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Inclusão social e étnico-racial na Unicamp avança nos últimos anos

Compromisso com políticas de ações afirmativas e permanência foi salientado por comissão externa da Avaliação Institucional 2014-2018

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audiodescrição: fotografia colorida de muitas pessoas se abraçando durante comemoração da aprovação de cotas na unicamp
Comunidade acadêmica comemora aprovação de cotas étnico-raciais na Unicamp, em 2017

No dia 21 de novembro de 2017, a Unicamp aprovava a adoção de cotas étnico-raciais e a criação do Vestibular Indígena. Ampliando as políticas de ações afirmativas na instituição, a decisão foi precedida de um amplo debate entre a comunidade acadêmica e movimentos sociais. A proposta, além de instituir a reserva de até 25% das vagas para candidatos autodeclarados pretos e pardos, também acolheu reivindicação das populações indígenas, criando um mecanismo de ingresso com vagas direcionadas a esta população.

A ampliação das modalidades de ingresso, que também incluiu o aperfeiçoamento do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) e a criação de Vagas Olímpicas, foi sistematizada pelo Grupo de Trabalho (GT) de Ingresso, em diálogo com o GT Cotas, que o precedeu, e aprovada pelo Conselho Universitário (Consu), passando a vigorar em 2019. Comprometendo-se com a reparação histórica em relação à exclusão das populações negra e indígenas do ensino superior, a Universidade, com estes mecanismos, vem ampliando um perfil de estudantes mais representativo da sociedade brasileira. O fortalecimento da inclusão, representado por estas mudanças, foi destacado no processo de Avaliação Institucional da Universidade relativo ao período 2014-2018.

Cotas raciais: "uma conquista de que deve ser creditada ao movimento negro brasileiro"

Ainda antes da criação do GT Cotas e do GT Ingresso, houve a formação de um outro GT em 2016. Este grupo foi responsável pela organização de três audiências públicas na Unicamp para debater o assunto das cotas raciais. Uma das integrantes foi a mestranda em História Social da Unicamp, Taina Aparecida Silva Santos, que posteriormente também integrou os GTs Cotas e Ingresso. “Trouxemos intelectuais, pesquisadores, ativistas de todo o brasil para apresentar para a universidade o balanço da política de cotas no brasil. Sempre em diálogo com movimentos da universidade, em especial o Núcleo de Consciência Negra da Unicamp e a Frente pró-cotas, construímos um documento apresentando já uma proposta inicial de cotas, que foi debatido em todas as congregações e unidades da Unicamp”, recorda Taina, que na época cursava a graduação em História.

audiodescrição: fotografia colorida da mestranda Taina Costa
Mestranda em História na Unicamp, Taina participou de todo o processo de implementação das cotas na Unicamp, na época enquanto estudante de graduação e membro do Núcleo de Consciência Negra. Foto: Rodrigo Costa

A adoção desse mecanismo de ação afirmativa, segundo a historiadora, legitima uma política pública já estabelecida no país de combate ao racismo, e que era alvo de reflexão e de proposição do movimento negro brasileiro desde a década de 1980. Era urgente, assim, que a política fosse também levada à Campinas e região. “A região sudeste ainda é uma região que acaba sendo um polo econômico, cultural, político. Nesse espaço e num espaço de poder como a Universidade, o fato das cotas não existirem antes acabava reproduzindo uma série de desigualdades”, avalia.

Aprovar essas medidas, assim, faz parte de um entendimento de que são um dos âmbitos fundamentais para a realização da cidadania para a população negra no período do pós-abolição. “As cotas significam o Estado e instituições públicas entenderem e assumirem que existe um problema estrutural no Brasil que impacta a vida das pessoas negras, então é um ganho político no sentido de reconhecimento do racismo e de avanço das políticas de combate ao racismo. É uma conquista de que deve ser creditada ao movimento negro brasileiro”, afirma Taina.

