| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 305 - 10 a 17 de outubro de 2005
Leia nesta edição
.. Capa
.. Artigo
.. Sol para todos
.. Aborto
.. Crise política
.. Nas bancas
.. O velho e o mar
.. Painel da Semana
.. Teses
.. Livro da semana
   Unicamp na midia
   Portal Unicamp
.. Ciência e cotidiano
.. Saúde animal
.. O resgate que deu samba
 

8

Qualidade de vida de pacientes com câncer de mama é avaliada
Por uma geladeira que gaste menos energia
A difícil inserção da mulher nos sindicatos
Estudo revela as linguagens (e as diferenças) do Hip Hop

Qualidade de vida de pacientes
com câncer de mama é avaliada

As mulheres com câncer de mama, no climatério, apresentaram melhor capacidade para realizar tarefas domésticas do que as mulheres sem a enfermidade, mas também no climatério. O estudo, realizado com 182 mulheres entre 45 e 65 anos, freqüentadoras dos ambulatórios de Oncologia Mamária e Menopausa do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), teve o objetivo de comparar diversos aspectos relacionados ao climatério e qualidade de vida em dois grupos distintos.

Autor da tese de doutorado “Câncer de mama, menopausa e qualidade de vida”, apresentada na Faculdade de Ciências Médicas, o ginecologista Délio Marques Conde aplicou questionários de reconhecimento internacional para penetrar no universo das mulheres no climatério. Na verdade, Conde queria entender as questões que agravam o estado das mulheres no climatério acometidas pelo câncer de mama. Orientado pelo professor Aarão Mendes Pinto-Neto, ele identificou que a prevalência de sintomas do climatério é semelhante nos dois grupos estudados. As ondas de calor são as queixas mais freqüentes. Quando o assunto é atividade sexual, as mulheres com câncer referiram menor prática do que as sem câncer.

O mais incrível, no entanto, foi descobrir que a qualidade de vida das mulheres com e sem câncer de mama são igualmente boas, mas a capacidade funcional foi considerada melhor no grupo com neoplasia maligna. Uma das justificativas sugeridas pelo médico para o resultado inesperado seria o apoio oferecido pelo Caism às mulheres portadoras de tumor. Todas as entrevistas já haviam sido operadas e passaram por quimioterapia ou radioterapia. Mas a atenção dada a elas pode ter feito a diferença. “Existe uma equipe multidisciplinar com médicos, psicólogos, enfermeiros, assistente social e fisioterapeuta. As pacientes têm oportunidade de tirar dúvidas e isso pode minimizar o impacto negativo da fase aguda”, explica Conde.

Por uma geladeira que gaste menos energia

O engenheiro Herculano Xavier da Silva Júnior: "Em busca de ajustes energéticos" (Foto: Antoninho Perri) Um modelo de refrigerador que gaste o mínimo de energia elétrica pode estar próximo da realidade. Estudos realizados na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) propõem mudanças simples, mas importantes para melhorar a eficiência energética das geladeiras brasileiras de uma porta. Uma delas, de acordo com o estudo, seria o aumento da espessura da porta e paredes do refrigerador. Isto dificultaria a transferência de calor e aumentaria o desempenho do equipamento. Outras sugestões seriam o aumento da área do congelador e o afastamento do condensador – parte de trás da geladeira. “Estes ajustes poderiam melhorar o funcionamento e, com isso, obter maior ganho energético”, explica o engenheiro Herculano Xavier da Silva Junior. Ele elaborou, orientado pelo professor Gilberto Januzzi, a dissertação de mestrado “Aplicação das metodologias de análise estatística e de análise do custo do ciclo de vida (ACCV) para o estabelecimento de padrões de eficiência energética: refrigeradores brasileiros”.

