Saúde
Tais cuidados, quais cuidadores
Livro orienta responsáveis pelo tratamento
de parente vitimado por doença crônica
Maria Alice da Cruz
São muitas as surpresas para um leigo que, de repente, por causa de um acidente de qualquer origem, vê-se responsável pela cura ou pelo tratamento de um parente vítima de uma doença crônica. Um misto de sentimentos surpreende o acompanhante que até então se sentia capaz de doar a vida pelo próximo. São muitas as inquietações mencionadas pelo médico Jamiro da Silva Wanderley, do Hospital das Clínicas da Unicamp (HC), um dos autores do livro Orientações para cuidadores informais na assistência domiciliar, lançado na 17ª Bienal do Livro de São Paulo, em 1º de maio, pela Editora da Unicamp.
A publicação resulta de uma série de cursos promovidos por uma equipe multidisciplinar da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a fim de nortear o dia-a-dia de familiares cuidadores, acompanhantes de casa, profissionais de saúde e entidades filantrópicas. Segundo Wanderley, a expectativa é de que a publicação atinja um público mais abrangente que o já conquistado nos cursos.
A primeira preocupação experimentada pelo novo cuidador, segundo Wanderley, está ligada à subestima por sentir-se incapaz de cumprir seu papel. De um modo geral, a pessoa que passa, de repente, da condição de parente à condição de cuidador nem sempre está preparada para enfrentar tal situação. Todas essas condições impostas pela natureza levaram os organizadores Jamiro da Silva Wanderley, Ernesta Lopes Ferreira Dias e Roberto Teixeira Mendes reunir textos de profissionais com vasta experiência para a publicação.
O livro pode ser um companheiro a acompanhantes domiciliares que pretendem saber mais sobre a doença de seu enfermo. Os textos oferecem desde informações legislativas e organizativas até lições de prevenção primária – que evitam doenças – e secundária – que envolvem cuidados especiais para impedir o agravamento do estado de saúde do doente. As informações são prestadas ao leitor por meio de uma linguagem simples, de fácil acesso. Na maioria dos textos, os procedimentos são expostos passo a passo, como se fosse um manual de cuidados especiais.
Além de Wanderley, participam da edição as assistentes sociais Mariângela Ceschini, Patrícia Brant Mourão Teixeira Mendes e Ernesta Lopes Ferreira Dias; o psiquiatra Neury José Botega; o médico fisiatra Jairo Sérgio Szrajer, a mestre em fisioterapia Maria Ângela Gonçalves de Oliveira Ribeiro e o pediatra Roberto Teixeira Mendes.
Mulheres são maioria
Pesquisa publicada pela assistente social Patrícia Brant Mourão Teixeira Mendes em Orientações para cuidadores informais na assistência domiciliar demonstra que 92,9% dos curadores são do sexo feminino, sendo que 39,2% são esposas, seguidas pelas filhas, com 31,3%. Patrícia afirma que, culturalmente, as mulheres assumem o papel de acompanhante como mais uma tarefa pertinente à esfera doméstica. O texto de Patrícia permite refletir sobre o perfil do cuidador.
A realidade muitas vezes beira a irritação. Principalmente nos casos em que o doente pode realizar algumas coisas sozinho. Segundo Wanderley, muitos assistidos acabam cobrando atenção do acompanhante quando ele se ausenta. Na opinião do médico, é necessário, em alguns casos, que o cuidador reserve um tempo para si. Para isso, seria necessário o envolvimento de outras pessoas na assistência ao doente. "É bom que haja um revezamento entre os familiares para não sobrecarregar uma só pessoa", recomenda o médico. Em alguns casos, segundo Wanderley, os curadores precisam de um acompanhamento psicológico. "Tem época que gostaria de fazer algo por mim. Tem hora que dá vontade de fazer alguma coisa para aliviar", revela o curador que preferiu não se identificar.
O Curso para Cuidadores está em sua 6ª edição, a ser realizada nos dias 20 e 21 de junho, no Anfiteatro 1 das salas de aula da FCM. Estão disponíveis 150 vagas. A inscrição é gratuita e pode ser feita na Secretaria do Serviço Social do HC, no Departamento de Medicina Interna, por meio dos telefones (19) 3788-7250, 3788-7460 e 3788-8014.
