Ensino

As duas crises que marcaram o período de 2017 a 2021 – a das finanças internas, originada no quadriênio anterior, e a sanitária, provocada pela pandemia de covid-19 – impuseram dificuldades peculiares para a área de ensino. Enquanto a primeira obrigou a Universidade a suspender temporariamente o mecanismo de reposição automática de servidores, inclusive de professores (leia mais), a segunda exigiu, do corpo docente e de todos os envolvidos na organização e planejamento das atividades didáticas, a adoção imediata de novas estratégias para dar conta de um cenário inédito e desafiador (leia mais).

A despeito de todos os obstáculos que a gestão se viu obrigada a administrar, a Unicamp manteve seu protagonismo nacional em todos os níveis de ensino – do técnico à pós-graduação –, conforme demonstram rankings especializados e indicadores de desempenho internos e externos. Cabe citar, como exemplo, os resultados da edição de 2019 do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), divulgados no segundo semestre de 2020. Os 24 cursos de graduação avaliados na ocasião foram considerados de boa qualidade: 14 obtiveram conceito 5, o mais alto na escala; 8 receberam conceito 4; e a apenas 1 foi atribuído conceito 3. A Unicamp também se destacou no Guia da Faculdade de 2020, elaborado pelo jornal O Estado de S. Paulo em parceria com a startup Quero Educação. Dos 52 cursos da Universidade listados no guia, 27, ou 52% do total, foram classificados com cinco estrelas – o maior percentual em todo o país.

Para além de superar os complexos desafios conjunturais, a gestão implementou, ao longo dos seus quatro anos de duração, ações pioneiras que desencadearam transformações indeléveis em todas as dimensões da Universidade. A mais emblemática destas ações – a diversificação das formas de ingresso na graduação – foi abordada na primeira parte deste relatório, assim como os seus múltiplos desdobramentos. O mesmo vale para outras iniciativas de grande abrangência, como, por exemplo, a aproximação promovida entre a instituição e seus ex-alunos.

Este capítulo tratará de medidas direcionadas a cada um dos diferentes níveis de ensino aos quais a Universidade se dedica. Vistas em conjunto, as medidas evidenciam a preocupação da gestão em atender às exigências da legislação vigente, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no caso do ensino médio, e as Diretrizes Curriculares Nacionais para os diferentes cursos de graduação. Fica clara, também, a ênfase dada à modernização dos currículos por meio da interdisciplinaridade e da diversificação de formatos e estratégias de ensino. A mesma linha de atuação se aplicou ao gerenciamento das atividades acadêmicas, tornando-o mais eficiente, transparente e participativo.

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Ensino pré-universitário

Criada na esteira das alterações na estrutura da Administração Central realizadas no início do quadriênio, a Diretoria Executiva de Ensino Pré-Universitário (DEEPU) reuniu sob a mesma coordenação a Divisão de Educação Infantil e Complementar (DEdIC) e os Colégios Técnicos de Campinas (Cotuca) e de Limeira (Cotil), assumindo a interlocução com a Reitoria e com os órgãos de governo relacionados ao setor.

A DEdIC, cujas unidades socioeducativas atendem filhos de alunos e servidores da Universidade e também de funcionários da Fundação para o Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), desde 6 meses até 14 anos de idade, era vinculada até então à Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH), não sendo vista, portanto, como um órgão dedicado ao ensino. Os colégios técnicos, por sua vez, funcionavam cada um à sua maneira, sem qualquer tipo de interação.

A implantação da DEEPU deu congruência a este sistema, desencadeando um importante processo de desenvolvimento pedagógico e administrativo. Com relação à DEdIC, deve-se ressaltar, entre outros numerosos avanços, a abertura de espaço, no gerenciamento do órgão, para os coordenadores das cinco unidades que o compõem. Esta reestruturação organizacional resultou em uma maior integração entre as unidades, que passaram a participar da elaboração do projeto político-pedagógico da DEdIC.

Há que se destacar também as parcerias estabelecidas no âmbito da Universidade visando à atuação de alunos de graduação como bolsistas e estagiários nas unidades da DEdIC, à formação continuada dos profissionais de educação destas unidades e à diversificação das atividades dirigidas às crianças por elas atendidas. Um exemplo que vale mencionar é o do programa DEdIC Ação, resultante de parceria com o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), que possibilitou a realização de passeios com as crianças, encontros com as famílias e reuniões entre educadores para discussão de questões pedagógicas, entre outras atividades.

Assim como ocorreu entre unidades da DEdIC, Cotuca e Cotil aproximaram-se um do outro em decorrência da criação da DEEPU. Os dois colégios trabalharam juntos, por exemplo, na elaboração de um mecanismo de cotas sociais e étnico-raciais específico para o ensino médio e técnico, aprovado pelo Conselho Universitário (Consu) em junho de 2020 e já empregado no processo de seleção de alunos para 2021 (leia mais).

