| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 327 - 12 a 25 de junho de 2006
Leia nesta edição
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Artigo: Walter Belik
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Formigas lava-pés
Ribeira de Iguape
 

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Atrás do controle biológico
das formigas lava-pés

A bióloga Christiane Gonçalves Dall’Aglio Holvorcem: interesse despertado pela invasão de lava-pés no estado do Texas (Foto:Antonio Scarpinetti)Seria difícil encontrar alguém que quando criança não tenha se fascinado com o comportamento das formigas. Mas há aquelas que causam ojeriza, caso das formigas lava-pés, assim chamadas popularmente porque sobem rapidamente pelas pernas quando pisamos em seu ninho, injetando por seus ferrões um veneno de alcalóides que queima feito brasa de cigarro. A bióloga Christiane Gonçalves Dall’Aglio Holvorcem se interessou por elas ao acompanhar o marido em um pós-doutorado nos EUA e tomar conhecimento de pesquisas na Universidade do Texas – algumas dessas espécies tinham invadido aquele estado desde a década de 1970, causando desequilíbrios ecológicos.

Bióloga dá seqüência a pesquisas com moscas parasitóides

Candidatando-se a uma vaga de assistente de pesquisa no laboratório que investigava as lava-pés, a bióloga alimentava a perspectiva de continuar a estudá-las no Brasil, onde são comuns. Sua contratação foi facilitada pela existência de um convênio entre a Universidade do Texas e a Unicamp que objetivava estudar os impactos das moscas parasitóides sobre as lava-pés. A pesquisa, orientada pelo professor Woodruff W. Benson, do Instituto de Biologia da Unicamp, deu origem a uma tese de doutorado de caráter mais amplo, pois descreve estudos populacionais e taxonômicos dessas formigas e relata a fenologia de seus parasitóides.

Segundo Christiane Holvorcem, os estudos populacionais levaram a uma equação que permite determinar a população de formigas a partir do volume externo do formigueiro, enquanto os levantamentos taxonômicos possibilitam distinguir duas espécies muito similares de formigas lava-pés através da presença de certas substâncias, o que é importante porque as características morfológicas são muito próximas e exigem especialistas. Com o conhecimento da fenologia dos parasitóides procura-se descrever as flutuações de suas populações ao longo das estações do ano.

A bióloga explica que é relevante estimar a população de um formigueiro sem destruir o ninho e que a classificação das espécies permite estabelecer a biodiversidade existente no ecossistema. “Neste particular, para caracterizar as duas espécies de lava-pés com as quais nos deparamos – a Solenopsis invicta e a Solenopsis saevissima, morfologicamente muito similares –, propusemos, em vez das características morfológicas, a análise da composição química utilizando cromatografia gasosa e espectrometria de massa”, afirma.

Uma análise de função discriminante das abundâncias relativas de 22 hidrocarbonetos cuticulares e 18 alcalóides piperidínicos, encontrados em 68 amostras coletadas em nove localidades do Estado de São Paulo, mostrou uma separação nítida entre as duas espécies, com base nos valores de duas funções lineares que estabelecem as abundâncias relativas dos hidrocarbonetos cuticulares. A pesquisadora esclarece que esta parte da pesquisa foi realizada no Laboratório de Ecologia Química do professor José Roberto Trigo, co-orientador do trabalho.

Fenologia – Mas foi a fenologia dos parasitóides que revelou maior complexidade. A fenologia estuda as relações entre processos ou ciclos biológicos e o clima e as condições do meio físico. No caso em questão, pesquisou-se o ciclo biológico estabelecido entre as formigas e seus parasitóides, constituídos por quatro espécies de mosca do gênero Pseudacteon, semelhantes em tamanho às mosquinhas que se encontram nas bananeiras. Essas moscas inoculam os seus ovos na formiga; os ovos dão origem a pequenas larvas que se alimentam do conteúdo da cabeça da formiga, matando-a.

O propósito de Christiane Holvorcem era determinar se o ciclo das moscas parasitóides exercia algum efeito e poderia se constituir em processo biológico de controle da população de formigas. “Qualquer dano causado na parte externa do formigueiro faz com que as formigas venham à superfície e liberem uma mistura de substâncias químicas que alertam do perigo. Essa nuvem de substâncias atrai as moscas, que então se acasalam em vôo sobre o formigueiro. É quando as fêmeas introduzem os ovos no dorso das formigas operárias. Cada mosca pode depositar dezenas de ovos em diferentes formigas. Já observei uma única mosca colocar 83 ovos em um único dia. Desejávamos saber se este ciclo constitui um processo de controle biológico e que fatores de clima e ambiente interferem nele”, explica.

Diante da existência de outros fatores que podem interferir na proliferação das lava-pés – doenças, parasitas, predadores ou mesmo outras formigas –, Christiane Holvorcem afirma que a pesquisa sobre os parasitóides não foi conclusiva, assim como ocorreu em estudo semelhante realizado na Flórida (EUA), com a mesma metodologia e envolvendo muito mais pesquisadores e sítios de amostragem. Aparentemente, segundo ela, as moscas não exercem grandes alterações nas populações, embora sua ação tenha efeitos indiretos, interferindo momentaneamente na vida no ninho e no comportamento das formigas.

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