Edição nº 533

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 30 de julho de 2012 a 05 de agosto de 2012 – ANO 2012 – Nº 533

Extensão da Unicamp leva
ciência e preservação a Paraty


Compensação de carbono, reflorestamento, educação ambiental e projetos sociais e sustentáveis do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Artes e Ciências
(Lepac), ligado à Pró-Reitoria de Extensão e 
Assuntos Comunitários (Preac), 
colaboram para o desenvolvimento e a conservação de município fluminense

Reflorestando o quilombo

A vista mais privilegiada do Vale do Cabral, situado a oeste do Estado do Rio de Janeiro, certamente é a que se tem da janela de Domingos Ramos dos Santos, 72 anos – o calejado ‘seo’ Domingos. De sua casa, no alto da montanha, vislumbra-se em profundidade a bela baía de Paraty, que em toda a sua extensão possui cerca de 50 praias. De lá, contempla-se mata atlântica nativa por todo o lado. A exceção é uma área de 200 hectares pertencente ao Quilombo do Cabral, comunidade de aproximadamente 400 pessoas que tem, na figura de ‘seo’ Domingos, o líder e patriarca. “Filhos são dez. Agora, os netos, eu tenho que pegar a calculadora”, brinca, aos risos.

É nesta área que o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Artes e Ciências (Lepac) da Unicamp ambiciona implantar corredores ecológicos para recuperar o local, além de desenvolver um projeto agroflorestal sustentável e participativo para os quilombolas. Os recursos viriam da iniciativa pioneira Carbono Compensado, desenvolvido pelo laboratório da Unicamp instalado no município de Paraty.

A compensação de carbono é uma das principais alternativas para diminuir o efeito estufa, que tem sido relacionado nos últimos anos às emissões de poluentes, entre os quais o dióxido de carbono (CO²). Pousadas, embarcações, empresas, indústrias e demais estabelecimentos do município podem compensar o carbono aderindo ao programa da Unicamp, que faz o cálculo das emissões, organiza o plantio de árvores e certifica os parceiros. 

“A proposta é criar corredores biológicos no Quilombo do Cabral, a mais tradicional e maior área degradada do município. Identificamos fragmentos de mata atlântica que não estão ligados entre si. Faríamos, então, o plantio de árvores nesta área. E, próximo às casas dos quilombolas, a ideia é desenvolver um sistema agroflorestal, com o plantio de árvores e plantas que interessem à comunidade, como banana, mandioca, açaí e pupunha. Queremos, evidentemente, que os quilombolas se envolvam. Estamos, no momento, buscando financiamento de empresas parceiras que podem compensar suas emissões participando do programa”, explica o coordenador do Lepac, Carlos Fernando Salgueirosa Andrade, biólogo e docente do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

Em longo prazo, a recuperação do local, com quase 50% de sua área degradada, deve envolver o plantio de aproximadamente 140 mil árvores, calcula o professor. “Mas não pretendemos somente plantar árvores. Trata-se de um conjunto de operações para recuperar arboriamente as áreas degradadas do Quilombo do Cabral. Para cada árvore plantada, nós temos que fazer um acompanhamento por três anos para consolidar o plantio. Temos que acompanhar o vigor delas e fazer o controle de pragas. Outra técnica é apoiar o desenvolvimento de novas plantas que já estão nascendo”, explica.

O projeto do Lepac para o Quilombo do Cabral conta com as parcerias do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); da Embrapa Agrobiologia, localizada no município fluminense de Seropédica; da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Paraty (Seduma); do Instituto Florestal (IF) e da empresa Carbono Florestal, que produz mudas certificadas.

Historicamente degradado, o quilombo dista sete quilômetros da rodovia Rio-Santos, a BR-101, que liga Paraty a Angra dos Reis. Em breve, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) deve conceder a cinco famílias locais os títulos definitivos de posse das terras, anima-se ‘seo’ Domingos. Ele também é um entusiasta do projeto do Lepac para o local. “Eu estou recebendo como um prêmio esta ideia da Unicamp. Vai melhorar muito, porque vai ‘refrescar’ o local, aumentar a água… Não temos problema com água por enquanto, mas a tendência é termos ao longo do tempo. Na natureza, tudo nasce e morre devagar”.

 

 

Continua nas páginas 6 e 7