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Jornal da Unicamp - 20 a 26 de maio de 2002
Agora semanal

E o brasileiro, como vai?

Como estão vivendo os brasileiros? Suas famílias, a saúde, as condições sanitárias, os movimentos migratórios, as desigualdades sociais (pobres, negros, mulheres, idosos), os impactos ambientais do crescimento populacional, a saúde reprodutiva, a sexualidade? Respostas a essas questões vêm sendo oferecidas há vinte anos pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, que nesse período se tornou um dos dois grandes centros de referência em demografia no País.

Criado em 25 de maio de 1982, o Nepo comemora a data com dois eventos: uma palestra neste dia 22 (quarta-feira), com o presidente do IBGE Sergio Besserman Vianna; e uma conferência internacional em 12 e 13 de agosto, colocando em discussão os dados do livro População e Ambiente no Brasil, organizado por pesquisadores do núcleo – em conjunto com a Comissão Nacional de População e Desenvolvimento e Associação Brasileira de Estudos Populacionais – para ser distribuído à delegação oficial brasileira presente à Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (ou Rio + 10), marcada para Johannesburgo, entre 26 de agosto e 4 de setembro próximos.

“Crescemos muito”, afirma a professora Maria Coleta de Oliveira, coordenadora do Nepo de 1994 a 1998. Ela se lembra do pequeno grupo inicial criado pela professora Elza Berquó, que coordenou o Nepo por 12 anos, e na época era aposentada na USP pelo AI-5, e que se cercou de Daniel Hogan, professor de sociologia na Unicamp, Neide Patarra, que juntamente com Maria Coleta veio da área de demografia e urbanização da FAU, Andréia Loyola, antropóloga da PUC de São Paulo, e Maria Isabel Baltar, então doutoranda em ciência política pela USP.

O primeiro projeto, financiado pela Finep, foi um estudo das transformações sociais e mudanças demográficas em São Paulo, recuperando a história do Estado desde o século 19 – período sobre o qual havia insuficiência de dados demográficos – até chegar aos tempos atuais. “Buscamos bolsas de iniciação científica junto a agências de fomento e começamos a formar um grupo com alunos de ciências humanas e de matemática e estatística. Nos tornamos um centro formador de mão de obra qualificada para a pesquisa”, afirma Maria Coleta.

Nos últimos dez anos, dois grandes projetos, desenvolvidos com fontes de financiamento variadas, marcaram a produção do Nepo: o Programa de Saúde Reprodutiva e Sexualidade – sob a coordenação de Elza Berquó –, que mobilizou boa parte de seus pesquisadores em atividades de treinamento e de pesquisa ao longo do período, fundamentalmente com recursos da Fundação Ford, Fundação McArthur e da Organização Mundial de Saúde; e o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), na área de redistribuição da população e meio ambiente, dirigido pelo professor Daniel Hogan, ex-coordenador do Nepo, que também exigiu grande volume de recursos e vem produzindo resultados comparativos acerca do Estado de São Paulo com a região Centro-Oeste. “Ao lado disso, continuamos a fazer pesquisas sobre família, mortalidade, demografia histórica, gênero e sexualidade...”, acrescenta Maria Coleta.

Ensino – A formação de vários centros e núcleos foi um projeto do reitor Aristodemo Pinotti, com a idéia de incentivar a produção científica interdisciplinar na Unicamp. No caso do Nepo, havia o interesse de introduzir a disciplina de demografia, que existia de forma incipiente na Universidade.

Quando, em 83, o IFCH decidiu criar o doutorado em ciências sociais com uma embocadura interdisciplinar, o Nepo participou desde o início da implantação, responsabilizando-se até hoje por uma área de concentração nesta disciplina, a de estudos da população. “Orientamos muitas teses, formamos muita gente nesse período”, observa a pesquisadora.

