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Professor do Instituto de Química está na Unicamp desde 1968 e já orientou 43 teses


Trajetória brilhante leva
Airoldi à Academia de Ciências

LUIZ SUGIMOTO

O professor Cláudio Airoldi, que foi empossado membro da ABC no último dia 6: "É importante assegurar um quadro de pesquisadores competentes e dinâmicos" Fotos: Antônio ScarpinettiClaudio Airoldi, professor titular e decano do Instituto de Química (IQ), foi empossado como membro da Academia Brasileira de Ciências no dia 6 de maio. Tendo 40 anos de Unicamp, orientado 43 teses que resultaram em 336 publicações, e se inserido na própria evolução da ciência no país, pode-se dizer que a homenagem ao pesquisador demorou. “É uma aspiração de todos nós: se trabalhamos na academia, pertencer à Academia Brasileira de Ciências é um fato marcante da vida”.

‘A Química hoje tem penetração em todas as áreas’

Graduado na USP, Airoldi ficou ressabiado com os canaviais quando veio ajudar na construção da Unicamp, em 1968. Hoje, ao olhar para trás, acha que teve sorte. “Se permanecesse em São Paulo, com certeza ficaria amarrado à estrutura do Instituto da USP, que é bem mais fechada. Aqui, a estrutura estava aberta, com toda acessibilidade, por exemplo, a instrumentação. Isso facilitou muito o desenvolvimento do Instituto de Química. A juventude também ajudou a enfrentar aquela situação nova e desafiadora”.

Claudio Airoldi já acumulou tempo para se aposentar, mas nem pensa na hipótese. Além de envolvido com os temas mais atuais da química inorgânica, o docente conserva o prazer em formar recursos humanos. “É importante assegurar um quadro de pesquisadores competentes e dinâmicos que levem adiante esta base criada no país. Nosso Instituto goza de ótima posição em termos de ensino, pesquisa e extensão, mas dentro de dez anos os interesses científicos serão outros e precisaremos de gente capacitada para buscá-los”.

Desde os canaviais, Airoldi sempre batalhou para assegurar um ambiente de trabalho saudável, atraindo alunos interessados na pesquisa. “A entrada na Academia nos leva a repensar nossa trajetória. Acho extremamente compensador ver tantos ex-orientados como docentes nas universidades brasileiras. O que me mantém motivado para os anos adiante é perceber que posso continuar contribuindo para a ciência. Um bom número de jovens me procura para orientar suas teses, o que significa que estou em compasso com a ciência”.

Na opinião do professor, hoje a formação de recursos humanos de bom nível tornou-se bem mais fácil, já que o estudante chega à universidade com completo domínio da mídia, buscando informações em todas as partes do mundo, que chegam instantaneamente. “O aluno ganhou um tempo enorme para os estudos em comparação com a minha geração, que gastava horas e horas para obter informações”.

Nesse sentido, Claudio Airoldi e outros pioneiros que se mantêm na Universidade e possuem grande conhecimento acumulado, se atribuem o papel fundamental de orientar seus pupilos neste mar de informações. “Mesmo o pós-graduando não apresenta maturidade suficiente para distinguir com exatidão o que é mais ou menos importante. Nós, que sabemos da potencialidade do aluno, devemos incentivá-lo na elaboração e aprimoramento do projeto de pesquisa, e cuidar para que ele não perca o foco”.

Campo vasto – Em relação aos graduandos, o docente ressalta a abertura de um campo vastíssimo para a química. “Por vezes, eles me procuram meio que desanimados com o mercado de trabalho. Digo que não estão considerando os outros campos da ciência ou a amplidão da atividade que a Química proporciona. A química, atualmente, é uma das ciências que tem penetração em todas as áreas, na indústria ou na academia, e também no ensino, que padece de deficiência preocupante de pessoal”.

Airoldi observa que a química inorgânica, em particular, tornou-se amplamente interdisciplinar, contribuindo em áreas como medicina, engenharias, ciências biológicas e a ambiental, onde é importante o conhecimento de um fenômeno sob o ponto de vista químico. “Tempos atrás, dizia-se apenas que havia muito dióxido de carbono na atmosfera. Hoje temos todos os meios de saber sua concentração exata e como está afetando o ar, a terra, a água e o nosso modo de vida”.