No trabalho, Silva Jr. propõe melhor esclarecimento com relação aos programas de selos e padrões de eficiência energética dos refrigeradores de uma porta. O engenheiro explica que as informações divulgadas nestes padrões não são claras, pois não consta como se chegou aos cálculos de eficiência. Exemplo disso é que Silva Jr. avaliou dois modelos da mesma marca, só que um fabricado no Brasil e o outro no exterior. O resultado da análise constatou que a marca nacional gastava até 45% a mais de energia do que o de origem estrangeira. Para chegar às conclusões do trabalho, o engenheiro se pautou na aplicação de metodologias de Análise do Custo do Ciclo de Vida (ACCV) e Análise Estatística para avaliar os impactos do aumento de eficiência energética nos equipamentos. Este tipo de análise possibilita conhecer melhor o mercado e cruzar informações de custo, capacidades tecnológicas e emissão de dióxido de carbono.

Silva Jr. esclarece que os resultados de seu trabalho apresentam dados importantes para subsidiar discussões mais aprofundadas com os fabricantes e com o governo no sentido de se estipular os padrões mínimos de eficiência para os refrigeradores brasileiros. Ele lembra que é comum deparar com consumidores que na hora da compra de um refrigerador acabam se decidindo pelo menor preço, quando a decisão deveria levar em consideração a eficiência energética do aparelho divulgada através do selo Procel – em geral afixado em local visível do equipamento. Ele apurou que determinadas marcas de refrigeradores, embora mais caras, compensam o investimento nas inovações tecnológicas frente à economia de energia que podem proporcionar futuramente. “Uma geladeira tem, em média, 16 anos de vida útil. Por exemplo, para os modelos estudados, nos primeiros seis anos seriam pagos o valor do investimento e no tempo restante, o consumidor ganha com a economia de energia. Além, é claro, do ganho ambiental”, esclarece.

A difícil inserção da mulher nos sindicatos

A cientista política Verônica Clemente Ferreira: "Não são criados mecanismos para facilitar o acesso da mulher" (Foto: Antonio Scarpinetti)Nos sindicatos, espaços considerados democráticos, as mulheres ainda enfrentam sérias dificuldades. Prova disso é a própria estrutura organizacional – invariavelmente, as reuniões sindicais são realizadas à noite ou aos sábados e os encontros de plenária duram dois ou três dias, ou seja, trata-se de uma agenda difícil de ser cumprida por mulheres que trabalham fora ou que estejam envolvidas com afazeres domésticos. Essas questões foram levantadas pela cientista política Verônica Ferreira em sua dissertação de mestrado “Sindicatos: Espaços para a atuação das mulheres? Um estudo sobre a participação das mulheres em sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores num cenário de reestruturação produtiva (1986-1999)”.

No estudo, Verônica discute os entraves da inserção das mulheres no movimentos sindicais e o afastamento da parcela feminina nestes espaços. “As lideranças justificam a não-participação da mulher porque as mesmas possuem dupla jornada. Eles aceitam que há o impedimento, mas não mudam as estruturas e não são criados mecanismos para facilitar o seu acesso”, atesta Verônica. A pesquisa tomou como objeto de estudo três sindicatos de São Paulo, todos muito respeitados no meio político – o dos Metalúrgicos do ABC, dos Químicos e dos Bancários – os três filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Além de entrevistas com lideranças sindicais e revisão bibliográfica sobre o assunto, a cientista política também recorreu à documentação dos sindicatos e ao banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).

Com a orientação da professora Ângela Carneiro Araújo, Verônica apurou que no caso do Sindicato dos Bancários, em que houve, nos últimos anos, uma inversão no perfil de trabalhadores – atualmente predomina o sexo feminino nas agências – a incorporação dos direitos da mulher foi melhor encaminhada. “Como resultado da militância feminina e também da compreensão das transformações da categoria por parte dos líderes sindicais, houve progressos no que diz respeito à maternidade, na igualdade de oportunidades e uma preocupação maior com doenças que afetam mais diretamente as mulheres, como as Lesões por Esforços Repetitivos. O que não ocorre nos outros dois sindicatos, no qual se observa maior número de homens nas empresas e nas lideranças sindicais. Nestes sindicatos as reivindicações se pautaram nas questões de salário e emprego”, constata.

