..Campinas, de 5 a 11 de Novembro de 2001

Evandro Jovani Ribeiro, 14 anos, morador do Jardim São Marcos, nunca foi ao teatro e não se lembra de ter visto alguma manifestação artística nas proximidades de sua residência ou na escola em que estuda. Quando ouve a pergunta “O que é arte para você?”, logo responde que acredita que uma “boa arte” é tirar a molecada da rua promovendo atividades em espaços públicos. Já Michel Cesar Pereira, 10 anos só assistiu a uma peça teatral quando um grupo de atores fez uma performance nas imediações de sua casa. Tanto Evandro e Michel como outras 48 crianças tiveram a oportunidade de participar do evento Sábado com Arte, uma das promoções do Projeto Artístico para o Desenvolvimento Social (Pades), organizado pelo Grupo República Cênica, no dia 27, na Casa Esperança do Jardim São Marcos. A vivência apresentada teve como tema O Circo. Nela, as crianças realizaram acrobacias, técnicas de malabarismo e palhaçadas.

Formado por alunos de pós-graduação do Instituto de Artes da Unicamp, o República Cênica tem como principal proposta dentro do Projeto levar atividades artísticas a comunidades que não têm acesso aos circuitos regulares como nos bairros do Jardim São Marcos, Santa Lúcia, Vila Rica e Joaquim Egídio.

Segundo o coordenador do Pades, Fernando Aleixo, o trabalho não tem como meta um alcance social, mas sim uma ação artística integrada. “O social acaba acontecendo como uma conseqüência do artístico”, explica Aleixo. Uma das principais características das ações é que elas acontecem de forma contínua a fim de se estabelecer uma dinâmica que permita que a própria comunidade construa iniciativas dessa natureza.

Nestes dois meses que restam para terminar o ano, Projeto já tem uma série de atividades programadas com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão. São oficinas de teatro e dança, atividades direcionadas às crianças e adolescentes a serem realizadas nos espaços atendidos pelo Pades. As vivências estarão relacionadas a um tema específico e deverão envolver minicursos e performances.

O próximo evento do Sábado com Arte acontece no dia 10 (sábado), na Casa Esperança do Jardim São Marcos sobre o tema Capoeira. No dia 21 de novembro, no Salão Vermelho da Prefeitura, a partir das 9 horas, acontece o Seminário Arte e Cidadania, com representantes da Unicamp, do Sesc, e da Secretaria Municipal de Cultura. Mais informações podem ser obtidas com Fernando ou Ana Carolina, através do telefone 3254-6765.

No mundo do muxarabis

A professora Lygia Saboia, da Universidade de Brasília (UnB), recorreu à informática para criar uma das mais curiosas e antigas manifestações da arte islâmica: o muxarabis ou muxarabiê. De origem árabe, a expressão também pode significar arco, ou balcão mourisco protegido, em toda a altura da janela, por uma grade de madeira, de onde se pode ver sem ser visto.

Depois de quase dois anos de pesquisa, o trabalho de Lygia transformou-se na primeira tese de doutorado do Departamento de Multimeios do Instituto de Arte (IA) da Unicamp. A pesquisa de Lygia, sob a orientação do professor Gilbertto Prado, recebeu o nome de Uma poética multidisciplinar-arte, matemática, simetria e linguagem de programação Postscript, defendida no último dia 29, segunda-feira passada, na Galeria de Arte Unicamp/IA, onde as obras deverão ficar expostas até o próximo dia 8, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas.

Além de dois grossos volumes, fizeram parte da tese da professora 17 peças que, segundo a artista, correspondem aos 17 grupos de simetrias ou simetrias cristalográficas planas, sendo que cada uma possui uma célula unitária, apresentada em placas gravadas em acrílico. Cada painel mede 90 cm de largura por 3,60 m de comprimento, impresso em computador sobre transparência.
Na arte islâmica, segundo Lygia, o muxaribis ou muxarabiê tem as mais diversas aplicações; pode ser usado como cobertura de paredes, utilizadas no chão, como pode também ser aplicada no teto e até em utensílios artísticos, com propósitos religiosos.
“No meu caso, entretanto, uso-os unicamente com objetivos meramente artísticos”, diz.

Uma aula de música

Silêncio. O concerto vai começar. Ninguém precisou falar, mas a quietude se fez quando o maestro pediu para o flautista dar a nota e os instrumentistas em seguida darem o acorde. Não sem antes explicar para as crianças do Colégio Fundamentum, de Valinhos, a importância de afinar os instrumentos, pedindo para ouvir a nota, antes de iniciar um concerto. O ensaio da Orquestra Sinfônica da Unicamp no dia 26 de outubro, no campus, tornou-se uma aula ilustrativa para os pequenos alunos, de 2ª a 4ª série, da professora de artes Maria Cecília Martins Pedroso.

Ao saber da iniciativa da orquestra de se aproximar da comunidade, por meio de visitas aos ensaios, Maria Cecília decidiu trazer os alunos para assistir ao concerto-ensaio da orquestra enquanto recebiam do maestro Eduardo Ostrergreen informações sobre a composição da orquestra, afinação de instrumentos. A peça chinesa Papoula Vermelha foi executada para dar noções de andamento. “É um andamento rápido”, explica o maestro.

“No momento, eles estão estudando sobre instrumentos musicais, e já começaram a tomar gosto, trazendo CDs dos pais para ouvir na aula”, afirma Maria Cecília. O objetivo das aulas ministradas por Maria Cecília é educar os alunos para a cultura da música clássica e, pelo comportamento das crianças durante o evento e pelos aplausos dados somente após o último acorde da música, o projeto já tem resultado. O telefone da orquestra é (19) 3289-3965.