Edição nº 529

Nesta Edição

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12

Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 11 de junho de 2012 a 17 de junho de 2012 – ANO 2012 – Nº 529

À frente do seu tempo

Ações inovadoras gestadas na Universidade servem de modelo
para outras instituições e inspiram políticas públicas

 

Desde sua fundação, em 1966, a Unicamp tem desenvolvido medidas e projetos que fizeram dela uma universidade de excelência. Em muitos casos, a Universidade antecipou-se às políticas públicas para enfrentar desafios no campo da educação, da pesquisa e da extensão de forma propositiva. Muitas destas iniciativas serviram como modelo para outras instituições, tanto no plano público como privado.

Em 1982, na gestão do então reitor José Aristodemo Pinotti, foi implementado um amplo processo de institucionalização interna da Universidade, que até então funcionava com estatutos emprestados da USP. O processo, que contou com ampla participação da comunidade, teve continuidade na gestão do economista Paulo Renato Costa Souza, reitor entre 1986 e 1990. Sua gestão incluiu a criação do Conselho Universitário como órgão máximo da Universidade, a criação das pró-reitorias de Graduação, de Pesquisa, de Extensão, de Desenvolvimento Universitário e de Pós-Graduação; a inauguração do Hospital de Clínicas; e a implantação do quadro de carreira dos servidores.

Vestibular

Em meio ao processo de institucionalização, a Unicamp introduziu uma significativa mudança no processo de seleção dos estudantes pelo vestibular. Numa iniciativa inédita, desvinculou-se da Fuvest, aboliu os testes de múltipla escolha e passou a valorizar as questões dissertativas. O principal argumento para a criação de um modelo próprio era que os vestibulares convencionais tendiam a discriminar as classes de menor poder aquisitivo, tornando o seu acesso ao estudo universitário mais difícil.

Segundo o professor Jocimar Archangelo, um dos idealizadores do novo modelo e o primeiro coordenador da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), mais do que a memorização dos conteúdos, a proposta estabeleceu a necessidade de promover, no segundo grau, o desenvolvimento de uma série de habilidades, entre as quais a capacidade de expressão e o raciocínio. “Foi uma mudança muito significativa, corajosa”, afirma o professor.

Em 2009, após um amplo processo de revisão, a Unicamp voltaria a anunciar mudanças no seu vestibular, desta vez substituindo as questões dissertativas pelas de múltipla escolha, além de ampliar de um para três os textos referentes à redação. Segundo os autores da mudança, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e com o advento das novas orientações dos parâmetros curriculares, ocorreu a reestruturação da educação básica, impondo-se a necessidade de adequar o Vestibular a essa nova realidade. De acordo com o professor Maurício Kleinke, atual coordenador executivo da Comvest, a principal característica deste vestibular é que ele se preocupa com leitura e interpretação. “O objetivo é buscar candidatos capazes de se expressar”, diz.

Projeto Qualidade

Em 1990, na busca por uma fórmula para solucionar o processo de formação de desenvolvimento acadêmico dos docentes, foi criado o Projeto Qualidade. Elaborado para promover a qualificação acadêmica do corpo docente, a medida constituiu um divisor de águas neste aspecto. “À época da criação do Projeto Qualidade, a Unicamp tinha perto de um terço de seus professores sem doutoramento, situação que merecia uma ação efetiva por parte da Universidade para ser melhorada”, recorda o ex-reitor Carlos Vogt, em cuja gestão o projeto foi elaborado e aprovado. Passados 22 anos, o contingente de professores com doutorado chega a 98%. E os outros 2% estão a caminho.

Segundo Vogt, havia um contexto específico a ser considerado naquele instante. De um lado, crescia a exigência por parte do setor produtivo por profissionais com curso de pós-graduação. De outro, a Unicamp carecia de mais docentes titulados para ministrar os programas que qualificariam essas pessoas. A medida gerou efeitos imediatos. Primeiramente, elevou o contingente de docentes envolvidos nas atividades de pós-graduação, o que provocou consequentemente o crescimento do número e da qualidade dos programas oferecidos neste nível de ensino.

A segunda influência, consequência da ampliação do contingente de docentes titulados e atuantes nos programas, foi o vertiginoso aumento do número de alunos matriculados e das teses e dissertações produzidas. “Seguramente, o Projeto Qualidade foi essencial para conduzir a pós-graduação da Unicamp à condição de liderança acadêmica que ela exerce hoje no cenário nacional e mesmo internacional”, analisa o pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita Neto. Em 2011, foram defendidas na Universidade 1.354 dissertações de mestrado e 818 teses de doutorado.