Para além da introdução das cotas, foram realizadas, no quadriênio, a uniformização dos regimentos dos colégios, preservando-se, porém, as particularidades de cada um deles; e a modernização e atualização de seus respectivos currículos, necessárias para adequá-los ao novo formato do ensino médio e às exigências contemporâneas do mercado de trabalho.

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Outro fato a ser destacado foi a inclusão dos diretores de Cotuca e Cotil no rol de membros titulares do Consu, importante por possibilitar uma maior participação de ambas as unidades nos processos decisórios da Universidade. Neste contexto, foi aprovada, na última reunião ordinária do órgão no quadriênio, a criação dos Prêmios de Reconhecimento Docente pela Dedicação ao Ensino Magistério Secundário Técnico e de Reconhecimento Discente dos Colégios Técnicos da Unicamp.

O período foi marcado, ainda, pela recuperação do prédio histórico do Cotuca, proporcionada por uma parceria entre a Unicamp e a Campinas Decor, organizadora da principal mostra de decoração e arquitetura da região. Diferentes espaços do Cotil e das unidades da DEdIC receberam melhorias em sua infraestrutura, que abrangeram desde a aquisição de mobiliário e atualização de equipamentos até reparos, reformas e novas construções.

Ainda como consequência da implantação da DEEPU, o ensino pré-universitário foi inserido pela primeira vez no processo de avaliação institucional como um sistema integrado. Uma única comissão de especialistas externos avaliou tanto as unidades da DEdIC, que nunca haviam participado do processo, como os dois colégios, que eram analisados, até então, de forma isolada, por diferentes grupos de avaliadores (leia sobre a avaliação institucional).

Graduação

O enfrentamento das principais causas da evasão estudantil na graduação norteou a maior parte das ações da gestão direcionadas a este nível de ensino. Para além de aumentar a quantidade de bolsas e auxílios concedidos a alunos de famílias de baixa renda, assunto tratado na primeira parte deste relatório, a gestão implementou um conjunto de projetos estratégicos, listados abaixo, para promover a adequação dos cursos oferecidos pela Universidade ao perfil das novas gerações de estudantes e às necessidades dos profissionais do futuro:

Projeto

Objetivos

RenovaGRAD

Apoiar a reestruturação dos projetos pedagógicos de todos os cursos de graduação por meio da modernização e flexibilização dos currículos, do aumento da interdisciplinaridade e da diversificação das estratégias de ensino, com consequente redução da carga horária em sala de aula.

IngressaGRAD

Auxiliar docentes que ministram disciplinas no primeiro semestre da graduação a lidar com as demandas e expectativas de um conjunto cada vez mais heterogêneo de alunos ingressantes.

GestaGRAD

Possibilitar a utilização de indicadores acadêmicos como ferramenta de apoio à tomada de decisões.

AssessoraGRAD

Qualificar os recursos humanos das secretarias de graduação, conferir maior agilidade aos procedimentos administrativos e melhorar o acolhimento a docentes, estudantes e coordenadores de cursos de Graduação.

Neste contexto de renovação do ensino, cabe destacar ainda as seguintes ações:

  • Integração de ações, no âmbito da Administração Central, visando à inclusão de atividades de extensão nos currículos dos cursos, iniciativa que resultou em mudanças no Regimento Geral da Graduação para o oferecimento de novos formatos de disciplina;

  • Estimulo à criação de disciplinas com temais atuais e transversais, como direitos humanos, sustentabilidade e empreendedorismo, eletivas para estudantes de qualquer curso de graduação;

  • Consolidação do Programa Professor Especialista Visitante, com a permanência de profissionais não acadêmicos na Universidade por um semestre, possibilitando a troca de experiências e conhecimentos sob a perspectiva do mundo do trabalho;

  • Abertura dos cursos de Engenharia de Transportes, com início em 2020, e de Licenciatura em Teatro, em 2021;

  • Organização de numerosos encontros para debater princípios e tendências nacionais e internacionais da docência no ensino superior, com destaque para a série de seminários intitulada “Inovações Curriculares”, refletindo a forte interação ocorrida no período entre o Espaço de Apoio ao Ensino e à Aprendizagem [ea2] e o Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE).

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Em outro projeto estratégico concebido no âmbito do esforço de modernização da graduação, a gestão estimulou o uso de novas tecnologias de áudio e vídeo em disciplinas presenciais, com a produção e gravação de podcasts e vídeo-aulas. A iniciativa contou com o apoio GGTE, órgão responsável pelo gerenciamento dos ambientes virtuais de aprendizagem Moodle e Google Classroom. O TelEduc, primeiro software do gênero a ser introduzido na Universidade, ainda em meados da década de 1990, deixou de ser utilizado em 2018.

