Edição nº 587

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 16 de dezembro de 2013 a 31 de dezembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 587

Telescópio


Mídia potencializa trauma do terrorismo

A explosão de duas bombas de fabricação caseira durante a Maratona de Boston deste ano, em 15 de abril, matou três pessoas, feriu mais de 200 e causou trauma emocional em milhares. Esses efeitos psicológicos do atentado, com estresse e trauma coletivo, foram amplificados pela intensa cobertura midiática, diz estudo publicado no periódico PNAS. O trabalho aponta que a exposição intensa à cobertura de um evento do tipo pode ser até mais estressante que a exposição direta às explosões.

De acordo com o estudo, de autoria de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Irvine, seis horas ou mais de exposição ao noticiário sobre o atentado, na semana seguinte às explosões, estiveram “mais fortemente associadas a estresse agudo” do que a presença física no local do ataque. O trabalho também mostrou que pessoas diretamente expostas a atos de violência anteriores – como os ataques de 11 de setembro de 2001, ou tiroteios em escolas – tiveram mais risco de sofrer estresse agudo causado pela cobertura dos eventos de Boston do que pessoas previamente expostas a desastres naturais.

“A mídia de massa pode se tornar um condutor que espalha as consequências negativas de um trauma coletivo para além das comunidades diretamente afetadas”, concluem os autores.

 

Estresse prejudica tomada de decisão

Em outro artigo da mesma edição da PNAS, cientistas da Universidade de Nova York, Universidade Rockfeller e Nathan Kline Institute afirmam que o estresse, medido pelo nível de hormônio cortisol na saliva, atrapalha o funcionamento do sistema mais sofisticado de tomada de decisões do cérebro, que antevê consequências e planeja ações futuras. Outro sistema, mais primitivo, que apenas estimula a repetição de comportamentos já adotados no passado, não é afetado.

A capacidade do estresse em bloquear o uso dos modos mais sofisticados de tomada de decisão parece ligada à chamada “memória de trabalho” – a capacidade do cérebro humano de armazenar informações no curto prazo, para uso imediato. Quanto maior a memória de trabalho, menor o efeito deletério do estresse.

 

Antigo lago marciano pode ter abrigado vida

Pesquisadores que trabalham com os dados que o robô Curiosity, da Nasa, vem enviando do planeta Marte, acreditam ter reunido evidências de que o planeta vermelho já abrigou pelo menos um lago de água doce, capaz de sustentar seres vivos. As conclusões aparecem em artigo publicado na revista Science.

Análise de dados geológicos indicam que um sítio chamado Baía Yellowknife, no interior da Cratera Gale, conteve uma massa de água há 3,6 bilhões de anos. Os autores do artigo creem que o lago pode ter perdurado por dezenas ou centenas de milhares de anos, contendo água doce e elementos essenciais para a vida, como carbono, oxigênio e nitrogênio.

Além disso, rochas sedimentares do tipo encontrado pelo Curiosity costumam se formar em águas tranquilas, o que reforça a possibilidade de a área ter mostrado condições favoráveis para a vida.


Radiação perigosa na viagem a Marte

Em outro artigo recente da Science sobre as descobertas feitas no planeta vermelho com dados do robô Curiosity, cientistas avaliaram a presença de radiação no ambiente marciano. De acordo com nota divulgada pelo Southwest Research Institute, responsável pelo instrumento de detecção de radiação a bordo do robô, o principal risco de contaminação radioativa de astronautas que viajem a Marte residirá no voo pelo espaço, e não na superfície do planeta: 60% da radiação de uma missão de 500 dias de exploração em solo marciano seria absorvida no trecho espacial da viagem – ida e na volta – e 40%, durante a atividade em Marte propriamente dita.

A exposição total à radiação, da ordem de 1 sievert, está associada a um aumento de 5% na chance de surgimento de câncer fatal. A Nasa considera como limite aceitável um aumento de 3%, para missões na órbita terrestre, mas ainda não definiu parâmetros para missões a outros planetas.

 

HIV retorna após transplantes de medula

Dois pacientes de HIV que pareceram livres do vírus durante meses, depois de se submeterem a transplantes de medula, voltaram a apresentar sinais da infecção, disseram pesquisadores num congresso científico realizado nos EUA. A notícia foi divulgada pelo site da revista Nature.

O tratamento dos dois pacientes foi semelhante ao aplicado a Timothy Ray Brown, declarado curado da infecção em 2009, depois de receber um transplante de medula com células resistentes ao HIV. 