Inovação

A Unicamp também é pioneira no meio universitário brasileiro no que diz respeito à inovação tecnológica. Inaugurada em 2003, a Agência de Inovação Inova Unicamp  – primeira do gênero no País – nasceu para ser uma porta de entrada para as demandas tecnológicas e de serviços do empresariado e do setor público, com ênfase para as chamadas parcerias estratégicas. O objetivo é estabelecer redes de cooperação com a sociedade, capazes de incrementar as atividades de ensino e pesquisa no interior da Universidade, além de estimular e orientar o registro de patentes por pesquisadores da Unicamp, ampliando assim a liderança da universidade nessa área. Nesse contexto, a Inova vem obtendo resultados expressivos:
Com o apoio da Inova, a Unicamp é a universidade brasileira com o maior número de pedidos de patentes depositados entre 2004 e 2008, segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Com uma média de 55 pedidos de patentes por ano, a Universidade possui 643 pedidos de patentes vigentes, o que lhe garante a segunda posição entre os maiores detentores de patentes em todo o país, atrás apenas da Petrobras. A Unicamp também é uma das universidades brasileiras mais bem sucedidas em número de licenciamentos de tecnologias. Entre os anos de 2004 e 2011, foram fechados 80 contratos de licenciamento de tecnologias desenvolvidas na Unicamp para empresas de diversos Estados brasileiros. Desse total, dez foram assinados em 2011.

Antes da Inova, a Unicamp já havia criado, em 1990, na gestão de Vogt, o Escritório de Transferência de Tecnologia (Cenapad). Com o objetivo de diminuir a distância entre a instituição e o setor produtivo em geral. “Desde o início, a Universidade tinha vocação para a interação com o setor produtivo”, lembra o ex-reitor. “Esta foi uma característica que eu procurei acentuar, mas que já constava nos traços da criação da instituição, pelo professor Zeferino Vaz”, afirma.

 

 

PAAIS

Em 2004, se antecipando à questão das cotas, a Unicamp instituiu o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS). Segundo o professor Renato Pedrosa, do Programa de Pós-graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT/IG) e Coordenador do Grupo de Estudos em Educação Superior da Unicamp, o PAAIS é um modelo de inclusão social que valoriza a parte acadêmica. “Trata-se de uma iniciativa que surgiu da percepção de que os estudantes das escolas públicas, apesar de não terem completado sua formação, têm potencial”, diz.

O programa visa estimular o ingresso de estudantes da rede pública na Universidade, ao mesmo tempo em que estimula a diversidade étnica e cultural. O aspecto mais importante do PAAIS é a adição de pontos à nota final dos candidatos no vestibular. Podem participar os alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. Os estudantes que atenderem ao requisito e optarem pelo PAAIS recebem 30 pontos a mais na nota final, ou seja, após a segunda fase. Candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas terão, além dos 30 pontos adicionais, mais 10 pontos acrescidos à nota final.

ProFIS

Em 2010, a Unicamp deu início a mais uma inovação, o ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar Superior), iniciativa inédita no país, que criou 120 novas vagas de graduação destinadas aos melhores alunos das 96 escolas públicas de ensino médio de Campinas. Os ingressantes são selecionados segundo o desempenho obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicado pelo Ministério da Educação. O objetivo da iniciativa é oferecer a esses jovens uma formação sólida e abrangente.

Segundo o professor Francisco Magalhães Gomes, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC), o ProFIS é um projeto que inova porque proporciona, além da inclusão social, a formação geral dos alunos, que atualmente está muito difundida. Ele analisa que, em geral, os cursos de graduação brasileiros propiciam uma formação excessivamente técnica e criam dificuldades para um grande número de formandos que não encontram empregos em suas áreas de formação.

“Mesmo os que trabalham na área em que se graduaram precisam, cada vez mais, atuar e interagir com pessoas de outras especialidades. Um currículo de formação geral contribui para que os profissionais transitem com mais facilidade entre áreas e que façam análises levando em conta questões que fogem dos tópicos específicos de sua formação”, diz.

“Trata-se de um programa que reúne mérito acadêmico e inclusão social, que é inédito no Brasil”, diz o pró-reitor de Graduação, Marcelo Knobel, um dos mentores do programa. “O ProFIS visa oferecer aos estudantes uma visão geral do conhecimento universitário, antes de se decidirem por uma carreira específica. Assim, o programa prevê que, durante dois anos, os estudantes cursarão disciplinas de caráter amplo, em todas as áreas do conhecimento”, afirma Knobel.

Professor Visitante

Resgatando sua tradição de receber profissionais experientes do exterior, em 2009 a Unicamp deu início ao Programa Professor Visitante para atrair pesquisadores brasileiros ou estrangeiros com experiência internacional. A medida visa incrementar o grau de internacionalização da Unicamp.

Para viabilizar o programa, um grupo de trabalho coordenado pela PRP publicou, de outubro de 2009 a abril de 2010, cinco anúncios de oportunidades de emprego na Unicamp em revistas de grande importância e circulação no meio científico, como Nature e Science. Posteriormente, após consulta aos diretores de unidades, também foram publicados anúncios nas versões on-line da Chemical & Engineering News (Química), Communications of the ACM (Ciência e Engenharia da Computação), Physics Today (Física) e Nature Materials (Engenharia de Materiais).

 Os estrangeiros poderão ficar um ou dois anos na Unicamp. Se a unidade mantiver o interesse pelo professor após esse período, deverá abrir concurso na área de pesquisa do docente, para dar a ele – e a outros que se interessem – a oportunidade de se fixar na Universidade. Até agora, oito pesquisadores já passaram a atuar na Unicamp, distribuídos pela FCM, IFGW, IMECC, IG e FT. Até agosto, deverão chegar mais três.