“A Universidade só tem a ganhar com um público heterogêneo"

Um dos consensos que vem se firmando ao longo dos anos, em universidades brasileiras e do mundo, é que o ambiente acadêmico só tem a ganhar quando acolhe as pessoas em sua diversidade. “Para uma universidade como a Unicamp, que é uma universidade de ponta, reconhecida internacionalmente por sua produção acadêmica e científica, significa ampliar as perspectivas de análise, de produção de conhecimento e de interpretação do mundo”, explica Taina.

audiodescrição: fotografia colorida do coordenador da comvest, josé alves de freitas neto
José Alves de Freitas Neto, coordenador da Comvest, presidiu o GT Ingresso; para ele, inclusão social e étnico-racial tornam o conhecimento produzido na Universidade mais rico

Da mesma forma, segundo o coordenador-executivo da Comissão Permanente de Vestibulares (Comvest), José Alves de Freitas Neto, que presidiu o GT Ingresso, a inclusão social e étnico-racial nas universidades é decisiva para a construção de um conhecimento mais rico, além incidir diretamente na diminuição das desigualdades. A ampliação das modalidades de ingresso na graduação, acompanhadas das políticas de permanência, integram mais estudantes oriundos de realidades socioeconômicas, culturais e étnico-raciais distintas, incidindo sobre um olhar mais plural sobre os problemas que a universidade se debruça. 

audiodescrição: fotografia colorida de estudantes indígenas durante recepção em 2020 na unicamp
Estudantes indígenas durante recepção na Unicamp; nas duas edições do Vestibular Indígena foram matriculados 149 alunos

Como resultado da ampliação dos mecanismos de ingresso, os inscritos nos vestibulares da Unicamp provenientes da rede pública vêm aumentando a cada ano. Em 2020, o percentual chegou a 34,2%, e o número de isentos subiu de 10,1%, em 2019, para 14,1%. Em relação ao Vestibular Indígena, que é realizado em diversas cidades pelo Brasil, incluindo aquelas com maior proporção de população indígena, as duas edições realizadas resultaram no ingresso de 149 estudantes com este perfil. Já entre estudantes autodeclarados pretos e pardos, o percentual de matriculados em 2020 foi de 30,9%, sendo que parte optou pelo sistema de cotas e parte ingressou pelo sistema universal.

audiodescrição: fotografia colorida de diversos estudantes de toga em auditório comemorando formatura, jogando os chapeus para cima
Programa de Formação Interdisciplinar Superior também integra políticas de inclusão e completou dez anos em 2020

Ainda entre as políticas de inclusão, destaca-se o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), destinado a jovens de Campinas que cursaram o ensino médio em escolas públicas. Entrando através do Profis, o estudante cursa dois anos de formação geral e depois pode seguir para a graduação, sem a necessidade de vestibular. A seleção é feita conforme o desempenho nos dois anos do curso. O Profis completou dez anos em 2020, com a formatura de 96 alunos da 8ª turma.

Na avaliação do coordenador da Comvest, José Alves, a ampliação do sistema de ingresso focado na inclusão social e étnico-racial trouxe, e segue trazendo, diversos ganhos para Unicamp. “A Universidade só tem a ganhar com um público heterogêneo porque a ciência depende de respostas inovadoras. Se você faz as mesmas perguntas para pessoas que têm o mesmo perfil cultural, socioeconômico e educacional, a tendência é dar as mesmas respostas. Quando há pessoas com experiências variados, você tende a ampliar as perspectivas e até mesmo as contradições. O conhecimento avança muito quando nós temos um ambiente de respeito e de convivência e onde se possa colocar pontos de vista distintos. Esse é o principal ganho que a própria universidade tem”, diz.

audiodescrição: fotografia colorida da pró-reitora de graduação, eliana amaral
Para pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, diversidade é componente importante da qualidade da formação

A diversidade como componente da qualidade do processo de formação também é destacada pela pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, para quem a inclusão é necessária para que haja uma formação cidadã, humanística e técnica. “As políticas de inclusão da Unicamp vêm nessa direção, para que a Unicamp possa ter dentro dela uma representatividade da sociedade que está fora dela e para que possa entender interagir melhor com a sociedade, respondendo às necessidades da população à qual ela deve servir com seu conhecimento”, avalia. O resultado, segundo a pró-reitora, é ampliação de áreas de pesquisa e das várias possibilidades de buscar respostas em torno dos diferentes problemas da sociedade. 

Como forma da valorização de um ambiente mais inclusivo e de respeito à cidadania e à diversidade, a Unicamp também aprovou, em 2019, a criação da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH). No âmbito da DeDH, existem cinco comissões assessoras, criadas com base no trabalho desenvolvido por GTs: a Comissão Assessora de Diversidade Étnico-Racial; Comissão Assessora de Política de Combate à Discriminação baseada em Gênero e/ou Sexualidade e à Violência Sexual; Comissão Assessora de Acessibilidade; Comissão Assessora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello de Refugiados e a Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas. 

