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Pesquisadores criam kits e fornecem subsídios para desenvolvimento de vacinas

Zelando pela saúde animal

MANUEL ALVES FILHO

A professora Clarice Weis Arns (abaixo), do Laboratório de Virologia Animal (acima): facilitando a adoção de medidas sanitárias preventivas e curativas (Foto: Antoninho Perri) Assim como o homem, os animais também são suscetíveis a uma série de doenças que podem provocar desde um quadro de desconforto até a morte. Logo, do mesmo modo que os seres humanos, os animais precisam dispor de recursos que ajudem a protegê-los contra um sem número de males. Ao longo dos últimos 13 anos, pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, coordenados pela professora Clarice Weis Arns, têm se dedicado a estudos voltados para a preservação da saúde animal. As investigações, que vêm trazendo contribuições importantes nessa área, envolvem o cultivo de células animais. O objetivo do grupo é fornecer subsídios para o desenvolvimento de vacinas pelos laboratórios privados, sobretudo para o combate de viroses respiratórias. Os especialistas produzem, ainda, kits para o diagnóstico de variadas enfermidades, facilitando assim a adoção de medidas sanitárias preventivas e curativas.

Pesquisas envolvem cultivo de células

De acordo com a professora Clarice Arns, que é graduada em Medicina Veterinária, as pesquisas do Laboratório de Virologia Animal (LVA) estão dirigidas à prevenção de doenças que acometem animais de pequeno e grande porte, principalmente bovinos e aves (galinhas e perus). Atualmente, os estudos estão focados no combate a duas enfermidades em especial: o Vírus Respiratório Sincicial Bovino e a Pneumovirose Aviária. Ambas, embora não representem risco para a saúde humana, trazem sérios problemas respiratórios para os animais, podendo inclusive acarretar, nos quadros mais graves, a morte de parte do rebanho ou lote. “Essas doenças estão preocupando os produtores, pois elas podem provocar importantes reduções nas suas margens de lucro”, afirma a docente do IB.

A professora Clarice Arns (Foto: Antoninho Perri)O Vírus Respiratório Sincicial Bovino, explica a pesquisadora, ataca com mais freqüência os animais jovens, causando infecção respiratória. A transmissão se dá de forma rápida, entre o próprio rebanho. O animal contaminado apresenta o seguinte quadro: dificuldade para respirar, corrimento nasal, febre e apatia. “Além disso, o animal deixa de comer, o que faz com que ele perca peso justamente no período de seu maior desenvolvimento. Nos casos mais graves, que felizmente não são tão comuns, esse quadro pode evoluir para a morte”, conta Fernando Rosado Spilki, veterinário que faz doutorado sob a orientação da professora Clarice Arns.

Segundo ele, ao identificar a doença, o produtor deve separar os indivíduos enfermos do restante do rebanho e adotar medidas sanitárias, que incluem a administração de vacina e/ou antibióticos. Ocorre, porém, que esses procedimentos são muito caros e correm por conta do criador. “No Brasil, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e nos países da União Européia, o governo não concede ajuda financeira ao agricultor que enfrenta esse tipo de dificuldade. Por isso, é sempre melhor e mais barato prevenir essas doenças do que atuar no sentido de curá-las”, destaca Fernando Spilki. No caso da Pneumovirose Aviária, também conhecida como Síndrome da Cabeça Inchada, a situação é mais grave.

Como na criação de galinhas e perus os animais convivem muito próximos uns dos outros, a disseminação da doença é muito rápida e atinge um número expressivo de indivíduos. De acordo com a professora Clarice Arns, há relatos de que a virose pode acometer até 20% do lote. As aves enfermas apresentam um quadro respiratório muito grave, completado ainda por tosse, espirro (sim, aves tossem e espirram) e apatia. Muitos animais ficam tão debilitados que não conseguem se deslocar até o local onde está a comida, o que faz com que morram de fome. Ademais, a doença abre portas para a ação de outros microorganismos patogênicos. “Como o Brasil está entre os três maiores produtores e exportadores de aves do mundo, o controle desse tipo de doença é fundamental para evitar que a economia nacional sofra prejuízos”, lembra a docente do IB.

