Edição nº 595

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 28 de abril de 2014 a 11 de maio de 2014 – ANO 2014 – Nº 595

Telecópio


Truque de luz e de gravidade
O brilho excepcional e aparentemente inexplicável da supernova PS1-10afx, descoberta em 2010 e descrita na literatura científica em 2013, não passa de ilusão causada pela gravidade de uma galáxia localizada na vizinhança, diz artigo publicado na edição da semana passada da revista Science.

Quando observada pela primeira vez, PS1-10afx tinha uma luminosidade tão intensa que levou alguns cientistas a propor que se tratava de uma nova classe de estrela, até então desconhecida. Outros, no entanto, propuseram que se tratava de uma supernova comum, cujo brilho estaria sendo amplificado pela gravidade de um objeto próximo. Pesquisadores de uma equipe da Universidade de Tóquio, encabeçada por Robert Quimby, decidiram buscar a lente gravitacional que seria responsável pela amplificação, e agora dizem tê-la encontrado.

Em nota, Quimby explica por que a galáxia responsável pelo efeito de lente de aumento não havia sido identificada antes: “Acontece que a galáxia que hospeda PS1-10afx parece mais brilhante que a galáxia-lente, então a luz da lente simplesmente se perde no brilho da hospedeira”.

Poluição na Roma Antiga
O sistema de água encanada da cidade de Roma, na Antiguidade e no início da Idade Média, expunha os moradores a níveis de chumbo cem vezes maiores que os normais no ambiente, diz estudo publicado no periódico PNAS. Os encanamentos eram feitos desse metal.

Os autores, de instituições da França e dos Estados Unidos, analisaram o conteúdo de chumbo nos sedimentos no fundo do Rio Tibre, que corta a cidade, e do Porto de Trajano. “O registro de isótopos de chumbo mostra que as descontinuidades na poluição do Tibre por chumbo estão intimamente ligadas com as grandes questões que afetaram Roma na Antiguidade Tardia e seu sistema de distribuição de água”, diz o artigo, sugerindo que a variação do chumbo na água pode ser usada para testar hipóteses sobre a demografia e a economia da Roma Antiga.

Embora a contaminação por chumbo da água consumida em Roma em tempos antigos seja perceptível ainda hoje, os autores acreditam que o nível do metal não era elevado o bastante para afetar a saúde da população. “A poluição por chumbo da ‘água de torneira’ nos tempos romanos é claramente mensurável, mas é improvável que tenha sido realmente prejudicial”, diz o texto.
Mapa medieval da  cidade de Roma, com o Coliseu ao centro

O valor do cromossomo Y
Dois artigos tratando da evolução do cromossomo Y, que define as características dos machos nos mamíferos, incluindo a espécie humana, foram publicados na edição mais recente da revista Nature. Um dos trabalhos, que tem como principal autor Daniel Bellott, do MIT, mostra que esse cromossomo sofreu uma degeneração intensa em sua origem, com cerca de 3% dos genes ancestrais sobrevivendo na versão humana moderna, em comparação com 98% dos genes preservados no outro cromossomo sexual dos mamíferos, o X.

Os genes que sobreviveram ao gargalo, no entanto, mostraram-se extremamente estáveis, com alguns casos de permanência de mais de 70 milhões de anos em certas linhagens de mamífero. O artigo de Bellott sugere que, além de determinar características físicas, como a presença de testículos, o cromossomo Y é rico em genes que regulam o funcionamento de outras partes do genoma dos machos, sendo vital para a viabilidade dos indivíduos do sexo masculino.

Planeta parecido com a Terra
Em 17 de abril, cientistas da Nasa anunciaram, na revista Science, a descoberta do primeiro planeta de tamanho compatível com o da Terra e localizado na “zona habitável” de sua estrela. Batizado Kepler-186f, o mundo foi encontrado graças ao Telescópio Espacial Kepler, da agência espacial americana, e fica a 500 anos-luz da Terra, na constelação do Cisne. A estrela que orbita tem pelo menos quatro outros planetas girando ao seu redor.

O conceito de “zona habitável” refere-se à região, em torno de uma estrela, onde é possível encontrar água em estado líquido na superfície de um planeta e, portanto, há condições para a vida. A ideia tem críticos, já que outros fatores além da energia que recebe de sua estrela, como a densidade da atmosfera, afetam a capacidade de um mundo para manter água e suportar vida, mas ainda é largamente usado.

Além de trabalhar na Nasa, a principal autora do artigo que descreve a descoberta, Elisa Quintana, é membro do Instituto SETI, dedicado à busca de vida inteligente fora da Terra. “Quando buscamos por vida fora do Sistema Solar, focamos planetas com características que imitam as da Terra”, disse ela, por meio de nota.

