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Saide Calil, pioneiro da engenharia clínica
no Brasil, é premiado nos Estados Unidos

Docente tem trabalho reconhecido pelo American College of Clinical Engineering


O professor Saide Jorge Calil, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação: “Se o equipamento fornecer um resultado errado, erra também o médico na escolha da conduta” (Foto: Antoninho Perri) O engenheiro eletricista e professor Saide Jorge Calil, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), acaba de ser receber o prêmio International Clinical Engineering, concedido pelo American College of Clinical Engineering (ACCE), dos Estados Unidos. A entrega aconteceu em Atlanta (EUA) no início deste mês, no âmbito das comemorações dos 20 anos do College. Esta honraria, de acordo com o próprio ACCE, decorreu dos muitos anos de dedicação no campo de treinamento e orientação em engenharia clínica no Brasil e devido a sua liderança em engenharia clínica e biomédica, regional e globalmente.

A engenharia clínica (EC) é conceituada por Calil como a engenharia praticada dentro do hospital. Segundo o professor, ela envolve a aplicação de técnicas de engenharia, de administração e de economia para o gerenciamento de tecnologias utilizadas na área de saúde, principalmente relativas a equipamentos médico-hospitalares. A engenharia clínica, diz, está envolvida com atividades de gerenciamento de risco, de tecnologia da informação, de treinamento e de suporte técnico aos médicos e enfermeiras, e de gerenciamento do parque de equipamentos, dentre outras. Ele explica que essas atividades são fundamentais para a segurança e a confiabilidade na sua utilização. “Se o equipamento fornecer um resultado errado, erra também o médico na escolha da conduta. Isso é muito sério e por isso os equipamentos têm que estar sempre em perfeitas condições de uso”, realça.

Conforme Calil, a engenharia clínica na Unicamp começou durante a construção do Hospital de Clínicas (HC). No início, o HC contava com um consórcio de empresas que gerenciavam a aquisição e a entrega de equipamentos. O contrato era feito por pessoas que pouco conheciam esse assunto, relacionado à área de equipamentos médico-hospitalares. Quando o equipamento saía do país, a empresa recebia uma porcentagem de seu valor e, quando chegava, recebia o restante. “Então era interesse dessas empresas entregarem os equipamentos o mais rapidamente possível, independentemente de o local de instalação no hospital estar pronto. Conclusão: vários equipamentos chegaram e permaneceram armazenados durante anos”, menciona.

Calil lembra que, na década de 80, o ex-professor da FEEC Wang Binseng, precursor da engenharia clínica no Brasil, sugeriu ao professor José Aristodemo Pinotti, então reitor da Unicamp, que fosse montada localmente uma estrutura baseada nos conhecimentos da engenharia clínica. O professor Pinotti, entendendo a propriedade do tema, estimulou a construção do Centro de Engenharia Biomédica (CEB). Isso ocorreu em 1982, entretanto a engenharia clínica somente foi implementada no Brasil dez anos depois, com a participação da Unicamp na criação de cursos de especialização. “Em 1985, fui contratado pela FEEC. Em 1987, o professor Wang Binseng, que foi o primeiro diretor do CEB, saiu para assumir uma nova função junto à Secretaria do Estado de Saúde. Assumi seu lugar, onde permaneci por sete anos”, contextualiza Calil.

Verificando as vantagens que a engenharia clínica oferecia para a área de saúde, em 1990 o Ministério da Saúde iniciou um projeto para a criação de cursos de engenharia clínica. A Unicamp, através do CEB e do Departamento de Engenharia Biomédica (DEB) da FEEC, que participou intensamente no planejamento desse projeto, apresentou uma proposta para a criação de cursos nessa área de nível superior na FEEC, e médio e básico no ColégioTécnico de Campinas (Cotuca). O curso de engenharia clínica, do qual ainda Calil é coordenador, começou como curso lato sensu na FEEC e posteriormente foi transferido para a Escola de Extensão (Extecamp). No Brasil, eram quatro unidades de ensino a serem contemplados com o projeto, mas a Unicamp foi a única a continuar oferecendo o curso ininterruptamente até o presente.

Desde então, foram formados mais de 500 profissionais para atuarem na área da saúde. Devido à seriedade do curso, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-SP) decidiu pela anotação em carteira dos engenheiros que o concluem. “Temos profissionais de todo o país, que vêm à Unicamp todas as semanas, durante 12 meses, para aprenderem conosco, o que ajuda na divulgação do trabalho desenvolvido nesta Universidade”, esclarece Calil.

O professor acompanhou a expansão da área ao longo desses anos. Participou do crescimento da área de saúde dessa Universidade até se constituir o atual complexo hospitalar da Universidade (dois hospitais, mais de dez unidades de saúde e a Faculdade de Ciências Médicas – FCM, com seus diversos laboratórios). Em 1982, o complexo hospitalar possuía por volta de 1.100 equipamentos – hoje são aproximadamente 12 mil.

Levantamentos
Em 2003, Calil foi eleito membro da Divisão de Engenharia Clínica (CED) da International Federation for Medical and Biological Engineering (IFMBE), onde passou a trabalhar com uma equipe internacional. Em 2006, foi eleito membro do Conselho Administrativo da IFMBE, sediada na Inglaterra, com mandato até 2012. A IFMBE reúne federações nacionais e transnacionais que atuam na área de engenharia biomédica.

Os objetivos da IFMBE são científicos, tecnológicos, literários e educacionais. De acordo com Calil, reúne atualmente mais de 60 sociedades que totalizam mais de 120 mil associados. A eleição para o Conselho Administrativo é bastante disputada, tendo em vista que seus nove membros decidem os destinos da Federação. Cada sociedade afiliada tem o direito de indicar um ou mais membros para as eleições, que ocorrem a cada três anos.

