Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 249 - de 26 de abril a 2 de maio de 2004
Leia nessa edição
Capa
Artigo: estatização de vagas
Cartas
Soja: perigo nos novos fronts
FEA: melhoria de alimentos
Autonomia dos enfermeiros
Bambu: tratamento de esgoto
Empresas juniores
FEM: "cadeira" para crianças
Unibanda: acesso à música
Básico: valoriza graduação
Painel da semana
Unicamp na mídia
Oportunidades
Teses da semana
O quitandeiro
Geoprocessamento
 

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Unibanda democratiza acesso à música


MARIA ALICE DA CRUZ


Faleiros: “Aprender e ensinar”Israel de Souza Calixto não se cansou de tocar trompete ao redor do Parque Ecológico que ajudava a compor a paisagem da Unicamp, em 1984. Mas era um músico solitário na vastidão de uma Universidade repleta de talentos e acabou por render-se ao convite do ex-professor José Coelho de Almeida, do Instituto de Artes da Unicamp, para integrar um projeto de banda comunitária. A platéia ficou sem o som dos campos, mas o trompetista viu surgir, a cada dia, mais parceiros, até ver a Unibanda ganhar os moldes de uma escola livre de música, composta de sete bandas.

Unibanda – nome familiar a uma grande massa que, se não conseguiu se inscrever ou participar, pelo menos já sentiu vontade de um dia integrá-la. O que era um projeto com origem na banda comunitária do professor José Coelho, formada por funcionários e alunos, passou a adotar um programa aberto à comunidade de Campinas. Subordinada ao Núcleo de Integração e Difusão Cultural (Nidic) da Unicamp, a escola hoje atende 500 alunos. “Este ano, soubemos que algumas pessoas dormiram na porta para conseguir se inscrever, mas abrimos somente 150 inscrições”, revela Calixto.

Programa é aberto à comunidade de Campinas

Oliveira: vocação desde criançaA experiência acumulada em 17 anos de atividades da Unibanda, levou o atual coordenador do Nidic, professor Jorge Ruben Biton Tápia, a pensar num projeto de uma escola técnica em música. A proposta, de acordo com o economista, já foi encaminhada à Reitoria. “Já temos, na prática, uma escola livre de música. Agora queremos formalizá-la para torná-la um curso técnico”, explica. De acordo com Tápia, está sendo organizado um grupo de trabalho para discutir a proposta.

Israel alegra-se ao observar o papel de inserção social e profissional assumido pela banda. E não é pouca coisa. O trabalho em grupo empurrou jovens músicos para cursos de graduação e pós-graduação, para o corpo de orquestras e até mesmo para a carreira acadêmica. “É como se fosse uma comunidade comprometida com um mesmo lema: aprender, crescer e ensinar”, diz Manuel Faleiros, mestrando em música pela Unicamp, recentemente aprovado em concurso público para atuar como professor na Unibanda. “Pretendo desenvolver um bom projeto com meus 30 alunos de saxofone do grupo.” Já estabilizado na carreira de músico, ele quer agora retribuir à altura tudo o que recebeu da Unibanda.

Todos os que se estabilizaram como musicistas hoje são instrutores ou professores dentro do trabalho. O próprio coordenador da Favoretto: “elevação espiritual”Unibanda, Israel Calixto, entrou na Unicamp para trabalhar como mensageiro, na área administrativa. Nascido em família de músicos – a mãe foi regente de coral e o pai ensinou as primeiras notas no trompete –, ele atribui à experiência na Unibanda o fato de ser coordenador pedagógico e professor de teoria musical e prática de Banda na Orquestra Filarmônica Nazareno de Campinas e também as participações em big bands, em gravações de CDs sacros e a atuação na Big Band Soul Brass. “É uma banda mista. Tem 19 componentes vindos de diferentes manifestações religiosas. Para mim, a música é universal”, informa.

Calixto: “A música é universal”Com apenas 24 anos, o professor Manuel Faleiros já trabalhou duro como integrante de várias big bands, como a Canavial (Unicamp), o grupo Comboio e até mesmo a da Unibanda. O primeiro concerto foi realizado aos 8 anos, com a orquestra de um conservatório de Santo André, mas na sua história com a música ele já tocou em bares e restaurantes de Campinas e São Paulo. Participou também da trilha sonora do musical O Beijo da Mulher Aranha, gravada em uma sala da Unibanda. Atualmente, Faleiros toca, todas as segundas-feiras, no Zerró Big Band Project.

Os jovens músicos são unânimes em dizer o quanto o envolvimento com a banda foi importante para o vestibular. Mais novo calouro da turma, Júlio José de Oliveira Neto foi aprovado no vestibular 2004 para o curso de música. Os estudos de clarineta tiveram início há apenas dois anos, no grupo de iniciantes da Unibanda, com os professores Israel e Dagoberto. Na fase pré-vestibular, teve aulas também com o músico Nivaldo Orsi, músico da Orquestra Sinfônica da Unicamp e professor da Unibanda. “O trabalho na Unibanda foi fundamental para eu ser aprovado”, diz.

Reis: professor de clarinetaOriundo de escola pública, Júlio trouxe para a Unicamp conhecimentos de teoria, leitura rítmica, mas nunca havia tocado clarineta. O gosto pelas notas musicais foi observado pela mãe, quando Júlio tinha apenas 3 anos de idade.

Musicais, big bands, quartetos, quintetos, orquestras, escolas de música, shows de rock são os frutos colhidos por muitos profissionais e ex-integrantes da Unibanda. Domingos Ramos dos Reis já era músico evangélico quando passou no concurso para segurança na Unicamp. Como todo apaixonado por música, aproveitou a oferta de um curso de extensão pelo IA, em 1989. Abraçou a causa até se transferir para a Unibanda como arquivista musical, em 1993, dois anos após se somar aos integrantes do projeto. Continuou os estudos em clarineta até 2002, quando se formou no Conservatório do Estado em Tatuí. Agora, no segundo ano do curso superior em música da Faculdade Mozarteum (Famosp), em São Paulo, ele é um dos professores de clarineta na Unibanda.

Professor Tápia: escola livreDagoberto Favoretto Júnior, professor voluntário de Teoria Musical e clarinetista na Unibanda, desde criança se emocionou com a harmonia das notas musicais. Admirador das obras da época de ouro, representada por Ismael Silva, Noel Rosa, Ari Barroso e outros, ele encontrou na Unicamp, aos 50 anos, a oportunidade de executá-las como um grande músico que é. O “caso” com o projeto teve início quando ele ainda era funcionário da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), onde aposentou-se em 1997. Aos 67 anos, ele admite que fazer música é fácil, mas a dedicação aos estudos faz com que a música não seja só uma profissão, mas “uma elevação espiritual”. “Na época, tínhamos dificuldades, pois as escolas eram todas pagas”, explica. Quando precisa definir a importância da música, Favoretto Júnior vale-se da frase do regente britânico de origem húngara Sir Georg Solti: “A música é a única arte que pode salvar a humanidade”.

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