Para Verônica, a década de 80, foi marcada pelo início da inserção femina nos sindicatos e pela ampliação do debate sobre relações de gênero, com a criação da Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora, vinculada à CUT. Já na década de 90, a reestruturação industrial e financeira no país foi fundamental para a reorganização dos sindicatos. O cenário se mostrou hostil ao movimento sindical, gerando a modificação do perfil de cada categoria. “Foi um período conflituoso e os sindicatos tiveram que repensar mecanismos para manter sua representatividade e, até mesmo, sua sustentação financeira, atentando para os interesses de vários segmentos, principalmente as mulheres”, explica.

Estudo revela as linguagens
(e as diferenças) do hip hop

Tânia Ximenes Ferreira, autora da dissertação: "Mudança na proposta do movimento" (Foto: Antoninho Perri)A fala de Kid Nice demonstra, em parte, um período de ruptura pelo qual passa o hip hop, em Campinas. Nascido, originariamente, como um meio de contestação e protesto através da dança (break), desenho (grafite) e música (rap), o estilo marcado pela unidade entre as diversas manifestações tem sido acometido por diferenças e conflitos. “Tem grafiteiro que não gosta de break, que por sua vez não gosta de rap”. Outro integrante do movimento, o grafiteiro Almir, complementa “É tudo próximo, mas não se fala a mesma língua”, disseram os hip hoppers no vídeo É a Torre de Babel?, que integra a dissertação de mestrado “Hip hop e educação: mesma linguagem, múltiplas falas”, de Tania Ximenes Ferreira, apresentada na Faculdade de Educação.

Mais do que um objeto de pesquisa, as entrevistas com os principais hip hoppers da velha e nova escola da cidade, foram uma parada para a reflexão. “O estudo queria responder à pergunta: estaria o movimento passando por uma crise?”, indaga Tania. Militante do estilo criado nos Estados Unidos na década de 70, a autora buscou compreender as ambigüidades e conflitos presentes entre os grupos, abordando sua trajetória de construção na cidade. “O que se observa é uma mudança na proposta do movimento, que diferencia uma expressão da outra. A dança, a música e o desenho não têm se reunido de forma homogênea. Existem muitos grupos que não se preocupam com a questão do protesto, da contestação e da luta racial, que são características muito importantes no hip hop. Muitos se apegam ao estilo para a promoção social, festividades e diversão. O que se evidenciou é que neste mesmo contexto ambíguo, o hip hop tem se mantido e as diferenças contribuído para seu crescimento”, esclarece a pesquisadora.

A dissertação, orientada pela professora Áurea Maria Guimarães, foi elaborada a partir de dados levantados em entrevista coletiva semi-estruturada e técnica de vídeo. O grupo de entrevistados foi escolhido de forma intencional por se tratar de uma pesquisa qualitativa. “Durante o encontro, o entrevistador faz as adaptações necessárias e, embora siga um roteiro, não o aplica rigidamente; é uma entrevista mais longa, mais cuidada, com grande flexibilidade”, explica a autora.

O estudo indica que o break foi uma das primeiras expressões a chegar em Campinas na década de 80 como dança de rua. Primeiramente as apresentações eram feitas nos bairros de periferia. Mais tarde, o Largo do Rosário ganhou as cores das piruetas e acrobacias dos grupos que se reuniam semanalmente e, nos anos 90, foi a vez do Paço Municipal ser eleito o cenário dos breakers (dançarinos). Neste momento, o break já havia se unido à música e ao grafite, constituindo o hip hop campineiro. Em 1989 foi dividido em velha e nova escola, a exemplo do modelo preconizado pelos Estados Unidos.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2005 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP