| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 401 - 30 de junho a 13 de julho de 2008
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Evento realizado em São Paulo debate
estratégias de valoração e comercialização de tecnologias

Conecta 2008 pavimenta ponte
entre universidades e empresas

VANESSA SENSATO

Especial para o JU

Antonio Carlos Reinholz, da Click Automotiva: introdução de novos produtos para poder competir (Fotos: Antônio Scarpinetti)Click Automotiva, Orbys e Bematech. O que essas empresas têm em comum? Elas apresentaram durante o evento Conecta 2008 seus casos de sucesso na interação com universidades. Realizado no dia 25 de junho, o Conecta 2008 reuniu cerca de 200 pessoas em São Paulo, entre empresários, alunos e profissionais de instituições de ensino e pesquisa e de fomento para discutir estratégias de comercialização e valoração de tecnologias.

Metodologia auxilia núcleos de inovação

O evento foi promovido pelo Programa de Investigação Tecnológica de São Paulo (PIT-SP), projeto executado pela Unicamp, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), objetivando a aplicação de uma metodologia de avaliação de tecnologias desenvolvidas nestas instituições. A metodologia, criada pelo Instituto Inovação, é conhecida por Diligência da Inovação e tem por objetivo auxiliar os núcleos de inovação tecnológica das universidades a profissionalizar e aprimorar as possibilidades de transferir tecnologias originadas nestas em benefício da sociedade.

Eduardo Figueiredo, diretor da Orbys: parceria aumenta competitividade e desempenhoAs empresas foram convidadas a participar do evento para compartilhar suas experiências em valoração de tecnologias e suas perspectivas no momento da negociação. Cada qual com diferentes histórias e tecnologias em diversos estágios de desenvolvimento, suas apresentações exemplificaram o cenário da cooperação tecnológica entre universidade e empresas no Brasil.

O diretor geral da Click Automotiva, Antonio Carlos Reinholz, apresentou um projeto de cooperação cuja interação ainda está em curso, pois o produto está em fase de desenvolvimento. A Click licenciou, em dezembro do ano passado, uma tecnologia de identificação de combustíveis adulterados desenvolvida pelo professor Carlos Kenichi Suzuki da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. “Identificamos a necessidade de introduzir novos produtos em razão da alta competitividade de nosso mercado”, revelou. Reinholz disse que a empresa criou um departamento de pesquisa e desenvolvimento, que identificou que a tecnologia desenvolvida na Unicamp poderia ser aplicada na Click. A negociação foi realizada por meio da Agência de Inovação Inova Unicamp.

Milton Ribeiro, diretor de tecnologia da Bematech: retorno foi de 550 vezes o valor investidoEduardo Figueiredo, da Orbys, também contou com a ajuda da Inova Unicamp para a negociação que envolveu o projeto de desenvolvimento cooperativo com o professor Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Unicamp. Figueiredo disse que a empresa apostou na parceria para aumentar sua competitividade e desempenho. A tecnologia, fruto do projeto de pesquisa cooperativo entre a Orbys e a Unicamp, gerou uma patente com co-titularidade de um nanocompósito polimérico, derivado da mistura de látex de borracha natural com argila, o IMBRIK®. Já no mercado, o IMBRIK® é utilizado na produção de bolas de tênis. A aplicação da nanotecnologia proporcionou a ampliação da durabilidade das bolas de 12 para 18 semanas.

Figueiredo ressaltou que a confiança gerada pela reputação tanto do professor como da Universidade, e flexibilidade da parceria, foram muito positivas no processo, que gerou o produto com sucesso. Por outro lado, o executivo colocou o alto investimento e o longo prazo para desenvolvimento da tecnologia como pontos fracos na parceria.

O professor Leonardo Pereira Santiago, da UFMG: opções reais consideram cenários e possibilidadesMilton Ribeiro, diretor de tecnologia da Bematech, trouxe o exemplo de uma empresa que surgiu dentro de uma universidade. Os sócios da empresa eram alunos de mestrado quando resolveram transformar o projeto em start up. Segundo Ribeiro, a Bematech passou por várias etapas de investimento até a abertura de capital no ano passado. “Na primeira fase, em 1991, recebeu investimento Angel de 150 mil dólares”, detalhou. Ribeiro colocou que a avaliação de qual seria a participação do investidor foi feita de uma maneira simples. Os sócios calcularam quanto investiram em capital sweat, ou seja, em trabalho, nos três anos para chegar ao valor. Em 1995 a empresa recebeu dois milhões de dólares em Venture Capital, o capital de risco. A abertura de capital teve como objetivo a expansão da empresa. Ribeiro foi incisivo ao falar do momento de investir. “O retorno do investidor Angel foi de 550 vezes o valor investido”, afirmou.

