Edição nº 554

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 18 de março de 2013 a 24 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 554

Meio palhaço, meio funcionário público

Funcionário do CEL vira personagem “Cacareco” em folgas e finais de semana

Todo mundo vai ao circo”, diz a canção. Menos os palhaços. Hoje eles estão nas ruas, na empresa, na escola, enfim, em ambientes alternativos. Fazem rir, mas de vez em quando, choram. Esta é a vida real também do palhaço. Esta é a realidade de Edmilson Antonio Ortolan, funcionário do Centro de Ensino de Línguas (CEL) da Unicamp, que enquanto se compõe para virar o “Cacareco”, esquece as amarguras. As performances, porém, acontecem nas horas vagas e aos finais de semana, quando o trabalho administrativo não exige sua presença.

Qual a graça de ser um palhaço? Poder externar a esperança de um mundo melhor, vender ilusão. Pôr para fora sentimento de criança. Fazer as pessoas verem que existe um mundo melhor, nem que seja por um instante. “Os bons valores estão cada vez mais apagados nessa sociedade moderna, então, qualquer pessoa que invista no riso de alguém, tem um grande mérito. Isso é dizer ao mundo que existe felicidade. As tristezas têm de ser passageiras”, responde ‘Cacareco”. Quer dizer, Edmilson, o funcionário que tirou das graças de “Cacareco” os recursos para educar o filho, hoje aluno do terceiro ano do curso de matemática da Unicamp.

Edmilson gosta de ser o “Cacareco” e ser rodeado por crianças e adultos que acompanham as performances desde o primeiro sinal da maquiagem. Entre brincadeiras e trocadilhos, conquista o público, principalmente o infantil, para que não se assuste com a personagem já caracterizada. “A cada passo da maquiagem faço perguntas para envolvê-los na brincadeira, e eles se empolgam em responder, por exemplo, se estou bonito ou feio ou quando pergunto, por exemplo: ‘sabe como se chama o caracol do vizinho? Encaracolado!!!!’ ”, conta, enquanto sorri para a câmera.

O novo nariz e a gravata “borboleta” causam estranhamento aos vizinhos que conhecem somente o Edmilson, mas, como todo bom artista, não se intimida, continua dando atenção à objetiva. Foi como se as cores transformassem não somente o rosto, mas a alma de Edmilson, que sem perceber esquece a bengala, usada na recuperação de uma cirurgia, e passa a brincar com a equipe jornalística, o poeta-motorista Moacir Monteiro e a vizinhança que, como quem não quer nada, vai chegando. De forma natural, vai explicando a graça de ser palhaço.


As artes cênicas sempre tiveram um lugar especial na vida de Edmilson, mas foi a partir de 1985 que assumiu a “cara de palhaço”. Ah, assumiu roupa e sapatos também. Começou a trabalhar com recreação, “ocupando” lugar especial em festas de aniversário e outros eventos. O bom humor foi apreendido dentro de casa, com a mãe, que brincava até mesmo com a própria doença, mas a incursão no teatro deve a Benê Silva, ator campineiro que atuou no Instituto de Física da Unicamp (IFGW). Ao lado de Sandra Bernardes, eles mantinham o Grupo Morte (Movimento Revolucionário do Teatro). “Aprendi muito, inclusive a assistir filmes, ouvir músicas para apurar a audição. Benê sempre dizia que a audição é muito importante para um ator. Hoje tenho um acervo de duas mil músicas de compositores brasileiros e internacionais, bem selecionadas”.

Durante a fase de desemprego, a única atividade era a recreação, mas por ser pouco rentável, foi substituída por atividades administrativas na Unicamp. Em 1985, resolveu enfrentar a fila quilométrica do último “rebanhão”, apelido dado a um concurso gigante por meio do qual a instituição repunha ou ampliava seu quadro de funcionários. Para nunca mais se identificar como desempregado, respondeu “sim” ao seu sétimo concurso da Unicamp. “Prestei uns sete”, brinca o palhaço que trocou o “picadeiro” pela área de Orçamento e Finanças (extinta DGA 32).

Mas antes que “Cacareco” invertesse a boca para baixo e acrescentasse uma gota d’água em sua maquiagem, decidiu continuar seu trabalho cênico em período contrário ao da jornada de trabalho. Reduziu os compromissos de Cacareco; ampliou os compromissos de Edmilson, mas sentiu que os dois continuariam a conviver muito bem.

O trabalho com orçamento durou cerca de dez anos, durante os quais aprendeu a administrar suas próprias finanças. Em 1995, um convite para trabalhar num laboratório de ensino de línguas, hoje Centro de Ensino de Línguas (CEL), foi a chance de Edmilson trocar a calculadora por câmeras fotográficas e de vídeo. Deixou então a Diretoria Geral de Administração, quebrando uma regra na qual ninguém entrava nem saía da DGA. Sua coordenadora, porém, entendeu que sorriria muito mais no CEL ao manipular câmeras de vídeo e fotografias. “Agarrei a oportunidade. Adoro trabalhar com fotos e vídeos”, declara. A nova atividade o motivou a filmar eventos e editar vídeos aos finais de semana.

