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Uma década de inclusão
Ciência e Arte nas Férias, programa para
alunos de escolas públicas, completa dez anos

MARIA ALICE DA CRUZ

Antes de participar do Programa Ciência e Arte nas Férias, em 2007, Mateus de Lima Ramos imaginava a Unicamp como um dos últimos espaços do conhecimento no qual poderia conquistar uma formação de nível superior. Hoje, como estudante do primeiro ano de filosofia da Universidade, ele declara que à medida que tinha contato com os professores do Programa Ciência e Arte nas Férias, se sentia mais motivado a se preparar para o vestibular da Unicamp. Como prêmio por acreditar em seu próprio potencial, foi aprovado na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual de São Paulo Júlio de Mesquita (Unesp), na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e em sua escolhida, a Unicamp. A história de Ramos é um dos motivos pelos quais a Unicamp deve celebrar com ânimo redobrado os dez anos do Programa Ciência e Arte nas Férias, de acordo com o pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Pilli.

Até o momento, 1.043 estudantes participaram do programa. Para o pró-reitor, os resultados obtidos até a décima edição, que acontece de 5 de janeiro a 2 de fevereiro de 2012, mostram que o programa consegue justamente o que os primeiros organizadores vislumbravam: a inserção de jovens com bom desempenho em escolas públicas no quadro discente de universidades públicas de qualidade. “Devo parte desse incentivo a esse projeto que me ofereceu a oportunidade de desenvolver a curiosidade pelo conhecimento, pela descoberta”, diz Ramos. Assim como outros participantes do programa, o estudante, motivado pelo estágio no Ciência e Arte, participou das três primeiras edições do Programa de Iniciação Científica Júnior (PICJr), no qual o projeto é executado por 12 meses. “O PICJr é uma extensão do Ciência e Arte nas Férias. Nele, o estudante de escola pública passa 12 meses desenvolvendo seu projeto na Unicamp”, informa Pilli.

Pilli lembra que em 2003, quando o atual reitor da Unicamp, Fernando Costa, na condição de pró-reitor de Pesquisa, criou o programa, uma turma de 30 escolares do primeiro e segundo ano do ensino médio chegava de suas unidades escolares para experimentar a ciência na prática. Já no primeiro dia, de maneira tímida, adentravam laboratórios, guiados por um ou mais cientistas, que até então povoavam seus pensamentos. Mas quatro semanas depois, encerraram a primeira edição do Ciência e Arte mas Férias com comportamento festivo e demonstrando segurança na apresentação de seus trabalhos. “Eles chegam meio sem saber o que vai acontecer, um pouco inseguros. Acham que a Unicamp é impenetrável e formada por mentes brilhantes que estão no Olimpo. Mas logo percebem que o cientista é um cidadão, ocupado com questões muitas vezes abstratas mas que irão moldar nosso futuro. Também acabam constatando que a universidade é um bem público do qual têm o direito de usufruir. Poucas vezes vi uma transformação ocorrer em apenas quatro semanas”, diz Pilli.

O resultado obtido ao fim da primeira edição fez com que a Reitoria da Universidade, nos anos seguintes, começasse a preparar sua ampliação. Sendo assim, desde 2007, o programa passou a atender 120 estudantes, encaminhados por 63 escolas. A resposta positiva, segundo Pilli, também estimula professores e alunos. Para a décima edição, as inscrições para participar da seleção chegam a 280 nomes. “Houve crescimento acentuado não só no número de alunos admitidos, mas também no número de alunos que se inscrevem. O programa não só cresceu como continua exercendo atração entre estudantes das escolas públicas”, comemora Pilli.

“A ideia é mostrar a esses jovens como a Ciência se desenvolve, como funciona o método científico, as oportunidades de formação que a Universidade oferece mesmo para aqueles que não ingressam via vestibular, como cursos de extensão, especialização, mestrado, doutorado, bibliotecas, enfim, uma série de instrumentos que permitem ao jovem preparar seu futuro profissional”, explica Pilli.

Ele lembra também da inserção de alunos na graduação pelo Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis), voltado exclusivamente para jovens que garantiram a primeira e a segunda nota no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) em suas escolas. “É preciso que a sociedade conheça e reconheça o esforço que a Universidade faz para oferecer ao jovem de escola pública a oportunidade de complementação de sua formação”.

