Para especialista, ameaças em escolas escondem intenção de provocar pânico

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Estudantes em escola estadual em bairro de Campinas
Estudantes em escola estadual em bairro de Campinas (Foto: Antonio Scarpinetti)

Considerada uma das mais importantes pesquisadoras de problemas de convivência na escola e radicalização da juventude, Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação (FE) e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, revela que a maior parte das mensagens veiculadas pelas redes sociais que tratam de supostos ataques em escolas tem características de um movimento organizado para causar pânico. Esses eventos, segundo o que vem sendo difundido, ocorreriam especialmente entre 12 e 20 de abril, este último, dia do massacre de Columbine e aniversário de Hitler.

A professora estuda violência extrema em escolas desde o episódio em Suzano (SP), em 2019, quando sete pessoas foram mortas. Segundo ela, muitas das mensagens com ameaças de ataques em escolas que ganharam as redes sociais nas últimas semanas, e têm preocupado autoridades, dirigentes de instituições de ensino, pais e estudantes, apresentam um padrão diferente do verificado entre adolescentes que interagem com comunidades extremistas.

De acordo com a pesquisadora, as expressões empregadas nas ameaças e as motivações das publicações diferem das utilizadas pelos jovens que cometem atentados. “Tudo indica que se trata de uma ação coordenada intencionalmente para gerar o caos, mas não temos certeza ainda, porque está sendo investigado”, afirma a professora. “Nas mensagens analisadas foram encontradas muitas fake news e nem sempre se consegue separar o falso do verdadeiro”.

Isso não quer dizer, segundo ela, que o perigo não exista. “Em nenhum momento podemos afirmar que um ataque não vá acontecer. Não existe garantia, nem mesmo em instituições que são verdadeiros bunkers – tanto que nos Estados Unidos, país com a maior indústria de segurança escolar e o mais alto índice de armas em circulação, é o lugar onde com o maior número de tiroteios em escolas. Contudo, é preciso cautela e não entrar em pânico”, exemplifica a professora.

De acordo com a especialista, também chamam a atenção as tentativas e ataques efetivamente realizados por estudantes após o que aconteceu nas escolas de São Paulo e de Blumenau. “As investidas apresentam uma dinâmica diferente daquela identificada em ataques nos últimos dez anos, cujas características eram vivências negativas em escolas, interação desses jovens com fóruns online, racismo e misoginia. Tudo indica que esses novos ataques são decorrentes do chamado de ‘efeito contágio’, somado a outros fatores, entre os quais ressentimentos, raiva, preconceitos, impulsividade e transtornos mentais. Em linhas gerais, o ‘efeito contágio’ acaba inspirando novos ataques”, diz a professora.

Na avaliação da especialista, a prevenção e o enfrentamento desse novo contexto passam pela articulação dos vários segmentos da sociedade. Vinha é autora de inúmeros estudos que apontam a ineficácia de medidas de segurança como monitoramento e a presença de policiais, a despeito da falsa sensação de segurança que essas ações possam transmitir no curto prazo.

A docente sugere, diante desse quadro, que os dirigentes das instituições educativas discutam todas as dimensões do fenômeno, planejando uma atuação mais coesa e direcionada. “Em seguida, é preciso que os gestores reúnam professores e funcionários de modo que, juntos, planejem ações de acolhimento e condutas comuns para evitar a disseminação de informações incorretas ou mesmo falsas.”

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As professoras Telma Vinha, Cristiane Megid e Susana Durão: discussão do assunto nas escolas (Fotos: Antoninho Perri / Felipe Bezerra)

A especialista avalia que o mais adequado seria a escola fazer um comunicado institucional à família, por escrito, em vídeo ou em áudio, que aborde também as medidas governamentais para lidar com a situação. “Não para prometer, mas para dizer: ‘Estamos cientes, estamos cuidando disso e adotando medidas de prevenção’”, sugere.

Vinha reitera a importância da escuta, do diálogo e da conexão entre professores e adolescentes. “Nesse contexto, é fundamental saber o que está acontecendo e como os jovens se sentem.” A professora faz também algumas recomendações aos estudantes. A primeira, diz, é que eles devem evitar fazer ameaças de brincadeira, “ainda mais num momento de crise como este que estamos vivendo”. Na opinião da especialista, o aluno precisa saber que não deve compartilhar informações desse tipo. Para além dessa orientação, deve denunciar esse tipo de material para os órgãos oficiais. A escola precisa, ainda, orientar sobre o que é necessário ser denunciado.

Por fim, na avaliação da docente, a instituição deve deixar claro para o estudante que a autodefesa não é o caminho. “Muitos estão levando faca para a escola, num suposto movimento de defesa. Ou seja, não podemos aceitar arma na escola, porque isso seria [usar a] violência contra a violência.”

Para Telma Vinha, o país precisa definir uma diretriz de controle de armas, com protocolos adequados, bem como adotar uma política nacional de convivência democrática nas escolas. “As instituições educativas são espaços coletivos, e esse coletivo deve se unir, escutar, dialogar, cuidar uns dos outros, ainda mais em momentos de crises agudas.”

Na Unicamp

A coordenadora da Secretaria de Vivência do Campus (SVC) da Unicamp, professora Susana Durão, diz que não há registro de ameaças dirigidas à Universidade – que, além de oferecer ensino superior, mantém o Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), o Colégio Técnico de Limeira (Cotil) e unidades de educação infantil para filhos de servidores. Juntas, essas unidades totalizam cerca de 3.700 estudantes. 