SERVIÇO
Orientações para cuidadores informais na assistência domicilar
Organizadores:
Enesta Lopes Ferreira Dias, Jamiro da Silva Wanderley e Roberto Teixeira mendes
142 páginas -- R$ 12,00
Editora da Unicamp
Telefones: 3788-7783/3788-7786
Lançamento
Educação não-formal para leigos
A educação não-formal tornou-se parte do currículo de alunos da Faculdade de Educação e integra as 316 páginas de um livro publicado pela Editora da Unicamp. Educação não-formal: cenários da criação contém artigos de uma gama de profissionais que na sua trajetória contribuem como pesquisadores, observadores e idealizadores de projetos de educação informal. O objetivo é orientar a demanda de voluntários que se dispõem a desenvolver ou participar de projetos sociais preenchendo o tempo ocioso de idosos e, principalmente, de crianças e adolescentes filhos de trabalhadores.
A preocupação dos autores ao decidir publicar o livro era de que grande parte de pessoas que se dedicam à área não são pedagogos. Daí, a necessidade de orientar os voluntários e estimular estudantes universitários da área a ocuparem esse espaço. Na Unicamp, em grande proporção, a educação não-formal é objeto de estudos do estágio obrigatório, em atenção a uma reivindicação feita pelos próprios alunos para poder realizar projetos na área informal da educação. Ao tomarem contato com os projetos e as aulas da professora da Faculdade de Educação e coordenadora do Centro de Memória da Unicamp Olga von Simson, uma das organizadoras da coletânea, alunos da disciplina passaram a conhecer e analisar instituições que se identificavam como espaço de educação não-formal. "Quando íamos ver, eram cercas altas, que envolviam um espaço de reforço escolar", comenta Olga.
A rua certamente não é o lugar ideal para abrigar estudantes filhos de trabalhadores no período em que não estão na escola. Mas é preciso ter cuidado para não extrapolar o limite da criança e do adolescente obrigando-os a participar de projetos criados na verdade para ser extensão do que se aprende na educação formal. Jogos e brincadeiras podem ser uma boa opção, acredita Olga von Simson. "Nenhuma criança tolera mais de 8 horas de aula", avalia. É neste contexto que surgem os verdadeiros projetos de educação não formal, em respeito ao direito da criança em vivenciar o lúdico, em se educar brincando, jogando, aprendendo música, informática, a usar o corpo, entre outras muitas opções que existem para educar. "É no brinquedo que a criança se desenvolve para ser bem alfabetizada", adverte. "O trabalho da criança é o brinquedo", reforça.
O verdadeiro espaço não-formal, na visão de Olga, deve permitir ao participante discutir questões que se colocam para eles em sua vida cotidiana. Esta realidade foi experimentada no Projeto Sol, um dos programas destacados por Olga, criado e mantido pela Prefeitura de Paulínia até 1999. Na arena, eram realizadas, no início de cada encontro, uma roda de conversa, um momento em que crianças e adolescentes, durante uma hora e meia, tinham a oportunidade de expor e discutir todas os problemas ou atividades realizadas no dia anterior, desde programas TV a rotina escolar. Depois das discussões, os participantes eram liberados para se valer de todos os equipamentos para brincar, descobrir e, de fato, viver a infância.
Olga dedica-se à orientação de trabalhos que atendam crianças e adolescentes estudantes em situação de risco – seja em atraso escolar em relação à idade ou que sofreram muitas reprovações – pertencentes a classes populares. A inspiração ela encontrou na iniciativa de grêmios de escolas de samba da cidade de São Paulo, onde desenvolveu projeto de mestrado. No período em que não havia ensaios, os dirigentes utilizavam suas quadras para oferecer, aos filhos de componentes, oficinas de artesanato, artes plásticas e percussão.
Para Olga von Simson, o espaço de educação não-formal tem condições de suprir uma perda muito comum a crianças de classes populares, levadas a participar precocemente do orçamento familiar: a perda da infância. E ela explica: "Da infância como tempo de brincadeira, o tempo do sonho, o tempo do desenvolvimento, da imaginação e tudo o mais. (M. A,C.)
SERVIÇO
Educação não-formal - cenários da criação
Organizadoras:
Olga Rodrigues de Moraes von Simson, Margareth Brandini e Renata Sieiro Fernandes
316 páginas - R$ 39,00
Editora da Unicamp
Telefones: 3788-7783/3788-7786
Centro de Memória Unicamp
(19) 3289-3441/3788-7846