Concomitantemente a este projeto, um grupo de trabalho composto por representantes de diferentes órgãos da Administração Central trabalhou na elaboração de uma política institucional de educação digital para ser colocada em debate pela comunidade. Os desafios do ensino a distância foram tema de dois eventos realizados no contexto das atividades do grupo de trabalho.

Todas as iniciativas aqui mencionadas foram fundamentais para a Unicamp implementar, com rapidez, segurança e eficiência, um programa emergencial para a continuidade não apenas dos cursos de graduação, mas também dos de nível médio, técnico e de pós-graduação, durante o período de suspensão das atividades presenciais em razão da pandemia de covid-19. Foram importantes também, neste contexto, a criação de uma página de apoio ao ensino digital, a realização de encontros virtuais de formação docente e o oferecimento de vagas em cursos complementares sobre ensino remoto.

Espaço Plasma

O antigo Laboratório de Plasma do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) foi reformado durante a gestão para abrigar um espaço para uso compartilhado pela comunidade acadêmica. Batizado de Espaço Plasma, o edifício de 725 metros quadrados comporta área de trabalho colaborativo para 72 pessoas, salas multiuso e de reunião, miniauditório, estúdio de gravação e equipamentos para fabricação digital.

Para a instalação de uma área de convivência em frente ao Espaço Plasma, a gestão promoveu um concurso aberto a estudantes de graduação de todo o país. O projeto vencedor foi assinado por um grupo de cinco alunos da Unicamp, dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia Elétrica. Foram inscritas 21 propostas, elaboradas por 89 estudantes de 15 universidades.

Pós-graduação

A ampliação dos contatos entre a Unicamp e instituições estrangeiras esteve presente no escopo de boa parte das iniciativas da gestão direcionadas à pós-graduação. A mais ambiciosa foi a implementação do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), por meio do qual a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) concedeu pouco mais de R$ 41 milhões à Unicamp para financiar, ao longo de quatro anos, 117 projetos ligados a 22 temas prioritários, abrangendo a realização de missões internacionais de trabalho, além da concessão de bolsas para brasileiros no exterior (doutorado sanduíche, professor visitante júnior e sênior) e para estrangeiros no Brasil (jovem talento, professor visitante e pós-doutorado). Os dados do PrInt passaram a ser inseridos em sistema informatizado para facilitar o gerenciamento do programa e sua respectiva produção de relatórios.

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Ainda no âmbito da internacionalização, uma parceria entre a Unicamp e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) possibilitou, a partir setembro de 2020, a admissão no doutorado, sem a necessidade de cursar o mestrado, de alunos aprovados no exame internacional Graduate Record Examination (GRE®). A medida contemplou o ingresso em programas com conceitos 5, 6 e 7 na última avaliação da Capes. A Fapesp ofereceu 30 bolsas, de até 60 meses, para os ingressantes por este sistema. Cabe ressaltar outras duas iniciativas na busca por uma maior inserção internacional da pós-graduação: o incremento da oferta de disciplinas em inglês e do número de acordos de cotutela com universidades estrangeiras.

Na esfera doméstica, foram concedidas, em 2019, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), dez bolsas de doutorado acadêmico para inovação (DAI). Em 2020, foram concedidas mais 7 bolsas de doutorado, 7 de mestrado e 42 de treinamento técnico. Merece registro, também, a parceria que permitiu a participação de alunos da pós, como facilitadores, em disciplinas de graduação oferecidas pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), cujo foco é proporcionar competências em práticas pedagógicas de educação a distância aos alunos de pós-graduação. Houve, ainda, a fusão dos programas de Farmácia e de Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos, evitando a sobreposição de áreas e fortalecendo as respectivas linhas de pesquisa

Na área da legislação institucional, foi feita uma importante alteração no Regimento Geral da Pós-graduação com o objetivo de distinguir os programas strictu sensu – de mestrado e doutorado, tanto acadêmicos como profissionais, oferecidos sempre de forma gratuita – dos cursos latu sensu, para aperfeiçoamento, aprimoramento, especialização e residências médica, multiprofissional e em área profissional da saúde, sobre os quais pode ou não incidir cobrança.

Também foram feitas alterações no regulamento do Programa de Estágio Docente (PED), do qual participam semestralmente cerca de 800 alunos. As mudanças, cujo objetivo foi tornar mais ágeis as atividades, propiciaram numerosos ganhos decorrentes da desburocratização dos processos administrativos, economizando tempo, papel e recursos financeiros.

Os aprimoramentos na área administrativa ainda englobaram: a implementação de um sistema informatizado para facilitar o planejamento e o gerenciamento de recursos provenientes de convênios; e a divulgação do Painel de Produção Científica dos Programas de Pós-graduação, importante ferramenta de planejamento estratégico para os coordenadores da área.

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