Leia nesta edição
Capa
Opinião
Luta pela terra
Software
Nascimento da imprensa
Sons da natureza
Plantas ornamentais
Grande Desafio
Moléculas
Painel da semana
Livro da semana
Teses
Unicamp na mídia
Portal da Unicamp
Empresa jovem
Jongo
 


4

Programa seleciona equipamentos a serem
utilizados no processamento de produtos agrícolas

Software simula processos de secagem

MANUEL ALVES FILHO

Kil Jin Brandini Park, autor da pesquisa: tecnologia tem a capacidade de apontar diretamente o melhor produto para uma determinada necessidade (Foto: Antônio Scarpinetti)Assim que concluiu a graduação em Engenharia de Computação na Unicamp, Kil Jin Brandini Park decidiu que também cursaria a pós-graduação na Universidade, mas em uma área diferente da sua, como forma de ampliar e diversificar seus conhecimentos. Mês passado, ele defendeu tese de doutorado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). O trabalho acadêmico elaborado por Kil culminou com a construção de um software de simulação voltado a processos de secagem. Alimentado com dados específicos, o programa é capaz de selecionar e dimensionar equipamentos a serem utilizados na secagem de produtos agrícolas, notadamente alimentos. Atualmente, o engenheiro de computação estuda a possibilidade de pedir o registro de patente da tecnologia.

Dados vão para planilha e geram gráficos

Kil desenvolveu o software em módulos. Estes contemplam dados relacionados ao ar, ao produto e ao equipamento envolvidos no processo de secagem. Em relação aos dois primeiros itens, segundo o pesquisador, existe uma vasta literatura a respeito. “Entretanto, no que toca aos secadores, as informações são escassas, visto que envolvem questões ligadas aos negócios das empresas e à propriedade intelectual”, explica. Justamente por isso, o autor da tese considera que o programa ainda precisa ser “refinado” antes de ser eventualmente usado pela indústria. “Para que se torne aplicável de fato, o software precisa ser alimentado com mais dados sobre os secadores disponíveis no mercado”, acrescenta.

Para validar o programa, o engenheiro de computação trabalhou basicamente com dados relativos a grãos, frutas e legumes. Essas informações, somadas aos conhecimentos disponíveis acerca do fluxo e caracterização do ar e às especificações de alguns secadores comerciais, alimentam o software, que por sua vez gera simulações do processo de secagem. Como resultados dessas simulações são obtidos a seleção e o dimensionamento de equipamentos voltados a uma necessidade particular. Uma das vantagens do uso desse tipo de ferramenta na indústria, conforme Kil, é a possível supressão de algumas etapas dentro do processo de desenvolvimento de novos equipamentos. “Dependendo do nível de refinamento dos dados de entrada, é possível até mesmo dispensar a construção de protótipos, visto que essa normalmente é uma fase cara e demorada”, infere.

Outra vantagem do software, destaca o autor da tese, é que ele gera curvas que facilitam a visualização do processo de secagem. Tais dados, ao serem transportados para uma planilha eletrônica, dão origem a gráficos que podem ser facilmente interpretados. “Dessa forma, o programa também pode vir a ser uma poderosa ferramenta didática, pois o professor contará com um recurso adicional para explicar ao seu aluno aspectos relativos à cinética de secagem, à isoterma de sorção e demais fenômenos de transferências de calor e massa que ocorrem durante a secagem”, considera Kil. No que se refere à seleção de equipamentos, o software pode fornecer tanto uma análise qualitativa como quantitativa. Ou seja, a tecnologia tem a capacidade de apontar diretamente o melhor produto para uma determinada necessidade ou estabelecer um ranking, por meio da concessão de pontos, dos aparelhos que poderiam servir a uma dada finalidade.

Quanto ao dimensionamento, o algoritmo criado pelo engenheiro de computação fornece o resultado da simulação em metros quadrados, considerando um secador genérico. “Entretanto, fazendo o refinamento e alimentando o software com dados de produtos reais, é possível dimensionar um equipamento destinado a uma necessidade especifica”, reforça Kil. O trabalho elaborado pelo pesquisador apresenta, ainda, mais um diferencial. O programa contém um banco de dados com boa parte das informações amealhadas ao longo do estudo. “Isso tende a facilitar o trabalho do usuário, visto que ele não precisará procurar pelas informações que já estão compiladas”.

Kil esclarece que o código-fonte do programa ainda não está disponível porque é provável que peça o registro de patente da tecnologia. “Essa decisão não envolve propriamente uma questão financeira, mas de crédito intelectual. Não tenho a intenção de manter o software guardado a sete chaves, mas penso que é preciso tomar alguma iniciativa para preservar a propriedade intelectual envolvida no seu desenvolvimento. Futuramente, num trabalho de pós-doutorado, penso disponibilizá-lo na web para consultas”, antecipa o autor da tese. O trabalho foi orientado pelo professor Inácio Maria Dal Fabbro, da Feagri, e co-orientado pelo pesquisador Félix Emilio Prado Cornejo, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).  Kil também contou, nos dois primeiros anos do doutorado, com bolsa de estudo fornecida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Conservação – A secagem é um dos mais antigos métodos de conservação de alimentos conhecidos pelo homem. Existem informações de que o recurso já era utilizado no antigo Egito. Dito de modo simplificado, a secagem consiste na redução do teor de umidade de um produto. Com isso, reduz-se igualmente a atividade microbiológica e amplia-se o prazo de vida útil. A secagem não substitui todos os processos de conservação de alimentos, como os que empregam substâncias químicas, mas é especialmente útil quando se pretende preservar as características orgânicas do alimento. “A secagem também é importante porque muitos países estabelecem barreiras fitossanitárias que impedem a entrada de produtos importados em seus territórios, sem que eles tenham passado por esse tipo de processo”, lembra Kil.

Além disso, acrescenta o pesquisador, a secagem também é um método que pode agregar valor a um produto. “Por hipótese, um alimento pode deixar de ser vendido in natura e passar a ser comercializado como um produto industrializado”, explica o pesquisador. De acordo com pesquisas disponíveis, entre 10% e 25% da energia gasta pela indústria nas nações desenvolvidas é destinada para processos de secagem. “Assim, qualquer busca para otimizar o uso dessa energia é importante. Penso que meu trabalho pode trazer contribuições nesse sentido”, analisa Kil.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2008 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP