Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 278 - 28 de fevereiro a 6 de março de 2005
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Tese lança luz sobre
pigmentos naturais

MANUEL ALVES FILHO

A professora Adriana Vitorino Rossi (à direita), com Patrícia Brotto Lopes Terci, autora da pesquisa: processos otimizados. (Foto: Antoninho Perri)Pesquisa conduzida para a tese de doutoramento de Daniela Brotto Lopes Terci, defendida em novembro de 2004, no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, trouxe novas contribuições para as aplicações analítica e didática das antocianinas, pigmentos naturais presentes em frutas e flores cujas cores puxam para o roxo ou o vermelho. No estudo, orientado pela professora Adriana Vitorino Rossi, a pós-graduanda otimizou os processos de extração, caracterização, quantificação e purificação dessas substâncias, que podem vir a ser usadas, por exemplo, em substituição aos corantes sintéticos dos alimentos. Além disso, alguns ensaios experimentais que integraram o trabalho de Daniela estão sendo levados às salas de aula, com dois objetivos: aperfeiçoar o conhecimento dos professores dos ensinos fundamental e médio e despertar o interesse dos alunos destes educadores pelo estudo da Química.

Antocianinas são encontradas em flores e frutas

Daniela tomou para estudo quatro frutas: jabuticaba, jambolão, amora e uva. A escolha levou em consideração a disponibilidade dessas espécies em praticamente todas as regiões brasileiras, bem como questões de sazonalidade e frutificação. A autora da tese garante que não havia referência na literatura sobre pesquisas relacionando a jabuticaba, que é nativa do país, às antocianinas. Acerca do jambolão, muito consumido na Europa, as investigações nessa área ainda são escassas, conforme a pesquisadora. As duas outras frutas, alvos de várias análises em torno dos seus pigmentos naturais, foram consideradas para efeito de referência.

De acordo com a professora Adriana, sua orientada teve que adequar as metodologias existentes para poder otimizar os processos de extração, caracterização, quantificação e purificação das antocianinas. Ela destaca que, além de serem potenciais substitutas dos corantes sintéticos, essas substâncias são consideradas antioxidantes. De acordo com alguns estudos, elas teriam propriedades anticancerígenas e trariam importantes contribuições ao sistema circulatório. "Muita gente já ouviu falar que tomar uma dose diária de vinho tinto faz bem ao coração. Alguns cientistas acreditam que esse benefício é proporcionado pelas antocianinas presentes na casca da uva", explica a docente do IQ.

Proporcionalmente, conforme a orientadora da tese, a jabuticaba é a que mais contém antocianinas entre as frutas estudadas. A quantidade média é de 314 mililitros por grama da fruta. É preciso considerar, segundo a professora Adriana, que os pigmentos naturais estão presentes apenas na casca da jabuticaba. Em outras espécies, diz, as substâncias também são encontradas na polpa. As demais frutas analisadas por Daniela apresentaram as seguintes quantidades médias de antocianinas: jambolão (386 mililitros por grama), uva (227) e amora (290). O desvio médio geral girou em torno de 5%. "Em termos analíticos, creio que a maior contribuição do meu trabalho foi trazer novos dados sobre a purificação e o comportamento de algumas antocianinas. A partir deles, outros estudos deverão ser desenvolvidos em torno das propriedades dessas substâncias", afirma a pós-graduanda.

Conforme a professora Adriana, isso já está sendo feito dentro do seu grupo de pesquisa. Uma outra pós-graduanda está analisando, em um trabalho de mestrado, as possíveis atividades antitumorais das antocianinas. A docente do IQ demonstra um entusiasmo rasgado em torno da tese de Daniela. Isso se deve a três motivos. Primeiro, porque se trata do primeiro doutorado que ela orienta. Segundo, porque a pesquisa de fato traz contribuições originais no que toca à questão analítica. Terceiro, porque tem servido como ferramenta didática em escolas de ensino fundamental e médio e até mesmo em cursos de graduação da própria Unicamp.

A docente do IQ explica que ao acompanharem em sala de aula alguns ensaios experimentais realizados para a pesquisa da Daniela, os alunos das escolas públicas muitas vezes abandonam a reserva ou mesmo o preconceito que tinham em relação ao estudo da Química e passam demonstrar interesse pela disciplina. "É muito gratificante, pois o que era chato passa a ser sedutor aos olhos desses estudantes", conta. A experiência também tem sido levada ao programa "Teia do Saber", idealizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo com o apoio da Unicamp. A iniciativa visa à formação de professores da rede estadual de ensino. "Tem sido um trabalho muito gostoso", afirma Daniela, que contou com bolsa de estudo fornecida pela Fapesp.

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