Edição nº 529

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 11 de junho de 2012 a 17 de junho de 2012 – ANO 2012 – Nº 529

O que significam e para que servem
os rankings internacionais


Com a divulgação de dois rankings internacionais (THE  e QS ) para universidades fundadas nos últimos 50 anos, renova-se o debate sobre o que essas listas significam, sobre sua validade e sua utilidade. Neles só aparecem a Unicamp (44º no THE1 e 22º no QS2) e a Unesp (99º no THE), entre todas as instituições brasileiras ou da América Latina. Inegavelmente, apesar das restrições e críticas que dirigentes universitários, acadêmicos e especialistas em educação superior ou em políticas públicas apresentam, os rankings estão na pauta de praticamente todos esses grupos, e de órgãos de governo.

Como coloca Ellen Hazelkorn3, os rankings afetam significativamente a percepção sobre instituições, anteriormente calcada na experiência local, regional ou nacional, “protegida pela história, missão e governança”. Assim, uma instituição, considerada muito importante e desempenhando um papel relevante para sua região ou país, se vê, subitamente, comparada a instituições do mundo todo e, possivelmente, nem chega a constar das listas das 100, 200 ou 500 “melhores” instituições em nível mundial.

Mas, afinal, o que dizem os rankings? A resposta é muito simples, os escores utilizados pelos rankings são resultado da média ponderada de índices derivados de indicadores de desempenho bem conhecidos: número de alunos, relação alunos/docente, demanda em processos seletivos, número de artigos publicados, citações, número de teses produzidas, enquetes sobre prestígio, financiamento para pesquisa, satisfação de estudantes, prêmios recebidos por seus pesquisadores ou ex-alunos (Nobel, Medalha Fields), prestação de serviços, transferência de tecnologia (patentes e licenciamentos), grau de internacionalização e outros. Esses são, essencialmente, os itens que qualquer universidade usa nas suas brochuras de divulgação. Pesquisadores utilizam alguns deles ao avaliar um programa de PG ou um projeto sobre o qual deve dar parecer. O Sinaes, sistema utilizado pelo MEC para avaliar programas e instituições, utiliza dados semelhantes das universidades para criar os indicadores do sistema. Portanto, o interesse que os rankings despertam não deveria ser considerado algo estranho ao mundo acadêmico ou ao ambiente de avaliações institucionais.

Uma análise mais detalhada mostrará que, em geral, indicadores de desempenho na pesquisa são bastante valorizados, depois vem ensino (graduação e pós-graduação); e menor impacto têm serviços à comunidade e transferência de tecnologia. O THE usa 13 indicadores de desempenho, agrupados em cinco áreas (com os pesos): Ensino – o ambiente de aprendizagem (30%); Pesquisa – volume, financiamento e reputação (30%); Citações – influência da pesquisa (30%), receita de licenciamentos – inovação (2,5%); e Internacionalização – docentes, alunos e funcionários (7,5%). Nota-se que os segundo e terceiro índices são sobre pesquisa, compondo 60% do total da nota da instituição. E o que se considera pesquisa está diretamente atrelado ao sistema de divulgação das pesquisas, em periódicos e livros que circulam internacionalmente. O sistema do QS é semelhante em relação aos temas, porém difere no sentido de usar pesquisas sobre reputação de forma mais significativa, incluindo uma com empregadores.

Sendo assim, não causa espanto que o Brasil e a América Latina tenham baixa performance nessas avaliações, pois boa parte da sua produção cultural e científica se dá na língua local, sendo baixa sua chance de ser lida ou citada internacionalmente, já que a maioria dos periódicos mais qualificados publica majoritariamente em língua inglesa. Esse ponto, por seu intrínseco viés em favor de países de língua inglesa, é usado para desqualificar os resultados dos rankings. No entanto, a avaliação realizada pela Capes, dos cursos de pós-graduação, segue lógica parecida: parte significativa da avaliação vem da análise da produção científica publicada em periódicos que são classificados pela própria Capes (sistema Qualis), com base em índices de impacto desses periódicos, que nada mais são do que indicadores gerados a partir do número de citações dos artigos ali publicados.

É conhecido o debate sobre como se dá essa classificação, mas nem por isso se desconsidera a avaliação realizada pela Capes. Universidades utilizam o conceito Capes em suas políticas internas e na divulgação de seus programas de pós-graduação. Pesquisadores fazem o mesmo para convencer órgãos financiadores de que vale a pena investir em seus projetos de pesquisa. E, apesar das críticas, muitos especialistas consideram que a criação da avaliação da Capes foi fundamental para que a pós-graduação brasileira tenha chegado ao nível atual de boa qualidade, demonstrada pela relação direta entre o crescimento do número de teses e de artigos publicados em periódicos internacionais indexados.

Assim, podemos concluir esse breve comentário sobre rankings com algumas observações. 1) Os rankings utilizam indicadores de desempenho próximos daquilo que acadêmicos, instituições e governos vêm utilizando há muito tempo, inclusive no Brasil; 2) esses indicadores, lidos e interpretados apropriadamente, ajudam a entender em que direção uma instituição ou um sistema de ES está indo, onde é mais deficiente, onde se poderia atuar para aprimorá-lo (naquilo que se considere relevante); 3) a Unicamp, no cenário nacional e da América Latina (assim como a USP e a Unesp), é uma das principais referências e modelo de instituição e está bem posicionada internacionalmente, considerando-se que é uma instituição bastante jovem; 4) o Brasil e a América Latina têm um longo caminho a percorrer; talvez entender como o Reino Unido, Austrália, Hong Kong e a Coreia têm trabalhado o assunto seja um bom começo; 5) para isso, os rankings, com suas perspectivas internacional e comparada, podem ser bastante relevantes.


1 Times Higher Education https://europe.nxtbook.com/nxteu/tsl/100under50/index.php
2 Quacquarelli Symonds https://www.topuniversities.com/university-rankings/top-50-under-50
3 E. Hazelkorn. Os rankings e a batalha por excelência de classe mundial: estratégias institucionais e escolhas políticas. Ensino Superior Unicamp, n.1, pp. 43-64, Unicamp, 2010. https://www.revistaennosuperior.gr.unicamp.br/noticia.php?id=5