Unicamp Hoje - O seu canal da Noticia
navegação

..AVENTURA
..CONFLITO
..ENSINO
..HISTÓRIA
..LEITOR
..PESQUISA
..PRÊMIO
..SAÚDE

CONFLITO


’Não é com pedras que os palestinos agridem Israel’


MEDAD MEDINA*

“O terrorismo colocará em risco a liberdade e a segurança do mundo inteiro, de todos os países, de todas as pessoas”
Shimon Peres


Foi com grande pesar que tomei conhecimento de um artigo publicado no Jornal da Unicamp, “Os garotos das fundas”, assinado pelo senhor João Maurício da Rosa. Além de informações erradas, o texto incita o ódio contra o Estado de Israel e toda a sua história. Certo de que o conteúdo do artigo publicado não reflete a opinião do jornal, venho manifestar meu inconformismo diante de tamanha falta de conhecimento histórico. Ao iniciar seu artigo, o autor afirma que 852 atiradores de pedras palestinos perderam a vida nos últimos 14 meses, lutando contra fuzis e blindados israelenses.

Tal afirmação distorce os fatos, na tentativa de mostrar um povo oprimido que não pode se defender. Um exemplo recente de que não são com pedras que os palestinos agridem Israel, ocorreu na quinta-feira, 3 de janeiro, quando as Forças do Comando Naval, em conjunto com a Força Aérea e a Marinha, em uma operação militar coordenada, capturaram um barco carregado com cerca de 50 toneladas de armamento. As armas que foram apreendidas e examinadas até o momento abrangiam foguetes Katiucha de curto e longo alcance (20 km), morteiros, foguetes antitanques, minas e materiais sofisticados para sabotagem, rifles de precisão, e munição ampla.

O barco capturado foi adquirido pela Autoridade Palestina e pertence a ela. O comandante do barco é tenente-coronel da marinha palestina e a maior parte da tripulação também pertence a ela. No primeiro interrogatório, o comandante confirmou que o destino era a Autoridade Palestina. É absolutamente claro que o armamento capturado não é necessário para a manutenção da ordem. Não há polícia no mundo que utilize Katiuchas, morteiros e foguetes antitanques. A aquisição deste armamento testemunha as intenções agressoras da Autoridade Palestina contra civis e soldados israelenses.

Com a aquisição do barco e do enorme armamento e com a tentativa de contrabandeá-lo de forma sofisticada, Arafat e a Autoridade Palestina comprovaram que não agem para frustrar o terror, mas, sim, que estão interessados na manutenção desta opção; o que Arafat e a Autoridade Palestina não conseguem obter de forma política, tentam obter através do terror.

Os palestinos não podem mais continuar a fazer um jogo duplo e devem decidir de forma inequívoca se apóiam e usam o terror ou o combatem. A operação de captura realizada por Israel não é somente um ato de autodefesa de nossa parte, mas junta-se ao empenho mundial de combater o terror e de derrotá-lo.

Homens-bomba - O artigo também classifica os assassinos-bomba, como “garotos-propaganda de uma causa, que sem eles passaria despercebida pelo resto do mundo”. Ora, o mundo todo já presenciou as conseqüências odiosas dos atos terroristas dos homens-bomba, que já tiraram a vida de mais de 80 israelenses civis inocentes. Incompreensível seria um governo democrático, que luta pela igualdade dos direitos humanos, ver seus cidadãos sendo vítimas dessas ações terroristas e nada fazer contra isso.

Ao acusar Israel de estar “passando uma borracha na história, querendo produzir o esquecimento, numa operação fundamental para a sustentação dos regimes autoritários e totalitários”, citando o jornalista José Arbex, mais uma vez, faz afirmações improcedentes e distorcidas. É importante voltar no tempo e relembrar que, quando a ONU em 1947 decidiu dividir a Palestina, que no momento se encontrava ocupada pelos ingleses, em dois estados, um judeu e um árabe, foi então criado legitimamente o Estado de Israel.

Em 1948, quando David Bem Gurion proclamou a cria-ção do estado de Israel, e no mesmo dia, cinco exércitos dos países árabes invadiram o território destinado ao estado judaico, para extermínio e prevenção de seu estabelecimento, foi a primeira demonstração de hostilidade e intolerância que o Estado de Israel enfrentou. Em 1967, em um ato unilateral do Egito, Síria e Jordânia, deu-se o início à Guerra dos Seis Dias, conquistando Israel a Península do Sinai e Faixa de Gaza (do Egito), Cisjordânia e Jerusalém Leste (Jordânia) e Colinas do Golan (Síria), Israel teve novamente outra demonstração de repúdio por parte dos países árabes.
Por outro lado, em 1993, época em que após alguns anos da revolução popular dos palestinos na Faixa de Gaza e Cisjordânia (Intifada), ocorreu um importante fato: os líderes israelenses, o primeiro ministro, Yitzhak Rabin, e o chanceler Shimon Peres se encontraram com o presidente da OLP, Yasser Arafat e concordaram mutuamente no reconhecimento de ambos os lados, determinaram que qualquer tipo de desentendimento deveria ser resolvido através do diálogo entre as partes.

