| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 328 - 26 de junho a 2 de julho de 2006
Leia nesta edição
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Patente de mourão de pneus aguarda investidores

CARMO GALLO NETTO

O professor Antonio Batocchio, da FEM, chefe da equipe que desenvolveu o projeto: 5 bilhões de pneus velhos  atenderiam apenas 10% do mercado (Foto: Antonio Scarpinetti)O automóvel, sonho de consumo das sociedades modernas, gera dois problemas ambientais sérios: a queima de combustíveis fósseis e o acúmulo de pneus usados inservíveis, cujo descarte é problemático em todo o mundo. Sua queima é proibida na quase totalidade dos países da Comunidade Européia. No Brasil, constituem 2% da mistura asfáltica, mas o maior descarte acontece nas fábricas de cimento, que os utilizam como combustível, prática que não deve perdurar por dar origem a gases tóxicos e até cancerígenos. Mas esses pneus estão prestes a ter um destino útil, na sua transformação em mourões para cerca, substituindo a madeira bruta ou tratada, o concreto e mesmo o mais recente recurso do plástico.

Processo pode gerar
produtos como dormentes e tubulações

O invento, já com a patente internacional que atesta seu ineditismo, chegou à Unicamp pelas mãos de Reynaldo Teixeira do Amaral Junior, que procurava um parceiro com credibilidade para aperfeiçoá-lo, testá-lo e projetar as máquinas necessárias para sua produção em escala. O projeto, com as várias etapas de desenvolvimento e estudo de viabilidade econômica, foi realizado pela equipe do professor Antonio Batocchio, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, e aguarda investidores interessados.

Segundo Amaral Jr., o projeto conta com a aprovação da Associação Nacional de Indústrias de Pneus (Anip), entidade que congrega os fabricantes de pneus no Brasil, e do Ibama, que reconhece o caráter ecológico da iniciativa. Com pequenas variações, o mesmo processo de fabricação dos mourões para cercas pode ser utilizado no desenvolvimento de protetores para estradas (grade rails), porteiras e portões de sítios e fazendas, tubulações para escoamento de águas pluviais, entre outros produtos.

O plantador de eucaliptos e inventor Reynaldo Teixeira do Amaral Jr.: idéia surgiu ao se deparar com pneus inservíveis jogados no lago da fazenda (Foto: Neldo Cantanti)Paralelamente ao projeto, a equipe da FEM montou um plano de negócio para mostrar a viabilidade da fabricação. “Fizemos um estudo de mercado a fim de detectar o potencial de vendas do produto. Para atender a apenas 10% do mercado de mourões para cerca (considerando grandes e pequenas propriedades, além de cercas de proteção nas estradas), apuramos uma demanda de 1 bilhão de mourões e o consumo de 5 bilhões de pneus”, informa Batocchio.

Reynaldo do Amaral acrescenta a possibilidade de uso do produto como dormentes de estradas de ferro. Ele estima, para os 35 mil quilômetros de ferrovias do país, a necessidade de reposição de aproximadamente 8 milhões de dormentes/ano, o que consumiria 40 milhões de pneus. O mourão de pneu, segundo seu idealizador, pode durar algumas décadas e tem custo próximo ao de mourão de madeira não tratada, que perece em cinco anos. O professor Batocchio lembra ainda que o projeto permite um destino útil e adequado ao pneu hoje queimado ou utilizado na mistura asfáltica – e sem o que geraria um enorme estoque para os fabricantes, obrigados pela legislação vigente a recolher um pneu inservível para cada um que produzem.

O projeto elaborado pela equipe de Batocchio prevê várias etapas, com destaque para as iniciais. A primeira destina-se ao redesenho e desenvolvimento do produto, além da utilização de software apropriado para verificar os diversos tipos de esforços a que a peça será submetida; depois, passa-se à construção dos primeiros protótipos e aos ensaios destrutivos. Na segunda etapa desenvolve-se o processo de fabricação do produto, que vai do pneu ao mourão pronto. A terceira etapa envolve o projeto das máquinas necessárias para a fabricação.

Pneus transformados em mourões para cercas: opção para aliviar o impacto ambiental (Foto: Divulgação)Além de uma solução simples, criativa e ecologicamente correta, o engenheiro Amaral Jr. vê no projeto a possibilidade de geração de empresas em torno da fabricação, licenciamento e comercialização do produto, e para a construção das máquinas e venda das mesmas. Na posição de pesquisador, ele afirma que o projeto deve resultar em patentes dos equipamentos, abrindo campo para novas dissertações e teses com base nos estudos que serão realizados.

O inventor – Reynaldo Teixeira do Amaral Junior é plantador de eucalipto em Bragança Paulista (região de Campinas) e sempre se preocupou em aproveitar o que outros consideram inaproveitável. No passado, por exemplo, ele idealizou uma forma de reciclar as rebarbas das folhas de flandres usadas na fabricação de latinhas de cerveja, desprezadas porque na refundição elas se volatilizavam. O surgimento das latinhas de alumínio comprometeu o processo.

Amaral teve a idéia dos mourões porque se deparava constantemente com pneus boiando no lago de sua fazenda. Retirou dos pneus as abas laterais que os prendem às rodas; com um corte transversal na banda de rodagem a reduziu uma tira; mais dois cortes longitudinais a transformaram em três tiras. Superpondo e prendendo adequadamente várias dessas tiras e forrando ambos os lados do empilhamento resultante com outras tiras obteve os mourões. Prendeu parte das abas em uma das extremidades dos mourões para ajudar a fixação no solo, e com o que sobrou delas construiu canalizações para águas pluviais. Com as bandas de rodagem dos pneus construiu ainda porteiras e portões para sua fazenda. Mais: projetou dormentes para ferrovias, vigas e suportes para sustentação dos fios em postes de rede elétrica. Obteve tudo utilizando máquinas rudimentares, montadas por seus empregados. Diante dos resultados, requereu e obteve patente internacional para os inventos e buscou na parceria com a Unicamp não só o projeto das máquinas mas, principalmente, um estudo técnico de qualidade e que confira ao produtos credibilidade.

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