Lá, entre uma brincadeira e outra, ajuda no que lhe é possível, seja em orçamentos, manutenção, preparação de salas e, por que não, até a evitar um pé quebrado. Até porque, para ele, manter-se alegre depende de bem-estar. Seu cuidado com outras pessoas vai além da teatralidade. Desde 1992, é voluntário na Cipa da Unicamp, e é conhecido por alertar colegas e fazer advertências sobre condições de risco de acidente. Essa história começou quando decidiu acompanhar o amigo Passoni, na época presidente da Cipa, fotografando situações de risco. Quando as informações sobre acidentes de trabalho e domésticos são aprofundadas, o olhar cuidadoso passa a trabalhar automaticamente. “Olhe o cinto de segurança, Alice”, avisa quando o motorista dá partida no carro. Para Edmilson, a distinção entre trabalho administrativo e cênico deve existir, mas bom humor não atrapalha. “Tem de tirar de letra, com bom humor. Em tudo que faço na Unicamp coloco meu bom humor. É algo que pode melhorar o relacionamento com o cliente, no caso o aluno e o professor. Tem de ter criatividade, educação e respeito”, acentua.

Brincalhão, adora aplicar trocadilhos o tempo todo com seu público e até com a entrevistadora. No meio da conversa, lança um deles: “Quem nasce em Juiz de Fora o que é? O bandeirinha”. E gargalha em seguida.

LEMBRANÇAS

A brincadeira, na hora certa, rendeu a publicação do texto “A valsa das escovas”, em 1986, no jornal “Unicamp Notícia”. “Era maravilhoso ver que entre 12 horas e 12h15 todos os funcionários da DGA se dirigiam ao banheiro com escovas de dentes sortidas, muita vezes simulando um maestro, um esgrima. Transformei em texto, e Eustáquio Gomes publicou. Mas não sem fazer uma observação: “Estou publicando o texto mas não sei bem se é uma crônica, uma redação...”

Em outro momento de descontração, Edmilson, e não “Cacareco”, decidiu atravessar a Praça das Bandeiras não com o nariz de palhaço, mas com orelha e dentes de coelho. A Páscoa se aproximava, e Edmilson queria, sem pensar em repercussão, surpreender a namorada, que trabalhava na Secretaria Geral. Como ser feliz é uma obrigação e pronto, a moça deve ter ficado sem graça ao deparar com aquele coelhinho de quase 2 metros de altura, mas Edmilson, sentiu-se realizado.

O mesmo aconteceu num programa de interação da DGA, quando o natal se aproximava. Foi chamado pela diretora que, percebendo sua inquietação, autorizou-o a realizar a loucura que alegraria a festa. Seu corpo como sempre magérrimo foi coberto com uma roupa do “Bom Velhinho”. Em pouco tempo, “Cacareco” foi substituído por outro personagem: o “Papai Noel da Crise”. Assim ficou conhecido por muito tempo. Mas quem liga? O importante é ser feliz.

Comentários

Comentário: 

Conheci o Edmilson quando fazia cursos de inglês no CEL. Um cara de humor fantástico. Uma pessoa maravilhosa. Um exemplo de vida. Grande abraço meu amigo.

Comentário: 

Edmilson, parabéns pelo trabalho.

Comentário: 

Esse cara não passa de um PALHAÇO, maravilhoso, sempre alegrando nossas vidas.

Comentário: 

Edmilson...faz parte da minha vida desde sempre....foi vizinho, colega da Unicamp, amigo, amigo virtual sempre, palhaço lindo ....sempre me alegrando com suas piadas e histórias.Ele é uma pessoa especial....digno de minha admiração.

Comentário: 

Uma Homenagem ao Edmilsom Ortolan tão Querido, que a gente tanto agradece pelo que ele consegue fazer de nos aliviar e animar para em meio as lutas da vida, sempre fazermos força e seguirmos em frente. Valeu Edmilson. Valeu Zumbi.

EDMILSOM ORTOLAN É EXPRESSÃO, CHAPLIN A IMPRESSIONAR.

Aparenta tranqüilidade, esta pensando na dor da gente
A Dor é uma calamidade, quer extingui-la totalmente.
Pra dor tão velha eliminação, dores do mundo acabar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

Conta um caso engraçado, e sempre vem nos distrair.
Ele é muito preparado, pra dor dos outros fazer sumir
Nos torna leve o coração, das dores faz nos aliviar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

Ele é um circo de alegria, e uma canção tão marcante.
Ele Afasta a nossa agonia, e dissipa o ar preocupante.
Tem sempre o seu sorrizão e faz a gente tranqüilizar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

Querido da Universidade, e sempre vem pra nos ouvir.
Ele nos alivia de verdade, e nos salva do submergir.
Nos tira toda a Pressão, não deixa a gente desanimar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

É Palhaço por amizade, pra a cada um amigo atender.
Ele Tira peso de verdade, de cada um que esta a sofrer.
Deus lhe dá Compaixão, e o Nazareno faz lhe motivar,
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

É sempre uma esperança, é força para a caminhada.
Uma Irmandade e uma aliança, e não desistir por nada.
No sufoco nossa salvação, de a gente já não agüentar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

Ele representa alegria, e o valoroso Companheirismo.
É Consciência e Cidadania, é presente o Cristianismo.
É Um Estado de Comunhão, de Misericórdia partilhar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

Querido do Trabalhador, não deixa ninguém explodir.
Nos diminui tensão e dor, pra gente não querer sumir.
De deus pai uma benção, ensinando em frente avançar.
Edmilsom Ortolan é expressão, Chaplin a impressionar.

Azuir Filho e Turma de Amigos: do Social da Unicamp, Campinas, SP, Amigos de Rocha Miranda, Rio de janeiro, RJ, e Amigos de Mosqueiro, Belém do Pará.

azuirfilho@superig.com.br

Comentário: 

Parabéns Edmilson. Sua alegria é contagiante, não tem como não sorrir quando você está por perto!

dalilab@unicamp.br