Nessa época, o Oriente Próximo passou por um período de euforia sobre uma possível solução. Foi vislumbrado o sonho de que ao invés de gastar bilhares de dólares com armamento e munição, passariam a investir em tecnologia e bem estar. Pensávamos em tornar o Oriente Próximo em uma unidade econômica que promoveria o nível de vida dos cidadãos em benefício de todos. Esta visão do “novo Oriente Próximo”, idealizado por Shimon Peres, soou quase como um mantra econômico e político. Mas a implementação desta idéia exigia concessões: territoriais e outras demandas e de maneira geral, abandono de sonhos.

Após o assassinato do primeiro ministro Yitzhak Rabin, em 1995, a efetivação desta visão ficou ainda mais distante. Em julho de 2000, o então primeiro ministro Ehud Barak, fez uma tentativa corajosa de progresso. Na verdade, ele tentou chegar a um acordo que traria o fim do conflito. Ele fez propostas avançadas, até então nunca feitas por um líder israelense. Em Camp David, Israel ofereceu a concessão de quase toda a Faixa de Gaza e Cisjordânia para os palestinos, possibilitando a Israel manter alguns focos de assentamentos na Cisjordânia.

Do lado palestino, Yasser Arafat recusou tal proposta, alegando querer toda a Cisjordânia e Faixa de Gaza, além de garantir acesso dos refugiados palestinos a Israel, refugiados que, há 53 anos, vivem em campos de refugiados nos estados árabes.

Superioridade militar - Arafat, por outro lado, não aceitou a proposta feita sobre a questão de Jerusalém e esta cúpula terminou em julho de 2000 em Washington, sem que houvesse um acordo. Grande parte da culpa do insucesso do encontro foi atribuída a Yasser Arafat, que em momento algum mudou seu posicionamento, fazendo ainda demandas e exigências a Israel. Em setembro de 2000, os palestinos, em lugar de fazer uma contraproposta ao plano Barak, convocaram uma nova intifada contra o povo de Israel.

Desde então, a situação não apresentou grandes melhoras. Nos territórios da Autoridade Palestina foram iniciados ataques contra Israel, tiroteios em Jerusalém, emboscadas a carros de civis, bombas de morteiro em centros israelenses fora da Cisjordânia e Faixa de Gaza, e o mais terrível, ataques onde palestinos suicidas explodem seus corpos em um esforço para matar o máximo de cidadãos israelenses. Israel, por seu lado, reage aos ataques com o bombardeio de sedes de organizações militares, diretamente envolvidas na violência, tentando atingir os responsáveis pelos ataques de homens-bomba e por outros atos violentos. Não há aqui um ciclo vicioso e sim ação palestina e reação israe-lense como tentativa de prevenir atos planejados.

Israel possui, do ponto de vista militar, força superior, podendo teoricamente destruir a Autoridade Palestina. Mas não há esta intenção ou vontade, pela consciência de que este não é o caminho para a resolução dos problemas, e porque tal ato vai contra os preceitos judaicos. Cremos que o conflito só tem solução política através do diálogo. Deixando de lado sonhos, assumindo riscos, deve se chegar a um acordo com concessões dolorosas, porém necessárias. O que deve ser feito para que se chegue a uma solução final, não só para o problema palestino, como também para o problema israelense? O chefe da Autoridade Palestina deve combater os grupos terroristas e deixar claro que a violência deve chegar efetivamente ao fim. Israel, por seu lado, agiria com o cessar fogo.

Poções envenenados - No momento em que estiver claro que a violência terminou, os lados deverão dar continuidade a seus encontros, visando progredir na recriação da confiança mútua, dando continuidade ao diálogo rumo a uma solução permanente. Algumas divergências estão no centro do conflito: como a questão das fronteiras entre palestinos e israelenses, a questão de Jerusalém e o problema dos refugiados palestinos. A situação na região parece agora difícil e sem esperanças, a violência domina o cenário e as negociações parecem distantes. O perigo generalizado causado pelas ações terroristas não conhece fronteiras, pode explodir em qualquer lugar e a qualquer momento. Sob o pretexto de ser conduzido por valores humanos, as atrocidades que perpetra são indiscriminadas, ilimitadas, degradam civis e pessoas inocentes.

Não existe espaço algum para mediar entre ações malignas e conduta civilizada. Conforme declarou o chanceler Shimon Peres: “Se for permitido a esse terrorismo triunfar, todo poço d’água pode ser envenenado, e toda criança, assassinada”. Ele pode criar pandemônio nos vôos locais e internacionais, causando prejuízo fatal ao turismo e arruinando o comércio mundial, propagando o medo e acabando com a segurança de maneira insidiosa.

Esse é o tipo de terrorismo que Israel tem enfrentado desde a criação de seu Estado. Defender-se é um direito que a democracia nos assegura e Israel nada mais tem feito que defender seus cidadãos civis dos ataques hediondos de terroristas. Entretanto, a mensagem deve ser clara: a violência não é substituta do diálogo, não podendo ser um elemento das negociações e não devendo ser premiada.

O único caminho rumo à paz é aceitação dos acordos de Oslo em 1993, já estabelecidos, e a formação dos atos necessários para cessar a violência, voltando assim às mesas de negociações. Certo de que o Jornal da Unicamp preservará os caminhos da comunicação como veículo disseminador da verdade e da imparcialidade, aproveito a oportunidade para reiterar os protestos de elevada estima e distinta consideração.

Com cordial Shalom.

---------------------------

Página anterior

 

© 1994-2002 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail: iimprensa@obelix.unicamp.br