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Jornal da Unicamp - Julho/agosto de 2000

Página 3

SERVIÇO

Como construir um sonho

FEC elabora projetos gratuitamente, ajudando famílias de baixa renda na construção da casa própria, sem desperdício de tempo, espaço e dinheiro

Maria Alice da Cruz

A menção de qualquer projeto de moradia popular traz logo a imagem do conjunto habitacional tradicional, com dezenas e dezenas de casinhas idênticas, arquitetura simples e coladas umas às outras. Fugindo propositadamente desta regra, professores e alunos da Faculdade de Engenharia Civil (FEC) da Unicamp estão oferecendo plantas para autoconstrução que permitem à família realizar a obra dentro dos padrões que necessitar e desejar.

O serviço, gratuito, faz parte do Projeto de Transferência de Inovação Tecnológica na Autoconstrução de Moradias (Titam), desenvolvido por professores da FEC preocupados em informar o autoconstrutor de baixa renda sobre regras básicas da construção civil, evitando desperdício de dinheiro, tempo e espaço.

A equipe da Unicamp está levando este serviço a cerca de 8.000 moradores do Parque Oziel e do Jardim Monte Cristo, bairros surgidos em áreas de ocupação e, por isso, particularmente problemáticos no aspecto habitacional. Os bairros foram regularizados há pouco tempo pela Prefeitura de Campinas.

A região possui condições especiais para a aplicação do Projeto Titam, segundo a professora Doris Kowaltowski, porque as residências são idealizadas individualmente, por cada família. A liberdade para o proprietário construir o imóvel ao seu gosto atende à proposta inicial do programa: o de realizar o maior sonho dessa população.

Munidos do software "Automet", aplicativo criado especialmente para o Titam, 15 alunos do curso de arquitetura e 15 de engenharia civil traçam as plantas, considerando dados específicos obtidos numa pesquisa de campo em que levantam informações sobre o número de pessoas de cada família, dimensões, tamanho e posicionamento do terreno na quadra, além de questões térmicas e preferências do proprietário.

Definido o projeto ideal para cada família, a planta da futura casa é entregue contendo orientações sobre todas as etapas da construção, inclusive com fachadas e em perspectiva tridimensional, dentro das normas estabelecidas pela prefeitura para obtenção do registro do imóvel. No Parque Oziel, existiam muitas casas já iniciadas. Nesses casos, os estudantes detectaram eventuais problemas na construção, submetendo a planta à avaliação meticulosa por profissionais de vários setores de engenharia e arquitetura, para posterior encaminhamento de reformas e introdução de melhorias.

Rapidez impressiona - Doris Kowaltowski reafirma que o autoconstrutor tem liberdade para fazer o que bem quiser. "É impressionante a velocidade com que a população consegue realizar seu desejo da casa própria, uma vez que detenha a propriedade do terreno e disponha de um projeto arquitetônico". A experiência de muitos moradores na área de construção civil, onde trabalham como pedreiros e serventes, faz com que os imóveis fiquem prontos em curto espaço de tempo.

Um modelo de obra mal planejada citado pela professora é a construção de edículas para encurtar a realização deste sonho popular. "Loteadores oferecem um padrão de base complicado e a família aproveita o muro do vizinho para construir uma edícula. Gasta dinheiro em um ambiente que não comporta a família". Em sua opinião, é arriscado tentar resolver o problema da habitação a partir deste modelo. "Perde-se muito terreno, quando os poucos cômodos poderiam ter sido erguidos em lugar adequado para posterior ampliação".

Clínica da Casa – Assim é chamado o programa executado pela equipe da Unicamp no Parque Oziel. Doris explica que a denominação é inspirada em uma clínica montada na região por Silvia Brandalise, do Centro Boldrini, onde a população recebe orientações sobre cuidados com a saúde e a alimentação, além de contar com cozinha comunitária, cursos de corte e costura e até de oficina para fabricar fraldas.

Por entender que a obtenção de uma casa é questão de saúde para assentados que ainda vivem em moradias de madeira ou improvisadas com lonas, a professora decidiu formar sua equipe de "clínicos" da construção e prestar assistência àqueles que, por conta própria, tentam construir seu grande sonho.

Software para pedreiros

O "Automet" foi criado com o propósito de trazer benefícios sociais. É fruto de uma pesquisa sobre os problemas habitacionais em bairros periféricos de Campinas, conduzida em 1993 pelas professoras Silvia Mikami Pina, Doris Kowaltowski e Regina Rushel, todas da Faculdade de Engenharia Civil. O nome "Automet" vem de "auto" (automatização e autoconstrução) e "met" (metodologia de projeto). É uma ferramenta para viabilizar plantas de moradias a partir da leitura de informações específicas.

Thiago Longo Menezes, participante ativo do Titam, acaba de deixar o projeto, somente porque o prazo de sua bolsa bancada pelo CNPq expirou. Entre suas tarefas de campo estava a de explicar a cada proprietário como a construção deveria ser feita, descrevendo detalhadamente o projeto. Menezes afirma que uma preocupação era evitar que a família fosse obrigada a "desconstruir" o imóvel caso decidisse por uma reforma. "Quando voltávamos e víamos a casa construída, a satisfação era enorme".

O estudante vê o "Automet" como um equipamento indispensável para a arquitetura e a engenharia civil, e mais importante para "os pedreiros de fim de semana", pessoas que constroem seus lares com o próprio esforço. "Compreender o que o autoconstrutor deseja para sua casa é trabalho de psicólogo", acrescenta Menezes, orgulhoso por ter participado de um projeto socialmente relevante.

A Secretaria Estadual de Habitação e empreiteiras têm demonstrado interesse em utilizar o "Automet" em larga escala. O software deve ser difundido por meio de convênios que permitam a participação ativa dos autores e dos alunos envolvidos no Projeto Titam. Doris Kowaltowski ressalta que a preocupação de professores e alunos é elaborar projetos e apresentar soluções para os problemas habitacionais. "O papel da universidade é disseminar o conhecimento".

Convênio em Pirassununga – O "Automet" impressionou a diretoria da Cohab Bandeirante, que firmou convênio com a Unicamp para a construção inicial de 50 casas em Pirassununga, interior de São Paulo. Essas moradias também não se inserem no perfil dos conjuntos habitacionais construídos no País, pois não estarão em área única, mas em terrenos espalhados pela cidade.

"O convênio atende perfeitamente à proposta da atual administração de Pirassununga, que é a de dar aos proprietários de terrenos vazios a oportunidade de construir casas personalizadas", disse a diretora de programas habitacionais da Cohab/Bandeirante, Fernanda Costa.

Os donos dos lotes já foram convocados a prestar informações sobre a realidade de cada família e as dimensões do terreno, possibilitando que a equipe da Unicamp entregue projetos individualizados. As construções serão iniciadas a partir da aprovação de cartas de crédito pela Caixa Econômica Federal e da contratação da empreiteira.

GM doa viatura – No dia 7 de julho, o Instituto General Motors (IGM) entregou à Unicamp um veículo Blazer, que transportará a equipe do Projeto Titam até as áreas carentes. A viatura transporta computador e impressora, o que agilizará o trabalho de professores e alunos da FEC, que poderão entregar a planta das moradias aos proprietários na hora. Depois da assinatura do convênio, representantes da Universidade e do IGM deslocaram-se para o distrito de Sousas, em Campinas, onde já estão sendo executados vários projetos de autoconstrução com auxílio do "Automet".


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