculos com microcâmeras e design futuristas, de plaquetas menos estéticas mas adaptáveis ao pulso, de anel ou caneta ligados a um processador preso ao cinto, de casacos que trazem sensores no avesso. Os “computadores vestíveis” (wearcomp) ainda estão chegando timidamente ao Brasil, mas encontram-se bastante difundidos na Europa e Estados Unidos, segundo Luisa Paraguai Donati, uma engenheira civil que fez cursos de computação e vídeo e se deixou arrastar para o ciberespaço.

Em 1999, ao defender seu mestrado no Instituto de Artes sobre o uso de câmeras na Web, Luisa soube pela primeira vez de Steve Mann e seu “computador vestível”. O ano passado ela passou na Inglaterra, no programa CAiiA-STAR, realizando uma pesquisa em torno dos recentes computadores. Estas interfaces móveis, quando conectadas na Web, podem transmitir e receber textos, imagens, sons, e assim capacitam os usuários a um espaço de informação controlado e operado por eles mesmos.

A reflexão da pesquisadora da Unicamp a respeito das mudanças verificadas no campo da arte com o advento dos wearcomp, resultou em um trabalho que mereceu o Prêmio Itaú Cultural, dentre 340 concorrentes na categoria “Rumos Pesquisa”, criada este ano para estudos da relação entre artes e mídias. “O ‘computador vestível’ gera outra forma de sinergia entre o homem e o computador, pois oferece uma área pessoal de comunicação, onde o usuário estabelece conexões através do próprio corpo por meio do uso de sensores. Quando conectado à Web este dispositivo potencializa a capacidade do usuário de interagir simultaneamente em diferentes espaços físicos remotos e digitais”, afirma Luisa Donati.

A pesquisadora explica que o computador comum (desktop) foi desenvolvido para permanecer “fixo” na mesa, e que o computador de mão (laptop) trouxe certa mobilidade, podendo ser utilizado fora de casa, no carro ou avião. Com o wearcomp esta mobilidade é bem maior, já que a pessoa não precisa mais parar com o que está fazendo para consultá-lo; ele é especialmente elaborado para adaptar-se ao corpo em função das atividades a serem realizadas. “A roupa do astronauta é, acima de tudo, um computador vestível. Ao sair da nave para executar reparos, ele pode ao mesmo tempo enviar imagens, consultar banco de dados e receber orientações da tripulação e da Nasa”, ilustra.

Entre vários exemplos da nova ferramenta comunicacional detalhados em sua pesquisa, Luisa Donati cita uma interface semelhante a um capacete de imersão, que captura imagens de um ambiente em tempo real e auxilia o deficiente visual em suas atividades diárias; um aplicativo específico exacerba as cores das imagens, realçando assim os contornos dos objetos e permitindo que o usuário os identifique sem ajuda. Uma jaqueta dotada de GPS (Global Position System) é capaz de localizar um londrino perdido na cidade e orientá-lo até o pub mais próximo. Outra ferramenta alerta para a proximidade de um carro, por meio de sensores que geram pequenas descargas elétricas no braço de um operário de via pública, sem que este precise desviar a atenção do trabalho. “O wearcomp estende a ação do usuário, abrindo a possibilidade de interferências em outros ambientes físicos remotos e, em algumas situações, ampliando a sua capacidade sensória e perceptiva”, resume a pesquisadora.

Nas artes – O interesse maior de Luisa Donati, contudo, está na aplicação dos “computadores vestíveis” no campo das artes. Ela lembra que a possibilidade de projeção da ação humana já ocorre com a telerobótica, muito presente na telemedicina e que inclusive alçou um robô a Marte. “O que torna um ‘computador vestível’ diferente é o uso de sensores e a possibilidade de incorporar ‘dados’ tanto da pessoa que o utiliza como do meio ambiente em torno. Estes dados podem ser imagem, som, batimentos cardíacos, temperatura, localização geográfica, entre outros. A partir desses dados, diferentes ações e respostas podem ocorrer e gerar outro tipo de compreensão sobre as possibilidades de mediação da ação/presença humana”, observa.

A pesquisadora acrescenta que tudo isto pode ser ‘ampliado’ diante da possibilidade de incorporar elementos digitais na relação com o ‘real’ (augmented reality), e assim transformar a percepção espacial e temporal das pessoas. “O uso desta interface vem possibilitando uma redefinição dos limites pessoais de atuação e percepção de sentidos. Por isso, alguns artistas vêm se valendo desta tecnologia para experimentar a possibilidade de presença mediada em distintos espaços e códigos”, informa.

Como último exemplo, Luisa mostra o “Teleactor”, um projeto na Web onde uma pessoa, “vestindo” um capacete com câmera, passa a ser monitorada remotamente por usuários que decidem para onde ela deve ir e o que fazer. “A sensação é de que se está andando pelo ambiente remoto através da garota, sendo possível reconhecer a existência simultânea de outras pessoas naquele espaço, embora alocadas ‘fisicamente’ em diferentes lugares. Os participantes deste sistema colaboram mais do que competem, ao compartilharem experiências remotas”, finaliza.

Enquanto doutoranda no mesmo Departamento de Multimeios do IA, sob orientação do professor Gilbertto Prado, Luisa Donati tem sua pesquisa inserida em um projeto maior, denominado “wAwRwT”. Este grupo visa realizar trabalhos artísticos na Web e promover a discussão sobre as poéticas tecnológicas. Neste sentido, um projeto pessoal de Luisa, que ainda depende de equipe e de recursos para ser viabilizado, merece o texto à parte publicado nesta página.

 

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP