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A construção da paisagem
 

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Denise Gaspar (à dir.), autora da tese, com a professora Eleonore Setz, do Instituto de Biologia, na Ribeirão Cachoeira: restauração da mata ciliar e corredores de fauna para conectar os fragmentos . (Fotos dos animais: Denise Gaspar. Foto das pesquisadoras: Luis Paulo Silva

Paca, Tatu e onça.
Em plena Campinas

Pesquisadores identificam e fotografam mamíferos
ameaçados de extinção em mata remanescente

RAQUEL DO CARMO SANTOS

Em tempos de más notícias sobre a degradação do meio ambiente, biólogos da Unicamp descobriram um tesouro na fauna da região de Campinas. Foram identificadas 30 espécies de mamíferos não-voadores na mata Ribeirão Cachoeira, localizada no distrito de Sousas - segundo fragmento do município em área depois da Reserva Santa Genebra, em Barão Geraldo. Na lista de espécies encontradas, nos 230 hectares de mata, constam predadores ameaçados de extinção no Estado de São Paulo como a onça-parda, a jaguatirica, o gato-maracajá e o lobo guará. Outros animais sob risco de desaparecimento, como macacos bugios e sauás, além de roedores como a paca, foram fotografados e identificados em um dos últimos fragmentos da floresta semidecídua de São Paulo. Até uma espécie nativa do Nordeste - o sagüi-de-tufos-brancos – fez da mata o seu habitat. Tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc), a mata Ribeirão Cachoeira é de propriedade particular e cerca de 60% de sua extensão é averbada como reserva legal do condomínio de chácaras Colinas do Atibaia.

Mata em Sousas tem 230 hectares

O trabalho de campo inédito realizado por Denise Gaspar entre 2001 e 2003 e orientado pela professora do Instituto de Biologia Eleonore Setz consta da tese de doutorado "Comunidade de mamíferos não-voadores de um fragmento de Floresta Atlântica semidecídua do município de Campinas/SP", recém-apresentada no Instituto de Biologia. A pesquisa mostra que a riqueza das espécies consegue se manter na região, mas são necessárias ações para aumentar a probabilidade de sobrevivência das espécies. "os bichos são freqüentemente atropelados e há presença de cachorros domésticos dentro da mata. Além do perigo de transmissão de doenças, os cães entram na mata para caçar tatus, gambás e veados", afirma a bióloga.

A solução seria recuperar e restaurar as matas ciliares nas áreas de proteção permanentes na região do Ribeirão Cachoeira, e da Área de Proteção Ambiental de Sousas-Joaquim Egídio. A sugestão é que se formem corredores de fauna, conectando os fragmentos, que permitiriam o fluxo gênico, num nível regional. Esta solução seria uma forma de diminuir o risco de extinção. Um dos caminhos apontados por Denise seria a transformação do local em uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN). Desta forma, a mata se tornaria uma unidade de conservação de uso restrito a ser declarada pelo proprietário. Este argumento facilitaria a captação de recursos para o desenvolvimento de um plano de manejo e recuperação.

A professora Eleonore concorda com a proposta e defende maior conscientização da população. Para os pesquisadores, o fragmento florestal é considerado um "oásis" diante da urbanização que a cada dia avança. Mas para alguns dos animais não é suficiente para a sobrevivência. Em uma paisagem de floresta contínua, explica Eleonore, eles poderiam percorrer a floresta sem ter que mudar de ambiente. O que não ocorre em Sousas, onde a paisagem fragmentada descontínua exige que os mamíferos atravessem para outros ambientes. "É importante valorizar o fato de Campinas ter uma área com tamanha riqueza de fauna em um dos poucos remanescentes do Estado de São Paulo". Ela cita outros estudos realizados no Instituto de Biologia sobre a flora e o solo do Ribeirão Cachoeira. "Em breve, teremos um banco de dados sobre a mata, o que poderia suscitar o desenvolvimento de outros projetos", sugere.


Relação de mamíferos silvestres reconhecidos

Supresa no coração da mata

Durante três anos, Denise se embrenhou na mata Ribeirão Cachoeira com visitas freqüentes, na esperança de encontrar algumas espécies de macacos e roedores. Não imaginava, porém, que conseguiria flagrar a presença de predadores de grande porte como as onças e gatos-do-mato. "Em geral, essas espécies precisam de áreas maiores para a sobrevivência. Essa foi a grande surpresa", explica. Por isso, Denise ampliou a perspectiva do trabalho e decidiu conhecer os mamíferos não-voadores de pequeno, médio e grande porte, existentes no local.

O levantamento exigiu da bióloga a utilização de diversos métodos para conseguir comprovar a presença de animais na mata. Em geral, o método da observação é o mais utilizado. Pode-se observar diretamente um exemplar ou analisar indícios indiretos como pegadas, pêlos, fezes, arranhados em troncos, fuçados e vocalizações. Os mamíferos, explica a pesquisadora, possuem modos de vida diversificados. Existem os animais com atividade noturna, já outros são visualizados apenas durante o dia. Os bichos pequenos precisam ser capturados em armadilhas, com a autorização do Ibama. Já os animais terrestres de grande porte são mais difíceis de estudar e reconhecer pois são noturnos e muito tímidos, e sua captura é tarefa difícil. Para os primatas, que são diurnos, é necessário experiência para encontrá-los na mata e também um tempo de habituação, para que se acostumem à presença do pesquisador.

Para a eficiência do trabalho, a bióloga, optou pelas armadilhas fotográficas e de areia, do método captura-marcação-recaptura com armadilhas de metal, além de entrevistas com os moradores do entorno. Nas trilhas formadas na mata, a cada 50 metros foram colocadas caixas de areia contendo iscas de odor e de banana. Ao chegar no local, durante a noite, o animal deixava as marcas de suas patas na areia e no dia seguinte a bióloga reconhecia as pegadas com a ajuda de um guia de campo. No caso das armadilhas fotográficas, elas foram instaladas em três pontos diferentes e acionadas quando um animal atravessava diante dela. A realização dos censos diurnos para a localização das espécies levou a bióloga a percorrer pouco menos de 300 quilômetros em um ano.

Em todos os casos de identificação, Denise alcançou um número considerável de indícios que comprovaram a existência de sete espécies de mamíferos de pequeno porte e 23 de médio e grande porte (veja lista de animais). Deste total, onze do grupo dos carnívoros, quatro primatas e quatro roedores. Entre os mamíferos encontrados, oito espécies são ameaçadas e três provavelmente ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo.

Reprodução- O monitoramento fotográfico somou 8.076 horas. Neste método, o maior número de espécies registradas foi a de carnívoros. Onças-pardas jovens e adultas foram fotografadas em três ocasiões ao longo de 16 meses. Este fato demonstra o uso periódico do ambiente da floresta pela espécie. Outra evidência é a foto tirada em que aparecem um exemplar adulto e outro jovem, que levaria à conclusão que a espécie está se reproduzindo.

Nas observações visuais, o macaco bugio foi encontrado em abundância superior às demais espécies. Foram 103 avistamentos, o que significa uma densidade estimada de 37,1 exemplares por quilômetro quadrado. O gambá e o cachorro-do-mato foram as espécies mais abundantes nas armadilhas de areia. Os animais raros foram a onça-parda, o veado e o tapiti.

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