Um dos principais instrumentos do Instituto SETI é o Allen Telescope Array (ATA), um campo na Califórnia coberto por antenas de radiotelescópio, que procuram por sinais de rádio de origem artificial e extraterrestre. O ATA vem observando o sistema de Kepler-186f há mais de um mês, diz nota do Instituto, mas até agora não detectou nada que não possa ser atribuído à tecnologia terrestre.

Grafeno na cozinha
Um artigo publicado em 20 de abril no periódico Nature Materials traz, em sua seção de “informações suplementares”, uma receita para produzir grafeno num liquidificador comum de cozinha. O grafeno é um material feito de carbono, extremamente delgado, forte, flexível e capaz de conduzir eletricidade. Seu uso industrial promete revolucionar diversas tecnologias.

O artigo de Jonathan Coleman, do Trinity College de Dublin, e colegas descreve um processo para a produção de grafeno em quantidades industriais. Os pesquisadores usaram um liquidificador para bater uma mistura de água, detergente e pó de grafite – que pode ser obtido, por exemplo, a partir da ponta de um lápis – para produzir flocos de grafeno.

O artigo, no entanto, não oferece detalhes suficientes para que se possa tentar o experimento em casa: o trabalho de Coleman foi feito originalmente em equipamentos profissionais de laboratório, e o teste com o liquidificador foi realizado depois, como curiosidade. Além disso, equipamento científico foi necessário para identificar e separar o grafeno da mistura “de cozinha”.

A matemática do presente de casamento
Pretende se casar em breve? Então talvez valha a pena procurar a edição número 4, volume 5, do periódico  International Journal of Electronic Marketing and Retailing, que traz uma análise estatística de como foram atendidos os pedidos apresentados em mais de 500 listas de presentes postadas online, feita por pesquisadores da Coreia do Sul e dos Estados Unidos.

Os autores descobriram que três categorias de presentes geralmente acabam sobrando nas listas, sem ninguém para comprá-los e oferecê-los aos noivos: os muito caros, os muito baratos – e os de preço médio.

O artigo sugere que as pessoas que compram presentes de casamento agem seguindo uma de duas motivações: impressionar os noivos e ganhar prestígio social, ou poupar dinheiro. Enquanto o primeiro grupo tende a buscar presentes com valor acima da média (mas que ainda caibam no orçamento), o segundo procura ofertas com preço abaixo da média, mas que não pareçam exatamente “baratos”. “Como o presente de preço médio não apela a nenhum desses segmentos, a probabilidade de ser dado é relativamente baixa”, escrevem os autores.

Cai artigo sobre regeneração cardíaca
O periódico Circulation anunciou a retratação de um artigo de 2012, parte de uma série controversa de pesquisas encabeçadas por Piero Anversa, do Brigham and Women’s Hospital de Boston, que defende a ideia de que o coração humano é capaz de regenerar rapidamente suas células. Um dos coautores do artigo, Joseph Loscalzo, é editor-chefe do Circulation.

A nota de retratação afirma que “uma revisão institucional pela Escola de Medicina de Harvard e pelo Brigham and Women’s Hospital  determinou que os dados estão suficientemente prejudicados” para justificar a retirada do artigo da literatura científica. Após a retratação na Circulation, Harvard e o hospital também manifestaram preocupação sobre outro artigo do grupo de Anversa envolvendo regeneração cardíaca, publicado em 2011 na Lancet. As instituições estão “analisando preocupações quanto à integridade de certos dados”, segundo nota citada pelo serviço Science Insider, da revista Science.

Quem são os ex-amigos do Facebook
As pessoas que você tem mais chance de excluir da lista de amigos do Facebook são ex-colegas do ensino médio, e o motivo mais provável da exclusão é a postagem de comentários agressivos sobre política ou religião, dizem dois estudos de pesquisadores da Universidade do Colorado, em Denver.

Ambos os trabalhos foram baseados numa pesquisa de 1.077 pessoas, conduzida por meio de outra rede social, o Twitter. Ainda de acordo com essas pesquisas, a principal emoção expressada por quem é alvo de um “unfriend” é a surpresa; a segunda é incômodo. Tristeza aparece em quarto lugar.

O autor dos estudos, Christopher Sibona, acredita que a “preferência” por ex-colegas de escola na hora de desfazer amizades virtuais se deva ao fato de que opiniões sobre religião e política podem se tornar mais extremas com a idade, causando descompasso entre os amigos. “E uma coisa sobre mídias sociais é que desentendimentos online tendem a uma escalada rápida”, disse.