Os pacientes que sofreram com o retorno da doença haviam recebido um transplante de células comuns, para combater linfomas. Ambos continuaram a se tratar com drogas antirretrovirais, mas depois de oito meses, o vírus havia desaparecido de seus exames de sangue, e os dois optaram por suspender o tratamento. Em julho, seus médicos anunciaram que eles “possivelmente” tinham sido curados, mas essa esperança não se confirmou. Os dois pacientes passam bem, mas voltaram a tomar antirretrovirais.


Matemáticos criam ‘epidemiologia bancária’

Pesquisadores da Universidade Carlos III de Madri e do University College London realizaram uma simulação, baseada na teoria matemática das redes, sobre a estrutura do sistema bancário mundial, e concluíram que, além de regulamentar as instituições individualmente, as autoridades deveriam também prestar atenção nas relações entre elas. O trabalho foi publicado no periódico PLoS ONE.

De acordo com um dos autores do trabalho, o pesquisador Anxo Sánchez, “um bom modo de aumentar a robusteza da rede, e assim evitar que uma falha ou choque se espalhe por todo o sistema, pode ser modificar os elos entre as entidades”. As declarações de Sánchez aparecem em nota distribuída pela instituição espanhola. “Alguns empréstimos interbancários poderiam ser reestruturados, reorganizando a rede em subgrupos”, sugeriu ele, porque exigir dos bancos um aumento de reservas talvez não baste para garantir a segurança do sistema.

 

Levantamento revela machismo na ciência

Nos países que mais produzem ciência, os artigos científicos que têm mulheres como autores principais são menos citados que os assinados por homens. Essa disparidade é agravada pelo fato de que os trabalhos encabeçados por mulheres tendem a envolver menos colaboração internacional e, assim, obtêm menos citações fora do país de origem. Essa é uma das assimetrias levantadas por uma avaliação de mais de 5 milhões de artigos publicados entre 2008 e 2012, divulgada na revista Nature.

Outros dados apurados mostram que, para cada artigo em que uma mulher aparece como pesquisador principal, dois outros trazem homens nessa posição. Menos de 6% dos países com trabalhos indexados na base de dados Web of Science chegam perto de atingir paridade de gênero nas publicações científicas. Os países mais desiguais são Arábia Saudita, Irã, Japão, Jordânia e Emirados Árabes Unidos.

“Nenhum país pode se dar ao luxo de ignorar  a contribuição intelectual de metade de sua população”, advertem os autores do levantamento, ao pedir políticas “realistas” para evitar a reprodução dos mecanismos que promovem a predominância masculina.


Dinheiro corrompe, tempo salva

Pensar em dinheiro aumenta a tendência das pessoas a se comportar de modo desonesto, mas pensar em tempo tem o efeito oposto, diz artigo publicado no periódico Psychological Science. Os autores submeteram centenas de voluntários a quatro experimentos envolvendo tarefas – como resolver enigmas de palavras com letras misturadas – criadas para induzi-los a pensar em “tempo” ou “dinheiro”, ou em nada em particular. 

Ao final das tarefas, os voluntários tinham de declarar quantos problemas haviam sido capazes de resolver. Resultado: os participantes que tinham sido levados a pensar em dinheiro mentiram, citando um número maior de soluções que o real, muito mais do que os que haviam sido induzidos a pensar em tempo, e que os que tinham realizado as tarefas neutras. Já pensar em tempo fez com que as pessoas trapaceassem menos que os colegas que tinham pensado em dinheiro e, até, que os haviam recebido os problemas neutros.

Os autores do estudo – de Harvard e da Universidade da Pensilvânia – concluíram que pensar no conceito de tempo leva o indivíduo a refletir sobre sua vida, seu caráter e a imagem que tem de si mesmo, o que põe as questões éticas em perspectiva.

 

O lugar mais frio da Terra

O ponto mais gelado do planeta fica num platô da Antártida, onde a temperatura pode cair a -92º C durante a noite no inverno, mostram dados levantados pelo satélite americano Landsat 8. A informação foi encontrada durante uma análise do mais detalhado mapa das temperaturas globais já feito, construído a partir das informações do satélite.

O recorde anterior de frio, registrado na década de 80, também ficava na Antártida, mas em outra parte do continente, e a temperatura mínima obtida foi de “escaldantes” -89,2º C. O novo recorde foi captado pelo satélite em 2010.

Já o local permanentemente habitado mais frio do mundo é o nordeste da Sibéria, onde a temperatura já foi vista caindo a -67,8º C pelo menos duas vezes.