| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 349 - 26 de fevereiro a 4 de março de 2007
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Metodologia desenvolvida por pesquisadores do IQ detecta adulteração de produtos

O lado 'sujo' dos produtos de limpeza

Os pesquisadores Sérgio Saraiva  (à esquerda) e Rodrigo Catharino: substâncias podem ser altamente tóxicas  (Fotos: Antônio Scarpinetti) Uma metodologia para identificar produtos de limpeza adulterados, que apresenta resultados rápidos e precisos, acaba de ser desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. Em apenas cinco minutos, o método aponta não apenas se a amostra foi pirateada, mas que substâncias foram empregadas na falsificação. "A metodologia foi testada e validada com amaciantes, mas ela pode ser adaptada para analisar outros produtos, como desinfetantes e detergentes", adianta o doutorando Sérgio Saraiva, um dos autores na pesquisa. O uso de produtos de limpeza de origem e composição desconhecidas pode trazer graves danos à saúde da população. "Isso sem falar nos prejuízos financeiros que a pirataria causa à indústria, aos consumidores e ao governo", acrescenta o cientista.

Método identifica fraude em 5 minutos

De acordo com o cientista de alimentos Rodrigo Catharino, que também participou da pesquisa, a metodologia é relativamente simples. Ele explica que o método dispensa inclusive o uso de amostra padrão, para efeito de comparação. "A composição química dos produtos de limpeza é amplamente conhecida, uma vez que precisa atender às exigências da legislação. Assim, a presença de substâncias diferentes daquelas previstas na lei pode ser um indício de falsificação". Segundo ele, para proceder à análise química basta retirar uma pequena amostra do produto, diluí-la e injetá-la em um equipamento chamado espectrômetro de massas. Em cinco minutos, o aparelho relaciona, com o auxílio de gráficos, todos os componentes. "O índice de precisão é próximo de 100%", garante o pesquisador.

Amostras de produtos de limpeza: comércio clandestino chega a dominar até 42% do mercado brasileiroPara testar o método, Sérgio Saraiva comprou amaciantes vendidos no comércio informal da Grande São Paulo, principalmente por pequenas lojas e perueiros. Todas as amostras apresentaram algum grau de adulteração. A falsificação mais extravagante, afirma, é o uso de água, perfume e amido para a produção de "amaciantes genéricos". "Ou seja, o consumidor está pagando por uma coisa, mas está levando outra, que certamente não corresponde às suas necessidades". Outro artifício utilizado pelos falsificadores é trocar a substância responsável pelo amaciamento das roupas por um condicionador de cabelos. "Eles fazem isso porque o segundo produto é mais barato que o primeiro. O problema é que a substância dentro do condicionador de cabelo tem uma ação inferior para as roupas", acrescenta.

Conforme Rodrigo Catharino, em algumas amostras foram identificados os compostos que de fato deveriam estar presentes nos amaciantes. Entretanto, ainda falta aferir as suas concentrações. "Nossa inferência é de que essas concentrações devem estar abaixo das registradas nas marcas legalizadas vendidas no mercado, pois os preços desses produtos são muito inferiores". Os resultados da pesquisa geraram um artigo científico que será brevemente publicado em uma revista de circulação internacional. O próximo passo dos pesquisadores do IQ, que atuam no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, é testar a metodologia com outros produtos como detergentes e desinfetantes.

Prejuízos – A adulteração de produtos de limpeza traz prejuízos à saúde pública, às indústrias do setor, ao governo e ao consumidor. O alerta é da diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla), Maria Eugênia Proença Saldanha. A maior preocupação da Abipla diz respeito à saúde da população. "Quando uma pessoa compra um produto de origem desconhecida, ela não tem idéia sobre quais substâncias foram utilizadas no seu preparo. Estas tanto podem ser inócuas quanto altamente tóxicas", adverte.

Um problema relativamente comum são os acidentes envolvendo crianças. Muitas apresentam intoxicação após ingerirem os produtos clandestinos. O mais grave, nesse caso, é que o socorro fica prejudicado, uma vez que o médico não tem como saber que substância causou o problema. "Isso não ocorre com as marcas legalizadas. Na eventualidade de um acidente, basta o profissional de saúde conferir o rótulo, onde está detalhada toda a composição química do produto", compara Maria Eugênia.

Os prejuízos financeiros causados pela ação dos falsificadores são significativos. De acordo com dados da entidade, o comércio clandestino chega a dominar até 42% do mercado brasileiro, como é o caso da água sanitária. Na linha de desinfetantes, a pirataria chega a 30%, e nos amaciantes, a 16%. A baixa qualidade dos "produtos genéricos" é, conforme a diretora-executiva da Abipla, a principal responsável pela disparidade de preços em relação às marcas devidamente legalizadas. Em alguns casos, a diferença chega a ser superior a 60%. "Nesse caso, o barato sai caro. A maioria dos produtos clandestinos não proporciona os resultados esperados pelo consumidor", assegura.

Quem também perde é o governo. Como os produtos de limpeza adulterados são freqüentemente produzidos em fábricas de fundo de quintal, esse tipo de atividade não contribui para a arrecadação de impostos. Estima-se que o Brasil deixa de angariar anualmente por causa da pirataria cerca R$ 30 bilhões, montante que poderia ser revertido, por exemplo, em gastos sociais. Dados da Polícia Internacional (Interpol) relevam que a falsificação de mercadorias tem sido o crime mais lucrativo do mundo. A atividade movimenta anualmente US$ 522 bilhões, superando o tráfico de entorpecentes, que faz girar US$ 360 bilhões.

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