A participação de Calil na Federação possibilitou o desenvolvimento de três grandes levantamentos internacionais. Um deles, como proposta da Divisão de Engenharia Clínica da IFMBE, ocorreu em 2006, e abordava a atual situação de trabalho da engenharia clínica em termos mundiais. Uma dúvida surgia: se a engenharia clínica era entendida da mesma forma em todo mundo? “Tomamos então a iniciativa de verificar se existe consenso e harmonização da questão”, revela.

O resultado desse levantamento mostrou que as atividades de gerenciamento de risco em saúde eram pouco desenvolvidas pelos engenheiros clínicos tanto no Brasil como na América Latina (AL). Como desdobramento, Calil organizou em São Paulo dois eventos sobre este assunto, com a participação de especialistas do American College e da Organização Panamericana da Saúde (Opas). O professor declara que foi a primeira vez que viu uma plateia com administradores hospitalares, médicos, enfermeiras e engenheiros discutindo ativamente um assunto de interesse comum.

Ele aponta que, a despeito de algumas falhas, se comparada com a engenharia clínica praticada nos Estados Unidos, o Brasil está bem posicionado e isso também em relação a maioria dos países. Seu crescimento, a partir de 1995 (após a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa), foi bastante significativo. Para se ter uma ideia, em 1986 o CEB fez um levantamento o qual indicou que somente 1% dos hospitais do Estado de São Paulo tinha grupos de engenharia clínica que na época eram considerados grupos de manutenção. “Esta manutenção era feita basicamente pelas empresas. Hoje, estimo que 70% a 80% dos hospitais de SP possuem grupos de engenharia clínica, não somente grupos de manutenção.”

Um segundo levantamento executado por Calil, também com suporte financeiro da IFMBE, colocou em foco o currículo utilizado pelas unidades de ensino em engenharia biomédica na AL. “Quando observamos as discrepâncias da engenharia clínica em cada país, pensamos: será que a engenharia biomédica na AL é a mesma coisa?”. As conclusões foram que não existem muitas diferenças e que as semelhanças com o Brasil são grandes. O currículo básico gira em torno de instrumentação biomédica, transdutores biomédicos, fisiologia, gerenciamento de projetos, análise de tecidos e reabilitação. Esse currículo é praticado em oito países latino-americanos. Este levantamento foi feito há um ano na Internet.

As ações de Calil na Federação renderam um convite da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra, onde permaneceu por duas semanas. Esse trabalho possibilitou sua nomeação para integrar um grupo de Assessoria Técnica em Gerenciamento de Tecnologias para a Saúde e um contrato com a OMS para um terceiro levantamento, sobre as unidades de ensino com condições de oferecer treinamento em engenharia clínica no mundo. O objetivo desse trabalho é saber quais unidades de ensino de engenharia biomédica no mundo têm condições de ministrar treinamento em gestão de tecnologias.

Dentre as pesquisas na área de engenharia clínica, o professor Calil está orientando no momento uma tese de doutorado na Unicamp que versa sobre gerenciamento de risco em homecare. É algo inédito na AL e na maior parte do mundo desenvolvido e em desenvolvimento. Outra pesquisa, sob sua orientação, aborda uma “caixa preta” para fazer a monitoração e gravação de alguns sinais vitais do paciente durante a cirurgia que permita ao médico, em caso de alterações, rever e analisar o que houve, a fim de implantar melhorias no procedimento. Ambas as pesquisas estão sendo desenvolvida no DEB.

 

Docente é o primeiro brasileiro homenageado

Calil explica que o American College de Clinical Engineering foi fundado em 1992 e que entre seus membros estão os idealizadores e desenvolvedores da engenharia clínica no mundo, na década de 70. Embora já premiassem cidadãos americanos que se destacaram na área, em 2007 o ACCE estabeleceu um prêmio para as pessoas que se destacaram no âmbito internacional. As duas primeiras pessoas que já o receberam pertencem a organizações de destaque internacional: OMS e Opas.

O professor Calil, além de não pertencer a nenhuma organização de cunho internacional, é o primeiro brasileiro a receber este prêmio. “Ser premiado pelo Colégio Americano, que é a instituição precursora da engenharia clínica no mundo e da qual crescemos ouvindo falar, é muito gratificante. Participar com este grupo de engenheiros clínicos, ser avaliado e premiado dentre centenas de outros profissionais europeus e americanos foi o ápice da minha carreira – uma das coisas mais importantes da minha vida profissional”, destaca.

Calil declara que acredita estar cumprindo o seu papel de divulgador da engenharia clínica que se pratica no Brasil e no mundo. Sua interação com a IFMBE e o ACCE, assim como a participação em reuniões da OMS e OPS, tem permitido que aprenda com as experiências de especialistas internacionais, mas principalmente divulgue o que vem sendo desenvolvido nesta Universidade.

Na premiação pelo ACCE, o engenheiro recebeu uma importância em dinheiro, a qual devolveu aos seus realizadores como doação para que iniciem um programa de certificação internacional de engenharia clínica. A sua interação com a engenharia clínica e equipamentos médicos na indústria brasileira lhe valeu, em 2005, também o prêmio “Walter Schmidt – de reconhecimento à contribuição ao mercado hospitalar brasileiro”, da Associação Brasileira de Marketing em Saúde.

Calil também preside na IFMBE um grupo de trabalho em países em desenvolvimento e é autor de três livros e de vários capítulos em Gerenciamento de Tecnologias em Saúde, a primeira produção de material didático nesta área no Brasil. É graduado pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie e obteve tanto o título de mestre como de doutor pela Universidade de Londres, na Inglaterra, como engenheiro biomédico.

 

 
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