"A questão da inclusão e da permanência precisam trabalhar de forma alinhada"

Para que a ampliação da inclusão social seja mais efetiva, um desafio enfrentado pelas instituições de ensino é o aperfeiçoamento também das políticas de permanência, que visam dar condições para que os estudantes concluam seus cursos com sucesso. Na Unicamp, o Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) atua há mais de 40 anos, com um olhar amplo sobre essa questão. Apoio didático, orientação educacional e apoio psicológico e financeiro são algumas das frentes de atuação, que partem também do entendimento de tais políticas para uma universidade mais democratizada. Também são fundamentais para o rendimento dos alunos, que segundo estudo da Comvest focado nos alunos do PAAIS, é o mesmo dos demais.

audiodescrição: fotografia colorida da professora helena altmann, em frente a banner do congresso de permanência
Professora Helena Altmann, que coordena o Serviço de Apoio ao Estudante, destaca que políticas de ingresso e permanência devem estar alinhadas

“A questão da inclusão e da permanência precisam trabalhar de forma alinhada. No momento em que criamos políticas de ingresso para outros perfis de estudantes na universidade, não adianta apenas garantir a matrícula, é preciso contribuir para esse estudante chegue ao final do seu curso”, observa a professora Helena Altmann, coordenadora do SAE. Para ela, as desigualdades sociais no Brasil exigem que sejam necessárias medidas como a diversificação das políticas de ingresso, e a permanência atua para garantir sua efetividade.

Segundo a coordenadora, a permanência é uma preocupação central da Universidade, e hoje a Unicamp consegue atender a todas as demandas de estudantes em torno de alimentação, com o Benefício de Isenção da Taxa de Alimentação (BITA), e no âmbito da moradia, seja através de vaga na moradia estudantil ou do auxílio moradia. Já em relação às bolsas de apoio financeiro, a Bolsa Auxílio Social (BAS) representa a principal medida de apoio e mais de dois mil alunos são contemplados com ela. “A bolsa BAS, que é a principal bolsa estudantil gerenciada pelo SAE, propicia um engajamento dos estudantes com algum projeto ou campo de atuação na Universidade e temos procurado qualificar esses projetos”, observa Helena.

Em termo de destinação orçamentária, o entendimento da permanência como prioridade se expressa no aumento dos valores investidos nas bolsas. Entre 2017 e 2020, houve um incremento de 38% dos recursos, atingindo R$ 36,4 milhões em 2020. Um desafio, para os anos que seguem o período da Avaliação Institucional finalizada, é seguir fortalecendo-as mesmo diante de um cenário de crise financeira, o que foi salientado pela equipe de avaliação. Além disso, os avaliadores indicam a necessidade de ampliar os mecanismos de inclusão para a pós-graduação, algo que a mestranda Taina Santos indica que já vem se organizando e sendo discutido dentro da Universidade, através do Grupo de Trabalho (GT) Cotas na Pós-graduação da Unicamp, do qual ela é integrante.

Congresso visibiliza produção dos alunos contemplados com bolsas

Como forma de visibilizar os projetos e pesquisas aos quais os alunos se vinculam, desde 2018 ocorre o Congresso de Projetos de Apoio à Permanência de Estudantes de Graduação da Unicamp. Neste ano, o Congresso, que está na terceira edição, será realizado de forma online. A necessidade de modificação no formato em virtude da pandemia do novo coronavírus, no entanto, não altera o objetivo de de divulgar e fomentar a reflexão, o aprimoramento e a construção de conhecimento em torno dos projetos institucionais ligados às bolsas sociais.

A edição de 2020 também comemora os 10 anos da bolsa aluno-artista, um auxílio que para a coordenadora do SAE é singular, propiciando inserção de cultura e arte no campus a partir da atuação dos bolsistas. A inscrição de trabalhos para o III Congresso pode ser realizada até o dia 22 de novembro.

Avaliação institucional

O relatório de Avaliação Institucional 2014-2018 foi divulgado em setembro. No processo de avaliação, uma equipe de profissionais externos à Universidade se debruçou sobre os pontos fortes e fracos da instituição, indicando também recomendações. Dentre os eixos destacados estão: as pesquisas modernas e inovadoras, a inclusão social e étnico-racial e o fortalecimento da internacionalização, que são temas dessa série de matérias em torno da avaliação.

Confira a primeira reportagem:  

Pesquisas modernas, inovadoras e orientadas são eixos que proporcionam destaque à Unicamp

Para saber mais sobre a Avaliação Institucional 2014-2018, acesse:

Avaliação Institucional em tempos de pandemia

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