Edição nº 527

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 21 de maio de 2012 a 27 de maio de 2012 – ANO 2012 – Nº 527

Método melhora atendimento em hospitais

Instrumento de avaliação foi desenvolvido a partir de análise de 166 pacientes

Foi pensando em buscar o melhor percurso assistencial do paciente, além de garantir a qualidade desse percurso, que a doutoranda Eneida Rached Campos conseguiu criar, há pouco, um instrumento de avaliação inédito no Hospital de Clínicas (HC), batizado como Método Pelc (Planejamento Epidemiológico de Linha de Cuidado). O projeto piloto, que resulta de sua tese de doutorado – orientada pelo docente Djalma de Carvalho Moreira Filho e defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) – foi aplicado no Departamento de Pediatria. A linha de cuidado escolhida foi a das crianças e adolescentes infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Foram analisados 166 pacientes numa faixa etária de zero a 20 anos. O método se mostrou factível e reprodutível em qualquer tipo de linha de cuidado na área da saúde, podendo ser empregado em hospitais, clínicas e centros de saúde.

Eneida, que é graduada em Ciência da Computação pela Unicamp, conta que o método tomou como referenciais teóricos a Epidemiologia e a Ciência da Administração, entre outros. Então correlacionou esses conhecimentos, muito próximos de sua prática profissional, para identificar como essas áreas poderiam melhorar de modo integrado a qualidade da assistência.

As abordagens atuais sobre qualidade, comenta ela, estão muito distantes do percurso assistencial. Essa linha de cuidado foi escolhida para a primeira aplicação do Pelc sobretudo em razão de haver nesse Departamento docentes muito experientes e uma perda mínima de seguimento de pacientes. Além disso, nota-se um vínculo intenso entre os docentes e as famílias e pacientes.

Esse grupo, dimensiona Eneida, estava bem amadurecido e procurava ações de qualidade. Foi então estabelecida uma equipe de árbitros a fim de definir um tratamento padrão para a linha de cuidado. Nesta definição, a Pediatria – um dos principais serviços de referência no país – procurou se basear nas diretrizes e recomendações do Ministério da Saúde.

O pediatra Marcos Nolasco, que coordenou o grupo de estudo, é um dos membros do Ministério a revisar essas diretrizes. Pela familiaridade com esse objeto, ele chegou a definir 21 requisitos na linha de cuidado, com uma pontuação para itens ligados ao paciente e à estrutura do serviço.

Esses requisitos passaram pela adesão ao tratamento, pelo cumprimento do protocolo das diretrizes pelo serviço em relação a exames complementares, avaliação do desenvolvimento da criança e do adolescente, e obtenção de metas de tratamento.

Para cada meta, conferiu-se uma pontuação e cada um dos 21 tópicos teve um peso para compor um escore – um grau de conformidade. De acordo com Nolasco, o Pelc carece agora de uma validação externa, que deverá acontecer à medida em que for aplicado em outras instituições e em outros tipos de linha de cuidado. No entanto, como o tratamento padrão é um instrumento de medida, reconhece o médico, foram tomados alguns cuidados.


Consistências

A primeira consistência esperada, realça Eneida, envolve exigir que esse tratamento padrão tenha poucas linhas próximas dele. A segunda consistência é que, no tratamento padrão, parte dos requisitos tenha a ver com estrutura e processo, e parte dos requisitos tenha a ver com resultado, que se enquadra na lógica de estrutura, processo e resultado de Donabedian, um dos médicos que mais contribuiu para a qualidade em saúde, conta. Na tese, o tratamento padrão demonstrou que as linhas com estrutura-processo apresentaram-se mais adequadas, ocorrendo o contrário com as que não tiveram.

A terceira consistência feita para o tratamento padrão é que todos os Pelcs foram entregues ao grupo de Nolasco. Houve concordância entre os escores de cada paciente e a impressão que os profissionais do serviço tinham sobre os aspectos de processo e de resultados no cuidado aos pacientes. "Criou-se um instrumento de mensuração do grau de qualidade dessa linha de cuidado e fizemos testes comprovando sua robustez. Tudo leva a crer que ele poderá ser usado em outras pesquisas em linha de cuidado pediátrica de HIV e doenças crônicas", expõe Eneida.

A linha de cuidado oferecida ao paciente é formada por etapas e ações que são encadeadas para definir o seu percurso assistencial até que a sua necessidade de saúde seja modificada. É um processo que começa com uma necessidade de saúde de um consumidor de saúde. Inclui o ingresso do paciente no sistema de saúde, o seu acompanhamento, os exames laboratoriais, o follow-up, etc. Nesse piloto, a doutoranda verificou o processo a partir da leitura dos prontuários dos pacientes.


Proposições

Essa tese indicou que o planejamento epidemiológico da linha de cuidado das crianças e dos adolescentes infectados pelo HIV deveria ser composto de ações assentadas sobre evidências como diminuir faltas às consultas de rotina e vulnerabilidades sociais dos pacientes, e aumentar a adesão à terapia antirretroviral. Isso foi apontado epidemiologicamente no estudo.

Nolasco relata que o atendimento aos pacientes com HIV em pediatria no HC é hoje ambulatorial. E, graças a este método, descreve, será possível trabalhar com a universalidade do cuidado, permitindo comparar linhas de cuidado para verificar como estão se comportando em diferentes regiões do Brasil.

A contribuição desse trabalho se pauta em fornecer indicadores semiquantitativos para avaliar a qualidade da linha avaliada, contemplando a riqueza da interação paciente, equipe de saúde e serviço, informa Eneida, que é professora do Programa de Desenvolvimento Gerencial e uma das autoras da Metodologia de Gestão por Processos da Unicamp. (Isabel Gardenal)

 

Publicação

Tese: “Método Pelc – Método de Planejamento Epidemiológico de linha de cuidado”
Autora: Eneida Rached Campos
Orientador: Djalma de Carvalho Moreira Filho
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)