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PRÊMIO

 

Benditos inventores
Pesquisadores da Unicamp brilham no Prêmio Governador
do Estado com patentes em benefício da saúde pública


CARLOS TIDEI

Um novo teste para surdez de origem genética, exames mais precisos e rápidos de concentração de ácido úrico e dopamina em sangue e urina, aproveitamento de resíduos de incineração de lixo hospitalar para produção de filtros solares, um processo para reaproveitamento de catalisadores em química fina, produtos eficazes no combate a alguns tipos de câncer, e processos de formulação de medicamentos mais limpos e funcionais para o controle da pressão alta. Estes são inventos de pesquisadores da Unicamp patenteados e laureados com o Prêmio Governador do Estado.

Todas as patentes resultam em grandes benefícios econômicos e sociais com aplicação na área de saúde pública. Embora as pesquisas possuam títulos complicados (veja quadro na página seguinte), elas permitiram desenvolver equipamentos ou processos relativamente simples e práticos, que vão oferecer melhor qualidade de vida para toda a sociedade. Dentro do limite de duas páginas, procuramos traduzir ao leitor a importância dos trabalhos premiados.

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Pequeno Sensor potenciométrico

O sensor potenciométrico desenvolvido é um pequeno dispositivo contendo um anel de plástico de menos de um centímetro, com um miolo de material formado por cola e grafite e um orifício por onde é introduzida uma membrana de material sintético (EVA – etileno-acetato de vinila) dopado com ferro. Esta membrana tem sensibilidade para detectar ácido úrico e emite sinais imediatamente decifrados pelo equipamento.

O resultado do exame é instantâneo e sua precisão foi testada exaustivamente. O processo proposto, de medida potenciométrica para quantificar o excesso de ácido úrico em urina ou soro sanguíneo, é inédito. Deve substituir testes mais complicados e demorados. “As soluções simples são as melhores”, resume Lauro Tatsuo Kubota, professor doutor do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e um dos pesquisadores premiados pelo invento. O equipamento é destinado principalmente para uso em laboratórios de análises clínicas e em hospitais, mas também na área química, para análises de produtos farmacêuticos. O ácido úrico em excesso no organismo humano é responsável pela “gota” e outras manifestações incômodas. O mesmo sistema pode ser usado para detectar algumas outras biomoléculas, como as xantinas.

Outro invento premiado utiliza o mesmo sistema, com mudanças no miolo do dispositivo, para análise de dopamina. A membrana é feita com um produto à base de cobre e o EVA ou PVC (cloreto de polivinila). A dopamina é um neurotransmissor com funções essenciais para o sistema nervoso do ser humano. Este novo processo também simplifica outros mais complicados utilizados na medicina. “Com o sensor potenciométrico, pode-se tanto inserir o dispositivo miniaturizado no corpo, como realizar o teste no sangue após amostragem”, exemplifica Kubota.

A maior utilidade do dispositivo, no entanto, é de contribuir para desvendar como funciona a transmissão de impulsos nervosos e para buscar a causa do mal de Alzheimer ou de Parkinson. Pode ser usado também para monitorar tratamentos de doenças neurológicas e na análise de componentes de produtos farmacêuticos que contenham a dopamina. Outro aspecto interessante é que esses tipos de exames, e outros que estão sendo desenvolvidos, podem ser agrupados em série, fornecendo em apenas uma bateria, e com o mesmo material, vários tipos de resultados simultâneos.


Filtro Óptico a partir de lixo hospitalar

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp descobriram que os resíduos do tratamento de lixo hospitalar na usina de plasma térmico – sistema usado pelo IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica) em São Paulo – podem ser reaproveitados para finalidades nobres, como filtros ópticos de proteção de luz (ultravioleta e infravermelho) e também como isolante térmico.

O sistema de plasma, que possui uma tocha que chega a 10.000 graus centígrados dentro de um reator fechado, é comprovadamente o meio mais eficiente de eliminar o potencial de contaminação do lixo hospitalar. Sistemas convencionais de tratamento, como a incineração, não eliminam metais pesados (que retornam ao lençol freático) e liberam dioxina, produto de alto poder cancerígeno.

A usina de plasma, por sua vez, gaseifica compostos orgânicos que geram energia para sistemas de aquecimento, com emissão zero de poluentes, e oferece outros dois produtos facilmente separáveis e totalmente inertes: material ferroso, que é reaproveitado pelas metalúrgicas, e material cerâmico, que até o momento não tinha aplicação direcionada e servia apenas para aumentar o volume de asfalto ou de matérias-primas da construção civil.

“Descobrimos que um material muito barato, praticamente jogado fora, possui alto valor comercial”, destaca Carlos Kenichi Suzuki, professor da FEM e um dos autores da patente desenvolvida com a colaboração dos doutores Raul Fernando Cuevas e Paulo Henrique de Godoy, também da Unicamp, e do professor Roberto Nunes Szente, do IPT.
Durante estudos do vidro cerâmico, um material brilhante e muito duro, constatou-se que ele possui propriedades ópticas com espectro de absorção idêntico ao de filtros ópticos, produto comercial de alto valor agregado e utilizado para absorver radiação ultravioleta, visível e infravermelho. Além disso, serve como blindagem para conservar energia térmica.

A aplicação mais comum do vidro cerâmico se dá em visores de máscaras de proteção para soldas com maçaricos. Se considerada sua aplicação em larga escala, pode reduzir a exposição à radiação ultravioleta provocada pelos buracos de ozônio, causadora do câncer de pele. “Agora estamos estudando a possibilidade de transformar esse produto em pó, para ser usado como protetor solar na forma de loção, pois ficou comprovado que o material é inerte”, acrescenta Suzuki.


Reaproveitamento de catalisadores

Este processo simplifica os métodos de separação de catalisadores utilizados em química fina, permitindo seu reaproveitamento em produções industriais. Um caso clássico de uso de catalisador é a fabricação de margarina, preparada a partir de óleo vegetal (de soja, por exemplo), com o creme obtido através de processo químico. “O catalisador controla o processo e favorece a formação do produto desejado”, simplifica o professor Watson Loh, do Departamento de Físico-Química da Unicamp, um dos autores da patente.

Por ser muito específico, o catalisador possui alto custo, em que pese o fato de seu reaproveitamento ser fundamental para o processo produtivo. Existem várias maneiras de recuperar catalisadores e a originalidade da patente está em simplificar os processos com o mesmo resultado. “Nosso invento é um processo que pode ser adaptado a vários tipos de catalisadores, muito mais simples, com menor consumo de energia e tempo, e conseqüentemente com menor custo. Aproveitamos uma idéia que já existia e a inovação está na facilidade de aplicação do processo em um problema importante”, afirma Loh. O método se aplica em indústrias que utilizam química fina, como alimentícia e farmacêutica, entre outras.

A separação dos produtos é realizada por afinidade, com os líquidos divididos fisicamente, como acontece quando se coloca água e óleo em um copo (não se misturam). “Não é possível incluir água no processo, mas a comparação vale quanto à aparência. É simples recuperar os produtos e o catalisador separadamente”, explica o pesquisador. Segundo ele, a indústria farmacêutica utiliza catalisadores iguais aos estudados e poderia aderir ao processo desenvolvido. “Já testamos três ou quatro tipos de catalisadores, os mais comuns, e estamos fazendo o mesmo com outros”, finaliza Watson Loh.


Continua ...

 

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