Maria Coleta explica que o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, a outra referência em demografia no Brasil, adota um enfoque mais econômico, ao passo que o Nepo tem um viés das ciências sociais. Dentro desta preocupação interdisciplinar, um sociólogo ou antropólogo, por exemplo, vem buscar especialização em matemática demográfica. “Com a criação do doutorado em demografia em 1993, passamos a atrair também egressos da estatística. E estamos programando o início, para o próximo ano, do curso de mestrado, completando assim as alternativas de formação em população na Unicamp”, informa.

Reciclagem – Outra atividade importante no Nepo é o treinamento em pesquisa e reciclagem. São programas especiais e intensivos de estudos. Somente em saúde reprodutiva e sexualidade, foram nove programas no período 1992/2000, de três semanas, para pessoas do Brasil inteiro, principalmente de organizações não-governamentais e órgãos da administração pública. Com recursos do Consórcio Latino-americano de Programas em Saúde Reprodutiva e Sexualidade, foi possível propiciar a participação de pessoas da América Latina e Caribe. No 8º Programa de Estudos, contou-se também com a presença de participantes de países africanos.

Maria Coleta afirma que os cursos de treinamento e reciclagem constituem um apoio do Nepo ao esforço de organização da sociedade, à medida que oferece a pessoas de fora da academia oportunidade de treinamento especializado. “A gente encontra ex-participantes dos programas do Nepo dizendo: ‘estamos organizando um nepinho em saúde reprodutiva, ou um nepinho em migração...’. Mesmo que em menor escala, estamos servindo de modelo. Queremos formar agentes multiplicadores e temos conseguido”.

Centro reúne 6 mil títulos
Nesses vinte anos de existência, o Nepo agregou inúmeros pesquisadores. Uns já se aposentaram e jovens estão sendo incorporados, numa demonstração de grande dinamismo. “Mas a gente se ressente da impossibilidade de contratar mais pessoas, perdemos muitas que ajudamos a formar porque não pudemos absorvê-las”, lamenta a professora Maria Coleta de Oliveira.

Para ampliar seus quadros – não apenas via pesquisa, mas também via ensino – o Nepo conta com o reconhecimento nacional e internacional conquistado por seus pesquisadores e a conseqüente confiança das agências de fomento para liberação de bolsas e financiamentos. “Tudo isso com muito esforço, pois os núcleos recebem pouca verba da administração da Universidade, têm de se virar com recursos extra-orçamentários. Desde sua criação, o Nepo teve um único microcomputador comprado pela administração. Posso dizer que foram vinte anos bem vividos”, brinca Maria Coleta.

Preocupada em oferecer números mais precisos, a professora recorre ao último relatório trienal de atividades, que apontava em 1999 um corpo de 16 pesquisadores em tempo integral, três pesquisadores associados (de outras instituições, mas que participam de projetos do Nepo), quatro estagiários, 62 bolsistas (de iniciação científica ou de apoio técnico) e sete alunos de doutorado. “Nesse triênio, 37% dos recursos foram orçamentários (basicamente para salários) e 63% extra-orçamentários”.

No mesmo período, segundo o relatório, 97% dos equipamentos de informática foram adquiridos com recursos próprios. Cada pesquisador possui um microcomputador de última geração em sua sala, com integração em rede. O aparato inclui mesa digitalizadora e sistema de servidores dedicados. “Os equipamentos precisam ser parrudos, já que trabalhamos com censos. E rodamos tudo aqui, inclusive trabalhos de outras unidades”, ressalta Maria Coleta.

O Centro de Documentação reúne aproximadamente 6.000 títulos. São publicações e relatórios de pesquisa que estão à disposição do público pela internet. Todo o material para utilização futura é microfilmado.

Esta rede foi praticamente montada com recursos da Fapesp, que possui projetos de apoio a infraestrutura para pesquisa. “Concorremos em todos e ganhamos verbas em todos”, orgulha-se a professora. “Se um doutorando precisa fazer uma pesquisa nesta área, a tendência é que faça dentro do Nepo. Ele contaria com laboratórios na física ou biologia, mas isso é difícil de encontrar em ciências humanas. Somos praticamente um laboratório”, finaliza.