O empenho do docente não visa a uma formação específica, que leve o aluno a atuar no ensino, na pesquisa ou na indústria. “Não considero esse aspecto fundamental. Mas é importante já na graduação, e imprescindível na pós-graduação, que ele saiba muito bem o que fazer com a Química. Deve ter o conhecimento e a desenvoltura para sentar-se à mesa com outros químicos e indicar a solução de um problema”.

Patentes – Encontrar aplicações para suas pesquisas em química inorgânica não é prioridade para Claudio Airoldi, embora ele tenha chegado a algumas patentes, que na sua visão servem para “marcar o conhecimento”. “O setor mais ativo no momento talvez seja o de materiais. Duas patentes referem-se a materiais para colunas cromatográficas usadas para promover separações químicas, o que é muito importante, por exemplo, na elaboração de fármacos”.

O pesquisador informa que seu grupo também está patenteando compostos novos que podem ser utilizados para catálise. “Uma das grandes possibilidades que vislumbramos para nossos materiais é para fins ambientais, possibilitando a retirada de metais de efluentes e de outros contaminantes do meio ambiente. São todos materiais sintetizados no nosso Laboratório de Termoquímica de Materiais”.

Segundo Airoldi, a indústria ainda não demonstra um interesse pronunciado por pesquisas da universidade, já que a maioria delas não atende a seus objetivos imediatos. “Isto é compreensível. Mas, por outro lado, acho que a função da academia não é resolver problemas pontuais e sim demonstrar a potencialidade de uso de uma técnica ou de um produto. É diferente do que ocorre em países mais desenvolvidos, onde um centro de pesquisas é voltado para resolver um problema específico e conta com grande disponibilidade de recursos financeiros e humanos, o que não é nosso caso”.

Diferencial – O professor afirma que os seus trabalhos publicados têm como grande diferencial o uso da calorimetria, técnica que permite medir as variações energéticas em inúmeros processos químicos. “Muitos pesquisadores, no mundo inteiro, podem realizar os mesmos experimentos com a instrumentação de que dispõem, mas as informações adicionais obtidas com o calorímetro tornam os estudos do nosso laboratório bem diferenciados”.

Na última saleta do laboratório, Airoldi mostra o primeiro calorímetro adquirido, na volta do seu pós-doutorado na Inglaterra. “Era o período do milagre brasileiro, 1974, e o reitor Zeferino Vaz conseguia dinheiro para a compra de qualquer equipamento importante para a Universidade. O calorímetro era um instrumento extraordinário para nosso pequeno grupo de químicos que buscava novos rumos na pesquisa em inorgânica. Fomos os pioneiros e hoje somos referência em calorimetria na América Latina”.

O pesquisador observa que tal ousadia seria impossível nos dias de hoje, em alusão ao alto custo dos calorímetros mais modernos. Foram comprados mais dois e pensa-se em outro, mas por meio de recursos de órgãos financiadores de pesquisa. “Este equipamento mais recente é capaz de medir, simultaneamente, quatro reações diferentes, podendo ser programado para funcionar por longos períodos, enquanto o sistema informatizado coleta e armazena as informações. No antigo, o aluno precisava passar a noite em claro acompanhando o processo”.

Quem é

Cláudio Airoldi completou a sua graduação no Instituto de Química da USP e veio dar aulas na Unicamp por indicação do professor Geraldo Vicentini, seu orientador da tese de doutorado. Foi contratado no início de 1968, com a permissão de paralelamente desenvolver a parte experimental da tese de doutorado na USP – título que significou sua efetivação em 1970. Tem pós-doutorado em Londres (1973), estagiou em Roma e Bologna, fez a livre docência no IQ (1979) e é professor titular desde 1988.

Airoldi foi ganhador da primeira edição do Prêmio Scopus (2006), uma iniciativa da Editor Elsevier Brasil, com apoio da Capes, visando a contemplar pesquisadores brasileiros que ao longo da carreira apresentaram uma produção de excelência na Base de Dados Scopus, a mais ampla existente no mercado.

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