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Agricultor lava mal as
embalagens de agrotóxicos


LUIZ SUGIMOTO



A professora Eglé Novaes Teixeira e Samanta Chiquetti, autora da dissertação: avaliação em quase oito mil receituários agronômicos (Foto: Antoninho Perri)Esvazie completamente o conteúdo da embalagem para a preparação da calda. Adicione água limpa à embalagem até ¼ do volume. Tampe bem a embalagem e agite por 30 segundos – 10 segundos no sentido horizontal, 10 no sentido vertical com a tampa para cima e 10 com a tampa para baixo. Junte essa água ao conteúdo para a calda. Repita o procedimento por três vezes. Está feita a tríplice lavagem, que é comprovadamente eficaz na eliminação de resíduo de agrotóxico e determinada por lei para que a embalagem seja reciclada. Seguindo a exigência da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o agricultor tem um ganho econômico ao aproveitar todo o conteúdo e contribui para amenizar o impacto do uso de agrotóxicos no ambiente.

Análise aponta que 61% continham resíduos

Uma pesquisa sobre a tríplice lavagem resultou em dissertação de mestrado da química Samanta Cristina Chiquetti, apresentada na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, com orientação da professora Eglé Novaes Teixeira. A mestranda ressalta que o descarte indevido das embalagens de agrotóxicos em rios, plantações ou mesmo o seu aterramento, acarreta graves problemas de poluição ambiental, tais como contaminação de solos, mananciais de água e do lençol freático, afetando diretamente a saúde humana. Daí, a criação de um sistema de retirada das embalagens do campo para que sejam recicladas ou incineradas, com a implantação de postos ou centrais de recebimento onde se realiza a prensagem e enfardamento. As embalagens que podem ser recicladas, no entanto, devem chegar devidamente lavadas a esses locais.

“Em primeiro lugar, fizemos uma avaliação em quase oito mil receituários agronômicos expedidos na região de Piracicaba, referentes ao período do ano de 2000, junto ao Escritório de Defesa Agropecuária, órgão da Secretaria Estadual da Agricultura. Verificamos, assim, quais eram os princípios mais vendidos aos agricultores: o glifosato, o MSMA (metilarsonato monossódico), a ametrina, o diuron + hexazinone e o tebutiurom”, enumera Samanta Chiquetti. Ela ressalva que o diuron + hexazinone foi excluído da pesquisa porque é comercializado em embalagem flexível, não lavável, e por isso listada entre aquelas que devem ser incineradas.

A professora Eglé Teixeira explica que, teoricamente, o agricultor só pode comprar agrotóxico apresentando receituário assinado por agrônomo, cuja cópia é retida pelo comerciante. No prazo de um ano a partir da expedição da nota fiscal, o agricultor deve devolver a embalagem, assinando um termo de compromisso de que a mesma passou pela tríplice lavagem. Cabe ao distribuidor do agrotóxico encaminhar a embalagem para o fabricante ou para um posto de recolhimento. “Pelos receituários, vimos também a época em que o produto era adquirido, planejando assim a coleta de amostras. Procuramos apenas as que estavam no lote para prensagem”, observa a orientadora da dissertação.

Métodos – Samanta Chiquetti informa que a grande maioria dos receituários era indicada para a cana-de-açúcar, cultura dominante na região de Piracicaba, e que as quatro embalagens mais comercializadas eram de herbicidas. Ela realizou o procedimento da tríplice lavagem mais uma vez, obtendo uma quarta água em 321 embalagens enviadas à Central de Recebimento de Embalagens Vazia de Piracicaba. Nesta quarta lavagem, coletou amostras para analisar, em laboratório, se as embalagens destinadas à reciclagem apresentavam resíduo acima do limite de 0,01% normatizado pela ABNT. “A conclusão foi de que o agricultor está lavando mal as embalagens de agrotóxico. Para os quatro ingredientes ativos mais comercializados na região, constatou-se que 61,4% não estavam em conformidade com a legislação e muitas com elevada percentagem de resíduo”, afirma a pesquisadora.

Feitas as análises laboratoriais nas 321 amostras, no Laboratório de Fiscalização de Agrotóxicos do CDA/SAA, por meio de métodos como cromatografia gasosa, espectrofotometria de absorção atômica e cromatografia líquida, o resultado foi preocupante: das 104 embalagens de tebutiurom, 73% apresentavam resíduo acima de 0,01; em 70 embalagens de ametrina, o índice foi de 75,7%; nas de MSMA, 58,3%; e de glifosato, 34,6%. A média ficou nos 61,4% já mencionados.

A preocupação se justifica porque foram encontrados resíduos com valores médios de 0,36% nas embalagens de tebutiurom (36 vezes o valor limite), 0,25% nas de ametrina, 0,06% no glifosato e 0,04% no MSMA, e valores individuais que variaram de 1% a 10%. “Como existem várias pesquisas atestando a eficiência da tríplice lavagem nas embalagens, dentro dos limites exigidos, conclui-se que o agricultor precisa fazê-la direito, com mais atenção. Os órgãos que têm acesso aos produtores precisam sensibilizá-los da importância do procedimento, pois as embalagens, antes de serem recicladas, sofrem nova lavagem e, se têm resíduo perigoso, acabam por contaminar os efluentes na indústria de reciclagem”, afirma Eglé Teixeira.

Logística – O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inPEV), que representa a indústria fabricante de produtos fitossanitários, tem a responsabilidade de oferecer toda a logística para o recolhimento e a destinação final de embalagens de agrotóxicos. O consumo destes produtos no Brasil teve um aumento significativo de 16 mil toneladas em 1964 para 60 mil toneladas em 1991. De acordo com o inPEV, no país foram coletadas 3,7 milhões de embalagens em 2002, 7,8 milhões em 2003 e 14,8 milhões em 2004. Existem hoje 270 unidades de recebimento, quando o número necessário é de 350 a 400 postos.

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