Edição nº 557

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 15 de abril de 2013 a 21 de abril de 2013 – ANO 2013 – Nº 557

Um programa que entrou para a história


A Unicamp deu um passo adiante no cenário acadêmico nacional ao implantar o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS). Aprovado em 2010, o ProFIS constitui uma das respostas da Universidade em relação à inovação curricular e à igualdade no acesso e permanência no ensino superior. O programa criou 120 novas vagas de graduação destinadas aos melhores alunos das 94 escolas públicas de ensino médio em Campinas. A seleção ocorreu pela nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a primeira turma ingressou já em 2011.

“O ProFIS constitui uma iniciativa inédita para selecionar alunos que eram excluídos ou tinham chance reduzida no sistema tradicional de seleção, sem abdicar do mérito acadêmico”, define o pró-reitor de Graduação e idealizador do programa, Marcelo Knobel. Em 2008 e 2009, por exemplo, 55% das escolas públicas da cidade não tiveram nenhum aluno matriculado na Unicamp. Em fevereiro de 2013, o ProFIS recebeu prêmio da Fundação Péter Murányi como melhor experiência em educação no Brasil. Concebido pelo empresário Péter Murányi, o prêmio tem como objetivo homenagear entidades públicas ou particulares, de qualquer parte do mundo, que se destacam por suas descobertas inovadoras e práticas focadas no desenvolvimento e no bem-estar social das populações em desenvolvimento.

Além de criar uma nova forma de ingresso na universidade pública, o ProFIS visa oferecer aos estudantes uma visão geral do conhecimento universitário, antes de se decidirem por uma carreira específica. Para isso, durante dois anos os alunos cursam disciplinas de caráter amplo, em todas as áreas do conhecimento. São cursos especialmente organizados para que os estudantes adquiram uma formação cultural e científica, além de se preparem para escolher a sua área específica de formação acadêmica e profissional. Após esses dois anos iniciais, os alunos podem escolher um curso de graduação na Unicamp para ingressar sem necessidade de prestar o vestibular.

A primeira seleção, em 2011, trouxe alunos de 76 das 94 escolas da cidade, de um total de 705 inscrições válidas. Já em 2012 foram selecionados candidatos de 82 escolas, de 925 inscrições válidas. “O ProFIS está mudando minha visão de mundo”, disse Alexandre Lorca Serafini, de 20 anos, em entrevista publicada pelo Jornal da Unicamp em outubro de 2012. Ele cursou o ensino médio na Escola Estadual Jamil Gadia, que fica no Parque Figueira, e está entre os formandos da primeira turma.

“A mudança é muito grande, porque na escola o ensino era muito fraco”, disse o estudante. “Mas aqui os professores são incríveis, estou aprendendo o que é estudar de verdade, a interpretar textos, a argumentar cientificamente e até a conversar melhor”, conta. Fã de Steve Jobs, a ponto de ter lido duas vezes a biografia do criador da Apple, ele já decidiu que vai fazer Engenharia da Computação.

Em fevereiro de 2013, durante a cerimônia de formatura dos primeiros alunos do PrpoFIS, a oradora da turma, Raryane Pereira da Silva, comparou a experiência na Unicamp ao filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (de Tim Burton e estrelado por Johnny Depp). Raryane comparou a chance de ingressar no ProFIS aos bilhetes dourados disponibilizados pelo dono da fábrica de chocolate, dando direito àqueles que os encontrassem de conhecer como se produzia um produto desejado por toda a parte. “Eles foram escolhidos para vivenciar uma experiência única. A história do ProFIS não é muito diferente. Em 2011 fomos escolhidos para uma das mais inesquecíveis viagens que, certamente, passaremos na nossa vida. Uma experiência singular e completamente revolucionária: conhecer com riqueza de detalhes como é fabricado o conhecimento na tal fábrica. A fábrica é a Unicamp”, discursou a estudante.

No intuito de viabilizar a permanência dos alunos e a conclusão dos cursos, o programa oferece uma ampla rede de assistência estudantil que inclui bolsa de estudo no valor de R$ 400,00 mensais, auxílio transporte no valor de R$ 132,00 e ajuda de custo com a alimentação dentro do campus. Além disso, no início de 2011 foi oferecida uma turma específica da Oficina de Autorregulação da aprendizagem para os alunos desenvolverem habilidades de estudo, entre outras ações. Desta forma, o curso busca não só possibilitar a equidade no acesso, mas principalmente a permanência no ensino superior.

“Não se trata, portanto, de uma mera proposta de aumento de vagas, tampouco de uma forma de reduzir a competitividade, mas sim de criar um novo modelo de seleção para alunos de graduação e de experimentar uma nova resposta a um dos principais desafios apresentados à universidade contemporânea: formar jovens dotados de cultura ampla e espírito científico, capazes de realizar julgamentos críticos e independentes e preparados para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho”, destaca Knobel.


Avaliação

Para acompanhar a implantação do ProFIS, seus resultados e impactos, foi desenhada uma metodologia de avaliação continuada que tentará seguir os beneficiários por pelo menos uma década. Essa função vem sendo desempenhada pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), que vem produzindo informações relevantes para a gestão do programa. Um balanço de resultados preliminares dos dois primeiros anos de atividades aponta um saldo positivo. Pelo menos dois objetivos foram plenamente alcançados. O primeiro foi a própria implantação do programa num prazo exíguo, e o segundo foi a inclusão social no ingresso ao ensino superior.

No que se refere ao aspecto raça/cor/etnia, cerca de 40% dos alunos do ProFIS são não brancos (pardos, pretos e indígenas), um percentual 2,7 vezes superior ao percentual de matriculados através do vestibular e ligeiramente acima da distribuição de raça/cor da população de 18 a 24 anos do Estado de São Paulo, que possui 38% de indivíduos não brancos segundo dados do Censo 2010.

Em relação ao histórico escolar, além de terem cursado o ensino médio completo em escola pública, o que é um pré-requisito do programa, 92,5% dos alunos cursaram também o ensino fundamental na rede pública. O ProFIS também ampliou as admissões de egressos da rede pública na Unicamp em cerca de 2,2% em 2011 e em 3,4% em 2012.

No que diz respeito à renda familiar mensal, os alunos matriculados no ProFIS apresentam renda média 3,6 vezes menor que a renda média da população de 18 a 24 anos do Estado de São Paulo com acesso ao ensino superior. A renda dos alunos do ProFIS é também bastante inferior à renda dos demais alunos da Unicamp. Enquanto a maioria dos alunos do ProFIS tem renda mensal familiar de até cinco salários mínimos (82,4% em 2011 e 74,2% em 2012), estes percentuais entre os alunos que ingressaram pelo vestibular são 60,4% em 2012 e de 82,3% entre os que ingressaram pelo vestibular usando o PAAIS.

Atenção especial vem sendo dada ao quesito “permanência dos alunos”. Em relação à primeira turma, dos 120 matriculados, 22 saíram até junho de 2012, significando, portanto, uma taxa de evasão de 18,3%, o que estaria dentro dos níveis médios de evasão da Unicamp (entre 15% e 20%). Destes 22, pelo menos sete ingressaram em algum curso de graduação regular, sendo seis deles na própria Unicamp através do vestibular, o que não deixa de ser um resultado positivo do programa.