O professor Leonardo Pereira Santiago, da Universidade Federal de Minas Gerais, apresentou algumas técnicas de valoração de tecnologias. Ele também colocou que, ao investir no início do O professor João Furtado, da Escola Politécnica da USP: tecnologia é moldada quando o pesquisador olha o mercadodesenvolvimento da tecnologia, o investidor incorpora a seu capital as incertezas do processo de desenvolvimento e que, por isso, o retorno é mais alto do que quando o produto está desenvolvido. Para o professor, a técnica mais aplicável à valoração de tecnologias e empresas tecnológicas é a de opções reais, pois esta considera o cenário, possibilidades e condições gerenciais no momento da valoração.

“Monstro tecnológico” – Um dos pontos altos do evento, a palestra do professor João Furtado, da Escola Politécnica da USP, trouxe mais argumentos para a discussão sobre as parcerias entre institutos de ciência e tecnologia e empresas. Num discurso rico em metáforas, Furtado observou que a tecnologia nasce como um monstro, e suas formas são moldadas quando o pesquisador volta seu olhar para o mercado.

O olhar para o mercado também foi apontado por Mario Borin, da Festo, como essencial na interação universidade e empresa. Para Borin, há tecnologias a serem Mario Borin, da Festo: “É importante que as universidades tenham disciplinas de gestão de negócios”transferidas, mas falta marketing para as instituições de ciência e tecnologia. “Pesquisadores precisam aprender a vender o seu peixe”, colocou. Segundo ele, quando pretendem vender um projeto, pesquisadores ainda mostram os benefícios do ponto de vista técnico, e deixam de lado o ponto de vista socioeconômico, que é essencial para a empresa. “É importante que as universidades tenham disciplinas de gestão de negócios. O conhecimento técnico não é suficiente no momento de fechar uma parceria”, opinou.

Robert Binder, gestor do fundo Criatec de investimento, também destacou o envolvimento dos núcleos de inovação como fundamental. “O NIT tem um papel importante em avaliar se a tecnologia é melhor licenciada ou para a geração de um start up”, afirma.

Mediador da mesa redonda do evento, Roberto Lotufo, diretor executivo da Inova Unicamp, afirmou que uma das maiores contribuições do projeto PIT-SP é justamente na profissionalização dos NIT, através dos relatórios Robert Binder: para gestor do fundo Criatec, envolvimento dos núcleos de inovação é fundamentalresultantes da avaliação das tecnologias. “Esses documentos abordam não só características técnicas dos produtos, como também os aspectos de mercado, que podem tornar a tecnologia interessante para possíveis investidores. Para que universidades e empresas possam conversar”, colocou.

Já Oswaldo Massambani, diretor da Agência USP de Inovação, em seu discurso de encerramento do evento, colocou que a importância do PIT-SP está na rede de cooperação que firmou entre as mais importantes Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) do Estado de São Paulo. “Evoluímos de uma atividade muito relacionada à produção de papers para um ambiente em que há espaço para políticas de incentivo à inovação dentro das ICTs”, destacou.

A professora Maria Teresa Rodrigues, coordenadora do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp, que participou do evento, lembrou que há outras variáveis no processo. Ela observa que muitas das grandes empresas não têm um canal aberto para fazer esta interação. “Não Roberto Lotufo, diretor executivo da Inova Unicamp: profissionalização dos NIT é uma das contribuições do PIThavia uma cultura de desenvolvimento de tecnologias no país. As universidades não eram vistas como criadoras de tecnologia”, rebateu. Mas, segundo ela, com o novo modelo de inovação tecnológica, o quadro muda, pois as universidades criaram um canal. “Os núcleos de inovação, como a Inova Unicamp, facilitam e conseguem suporte para pesquisadores que identificam aplicações para suas pesquisas”, afirmou. Entretanto, a pesquisadora colocou que é necessário que as grandes empresas sigam o mesmo caminho. “A parceria envolve riscos tanto para a empresa, que investe o capital, quanto para a universidade, que investe tempo nos projetos”, relatou.

Através do projeto PIT-SP a Unicamp analisou 72 tecnologias. Janaína César, gerente do PIT na Universidade explicou que 30 dessas análises foram pela metodologia de diligência completa, 21 pela diligência light e 21 por pré-diligência. As análises resultaram no depósito de 10 patentes. “Outras oito tecnologias já estão em processo de redação junto a escritórios de patentes”, colocou. Durante o evento Conecta 2008 também foi lançada a Revista Conecta, que apresenta parte das tecnologias analisadas nas sete instituições e reportagens sobre a inserção das ICTs no ambiente de inovação brasileiro. A revista está disponível em versão PDF no site do PIT-SP.

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