Também no caso da Síndrome da Cabeça Inchada, as medidas recomendadas passam, de acordo com a situação, pelo isolamento dos animais doentes e pela adoção de medidas sanitárias, com a conseqüente aplicação de medicamentos. Tanto a professora Clarice Arns quanto o pós-graduando Fernando Spilki afirmam que já existem vacinas no mercado capazes de prevenir bovinos e aves dessas enfermidades. Ocorre, porém, que esses imunizantes foram desenvolvidos com base nos vírus identificados na Europa e Estados Unidos, que podem ser diferentes daqueles encontrados no Brasil ou mesmo na América do Sul.

“Por isso é que esse tipo de pesquisa é importante. Além de buscarmos uma tecnologia nacional para a produção de vacinas, o que certamente vai baratear o custo final do produto, nós procuramos desenvolver substâncias com formulações próprias, capazes de agir com eficácia contra alguns tipos de vírus específicos”, esclarece a docente do IB. “Um outro problema que pode ocorrer se um vírus não for combatido adequadamente é o surgimento de vírus variante ocorrido pelo processo de mutação. Para evitar resistência às vacinas e promover uma boa proteção devemos utilizar vírus vacinal semelhante às amostras virais isolados no país”, acrescenta Fernando Spilki.

Os especialistas da Unicamp estimam que o Vírus Respiratório Sincicial Bovino chegou ao Brasil provavelmente na década de 1970, possivelmente por intermédio de animais importados da Europa e Estados Unidos. Já a Pneumovirose Aviária foi detectada e isolada pela equipe da professora Clarice Arns pela primeira vez na década de 1990. Existe a hipótese, que ainda não foi confirmada, de que o microorganismo causador da enfermidade tenha sido introduzido no país por aves migratórias. “É uma possibilidade que estamos investigando”, afirma a docente.

Atualmente, informam os pesquisadores do IB, o uso da vacina está relativamente disseminado entre os criadores de galinhas e perus. Um dos imunizantes vendidos comercialmente é nacional e foi produzido com base em estudos feitos pela equipe da professora Clarice Arns. “Esta vacina tem proporcionado resultados tão bons quanto as similares importadas”, assegura a docente. Já entre os criadores de gado a situação é diferente. Como a margem de lucro nesse setor é bastante estreita, medidas preventivas como a vacinação, que representam um alto investimento, têm sido pouco empregadas. No Brasil, diz Fernando Spilki, não há a obrigatoriedade da notificação das duas doenças.

Conhecimento disseminado – Além de executar pesquisas que auxiliam no desenvolvimento de vacinas destinadas a animais, a equipe comandada pela professora Clarice Arns, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, também realiza um importante trabalho de extensão. Por meio de cursos dirigidos a técnicos de empresas privadas, os especialistas da Universidade ensinam os interessados a mexer com o cultivo de células animais. Isso se aplica tanto às linhagens já existentes, conservadas em nitrogênio líquido a uma temperatura de 190 graus centígrados, quanto às células retiradas de órgãos de animais, como rim, fígado ou mesmo embrião.

Os laboratórios particulares, de acordo com a professora Clarice Arns, têm demonstrado um interesse crescente por esses cursos. “Isso ocorre porque essa técnica permite trabalhar em variados campos, como o da clonagem ou o do uso de células-tronco”, explica. Atualmente, prossegue a docente do IB, a sua equipe está ultimando os contatos para o desenvolvimento de uma nova linha de pesquisa em parceria com o Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), também da Unicamp. Os cientistas testarão extratos de plantas para identificar a sua capacidade antiviral. “Esse é um trabalho interessantíssimo, pois além de abrir uma nova perspectiva para o combate de determinadas viroses, ele envolve várias áreas do conhecimento, o que tende a enriquecer os estudos”, analisa a especialista.

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