A busca da verdade

No Ciência e Arte nas Férias, segundo Pilli, por meio da execução de projetos que lhes são atribuídos logo na primeira semana do programa, o aluno é capaz de compreender como as ideias são propostas, como as perguntas nascem na cabeça do cientista, como se planeja um experimento ou uma produção artística. “Eles descobrem que nada acontece sem o pesquisador montar um experimento, colher dados, analisar e refazer experimentos ainda mais aprimorados, até que se aproxime cada vez mais da verdade. Porque Ciência é, em sua essência, a busca da verdade”, explica. Ao final do estágio, o aluno participante recebe uma bolsa no valor de R$ 100, oferecida pelo CNPq. A Universidade ainda oferece transporte fretado e vale para o restaurante universitário.

Um momento especial para Ramos, assim como para todos os estudantes que participam do programa, é a integração durante as oficinas, atividade conjunta do programa. “Acredito que a grande importância do Projeto Ciência e Arte nas Férias consista em aproximar universidade e estudantes de ensino médio, de uma maneira extremamente criativa e inovadora. Além de despertar vocação científica e incentivar talentos potenciais, o projeto contribui não só para o enriquecimento cultural, científico e tecnológico dos estudantes, mas também para uma integração mútua entre conhecimento e diversão, que são proporcionados pelas oficinas do projeto”, acentua Ramos.

Para Pilli, o sucesso dos alunos em programas de inserção na Universidade estimula estudantes que, mesmo não-selecionados, passam a buscar um bom desempenho na escola. “Eles sabem que se tiverem desempenho acima da média podem ter a mesma oportunidade de seus colegas selecionados. Acho importante mostrar que aqueles que se esforçam podem almejar algo diferenciado.” Ele acrescenta que a sociedade precisa de pessoas que se destaquem em todas as áreas do conhecimento. “Temos que formar lideranças para todos os segmentos da economia e da sociedade. E isso começa com boa formação”, acrescenta.

Para Pilli, a comemoração é obrigatória, pois diante de tantas críticas à educação brasileira, um excelente instrumento de inclusão na Universidade deu certo. Para ele, o fato de o aluno da rede pública não ter as mesmas condições de aprendizado de um estudante de escola da rede privada não significa que tenha menos talento. “Talento não tem nada a ver com classe social. Temos brilhantes cientistas de origem humilde. É este o espírito do programa”.

Para os próximos anos, o pró-reitor deseja que mais pesquisadores e principalmente jovens professores da Universidade apresentem projetos para receber estagiários em seus laboratórios, pois a participação de mais pesquisadores, incluindo pós-doutores e alunos de pós-graduação, abriria a possibilidade de ampliação do número de vagas.

O mundo científico está em contínua transformação. Pilli acentua que os jovens não podem pensar que tudo está pronto e o mundo não precisará mais de cientistas. Em sua opinião, a Universidade tem o papel de mostrar os desafios que estão por vir. É essa geração, segundo o pró-reitor, que vai ter de inventar seus smartphones, seus i-Pads, pois tudo o que têm hoje é fruto de outros pesquisadores que se dedicaram a desenvolver essas “maravilhas tecnológicas”.

O pró-reitor também coloca entre os desafios as questões centrais do planeta como recursos hídricos, alimentos, energia. “Além desses desafios que conhecemos, há aqueles ainda não imaginados. Quem poderia afirmar no final da década de 1970 que haveria epidemia de Aids? Apareceu e tivemos de lidar com isso. Na época, parecia sentença de morte. Hoje não.” Ele lembra ainda que em 2009 o país foi surpreendido com a epidemia de gripe suína (vírus H1N1), para a qual não estava preparado.

Pilli acredita que a Universidade abre oportunidade de formação para muitos jovens, mas o sucesso requer dedicação. Ao passar pelo Ciência e Arte e manter bom desempenho, o aluno já demonstra potencial para estudar na Unicamp, na opinião de Pilli. Para Ramos, os 30 dias de estágio na Universidade representam uma oportunidade ímpar na vida de qualquer estudante. “Tudo isso possibilitou uma nova gama de experiências acadêmicas que, consequentemente, resultou para mim numa vida social mais crítica e consciente”, conclui Ramos.



 
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