Segundo ela, o patrulhamento de segurança foi reforçado em todos os campi da Universidade, em especial no Cotuca, localizado no centro de Campinas. Foram feitos contatos, ainda, com a Guarda Municipal (GM) e a Polícia Militar (PM), para que intensifiquem as rondas nas imediações dos campi, e com o Conselho de Segurança de Barão de Geraldo (Conseg).  

Susana Durão recomendou também que as pessoas baixem o aplicativo Botão do Pânico – que fornece à comunidade da Unicamp a possibilidade de registrar ocorrências dentro da área de cobertura do campus principal da Unicamp, da Moradia Estudantil e do Lume Teatro, todos localizados em Barão Geraldo, e do CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas), em Paulínia. Quando acionado em situações de emergência, o aplicativo envia à Central de Segurança da Unicamp as coordenadas GPS (latitude e longitude) registradas pelo celular. 

Professor Alcides Scaglia:  
O coordenador da Secretaria de Administração Regional (SAR) da Unicamp, professor Alcides Scaglia: colaboração de todos para evitar a disseminação de boatos e informações imprecisas (Foto: Antonio Scarpinetti)

Colégios

“Não estamos lidando com uma ameaça direcionada à nossa instituição, mas não fechamos os nossos olhos”, diz a professora Cristiane Megid, titular da Diretora Executiva de Ensino Pré-Universitário (DEEPU), órgão responsável pelos colégios técnicos e pela Divisão de Educação Infantil e Complementar (Dedic).  “Estamos em absoluto estado de atenção”, acrescenta a dirigente.

A professora diz que tem convivido com boatos sobre ataques em escolas desde a última segunda-feira (10) e, desde então, vem trocando informações com os diretores dos colégios e a coordenação da Dedic. “Estamos em alerta para todas as informações que eventualmente cheguem”, afirma a diretora.

“Estamos, também, acolhendo as famílias e os alunos que eventualmente queiram relatar algum acontecimento ou alguma mensagem que tenham recebido ou encontrado. E conversando a partir da manifestação de cada um”, afirma. 

A diretora diz que, além do reforço do patrulhamento nas escolas técnicas e no núcleo de ensino infantil, a Universidade tem trabalhado na direção da prevenção.

“Promoveremos palestras da SVC, junto com a professora Telma Vinha. A primeira ocorrerá na próxima sexta-feira, a partir das 10h, no Cotuca. A ideia é trabalhar na formação dos nossos alunos, contra a radicalização. Trabalhar em programas como a Câmara de Mediação. Além disso, vamos implementar com a professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Andreia Freitas, a ampliação do programa de formação política de jovens, que já vem sendo aplicado no Cotuca. A ideia é levá-lo também para o Cotil e para a Dedic”, revela.

“Vínhamos trabalhando nesse programa muito antes do ataque em Blumenau, mas a iniciativa se mostra muito mais necessária agora, para combater a radicalização entre os alunos”, afirma a professora.

Limeira

Medidas preventivas também foram adotadas em Limeira, município que abriga a Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), a Faculdade de Tecnologia (FT) e o Cotil. “Estamos cientes e vigilantes quanto ao cenário nacional de boatos e supostas ameaças a unidades escolares. Entendemos que essas notícias podem ser preocupantes e queremos garantir que, apesar de não termos recebido nenhuma ameaça direta, estamos tomando as medidas necessárias para garantir a segurança e tranquilidade de todos”, informou o professor Alcides José Scaglia, coordenador da Secretaria de Administração Regional (SAR) da Unicamp.

Scaglia pede “a colaboração de todos para evitar a disseminação de boatos, informações imprecisas ou completamente falsas, as quais podem levar à propagação do medo, ansiedade e confusão. Em momentos delicados, é preciso manter a calma e a confiança, compartilhando apenas informações verificadas e confiáveis”.

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Pró-Reitoria de Graduação promove ciclo de conversas 

A Pró-Reitoria de Graduação (PRG), a Faculdade de Educação (FE), a Comissão Permanente de Formação de Professores (CPFP) e as demais unidades que oferecem cursos de licenciatura estão organizando o ciclo de conversas  "Violência na escola, não!".

A PRG pretende, diante dos ataques violentos ocorridos em escolas no último ano, levantar o assunto para ser discutido entre docentes e estudantes dos cursos de Licenciatura e da Pedagogia, de modo a encontrar formas de prevenção.

Nas conversas, serão abordados diversos aspectos do problema, tais como as redes sociais, os grupos de apologia à violência, a legislação, o apoio institucional e outros.

O evento é gratuito, com entrada por ordem de chegada até a lotação do espaço e com emissão de certificado.

A ideia é que as conversas sejam gravadas e disponibilizadas posteriormente na página da PRG.

Serviço:

Ciclo de conversas "Violência na escola, não!"

Público-Alvo: estudantes das licenciaturas e da Pedagogia

18/04 (terça-feira), às 18h

Tema: “A escola está preparada para evitar ataques?”

Convidada: Carolina Defilippi (Unità Faculdade)

Local: Saguão do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica

19/04 (quarta-feira), às 19h

Tema: “Violência e militarização da educação”

Convidado: Frederico de Almeida (Ciência Política / IFCH Unicamp)

Local: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (Auditório Marielle Franco)

25/04 (terça-feira), às 19h

Tema: “Ataques violentos às escolas no Brasil: um fenômeno a ser enfrentado”

Convidada: Telma Vinha (Faculdade de Educação da Unicamp)

Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação

Outros temas serão divulgados no Instagram (@graduacao.unicamp) e na página da PRG.

Assista:

'Direto na Fonte' com Telma Vinha.

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Um mergulho no universo neonazista

 

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Aula de um dos cursos oferecidos no Ciclo Básico 1 (Foto: Antoninho Perri)

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