Novos padrões para a saúde do feto

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Médico passa sensor de equipamento de ultrassonografia sobre o ventre de gestante, enquanto examina imagem na tela
Exame de ultrassonografia, realizado no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Unicamp

Os padrões usados por médicos de todo o mundo para avaliar imagens de ultrassom de gestantes, e decidir se o feto vem se desenvolvendo de modo saudável, estão prestes a ser atualizados, graças a um estudo internacional coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os resultados estão sendo publicados nesta tarde no periódico online de livre acesso PLOS Medicine.

A etapa brasileira do trabalho foi conduzida nas instalações da Unicamp, e a análise estatística dos dados globais, com informações obtidas a partir de exames de ultrassom realizados em mais de 1,3 mil mulheres de dez países, envolveu a participação de um professor aposentado do IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica) da universidade. Foram 157 as mulheres brasileiras que participaram do estudo, todas atendidas no CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da universidade.

“Quando se acompanha o crescimento de uma criança, espera-se que ele aconteça dentro de uma faixa pré-estabelecida de normalidade, dependendo de sexo e idade. A mesma ideia, transposta para o ambiente intrauterino, para os fetos, existe já há muito tempo: de que eles tenham um crescimento dentro de uma variação de normalidade para cada idade gestacional”, explica José Guilherme Cecatti, professor titular de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e um dos autores do estudo da OMS.

“Só que, até hoje, boa parte de todo o diagnóstico de qual é o tamanho do nenê que está na barriga de uma mulher grávida, que é uma coisa muito corriqueira na prática de saúde, se baseia em algumas curvas de crescimento que são, em sua quase totalidade, de países desenvolvidos, principalmente dos Estados Unidos, baseadas num tipo de população que não é representativa da população mundial”, completou. “Com isso, a gente acaba, quase sempre, superestimando a ocorrência de determinadas condições, como o crescimento insuficiente do feto. Porque se está pensando num padrão genético, biológico, de um feto de uma mãe branca americana, que não é necessariamente igual à média da população mundial”.

O estatístico José Carvalho e o médico José Guilherme Cecatti, sentados à mesa, falam à reportagem sobre o trabalho com a OMS
Os pesquisadores José Carvalho e José Guilherme Cecatti, da Unicamp, que participaram do estudo da OMS

As curvas de crescimento publicadas na PLOS Medicine trazem informações sobre circunferência da cabeça e do abdome, do comprimento do úmero (o osso que vai do ombro ao cotovelo) e do fêmur, além de estimativas do peso do feto, feitas a partir dessas medições. As mulheres que tomaram parte no estudo eram saudáveis e apresentavam gestações de baixo risco, de modo a evitar que os resultados fossem contaminados por fatores externos, como desnutrição ou doenças.

“Existe uma perspectiva, de quem trabalha com aparelho de ultrassom, principalmente em países de média renda, como é o caso do Brasil, de mudar esse padrão americano de referencia que já vem embutido nos aparelhos, atualizando-o para a curva internacional da OMS”, aponta Cecatti.

“E o que significa isso? Significa que uma parcela das mulheres que hoje estão grávidas, que vão fazer exame de ultrassom e ouvem que o bebê está com o peso um pouco abaixo do normal, talvez não ouçam mais isso. Porque um peso um pouco abaixo do padrão americano pode não significar nada me relação ao padrão internacional”, acrescentou. “E evitando um diagnóstico falso positivo, evita-se uma série de outras medidas, que consomem tempo e dinheiro”.

“O padrão norueguês é diferente do indiano. Então você pegar uma criança indiana que, para o padrão norueguês, tem peso baixo não representa necessariamente alguma alteração da condição de saúde”, exemplifica o professor aposentado do IMECC José Carvalho, que trabalhou na análise estatística dos dados.

“Não falamos em médias”, explica Carvalho, descrevendo a apresentação dos resultados. “Quando damos as curvas, damos a distribuição toda, através dos percentis: quais medidas estão nos 10% superiores, por exemplo”. Ele levanta a possibilidade de os novos resultados permitirem diagnósticos mais precisos de condições como a microcefalia, ainda durante a gestação.

Os dados levantados para a elaboração nas novas curvas de crescimento ainda podem gerar mais resultados científicos no futuro, apontam os pesquisadores. “A maioria das mulheres teve, em média, sete exames de ultrassonografia realizados ao longo da gestação, e passaram por avaliação nutricional, antropométrica – altura, peso, pregas cutâneas – e isso gerou uma quantidade de informação muito grande”, apontou Cecatti. “Então, o banco de dados do estudo ainda tem uma quantidade enorme de informações, e já estamos lidando com isso, buscando maneiras de usar esses dados para gerar uma quantidade maior de informações que possam ser úteis para a saúde das mulheres e crianças”. 

O artigo com a apresentação das novas curvas de crescimento pode ser acessado neste link.

Veja também esta notícia no G1

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Imagem de ultrassonografia tridimensional, apresentando, em cores vivas, o rosto de um feto ainda no útero materno

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