Soweto, Organização Negra

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O Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp acaba de receber a doação do acervo Soweto Organização Negra. O conjunto abrange mais de três décadas de lutas contra o racismo estrutural, a desigualdade e a marginalização social da população negra brasileira. Entre o material doado, destacam-se cartazes, faixas, banners, fotografias, boletins, panfletos, tecidos, além de documentação textual produzida ou acumulada pelas atividades da organização nos campos da educação, saúde, segurança alimentar e condições de vida da mulher negra. Parte do acervo remonta às atividades do Grupo Negro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (GNPUC), criado em 1979. Vários integrantes da Soweto eram egressos daquele importante coletivo universitário, que havia funcionado até inícios dos anos 1980.

Integrantes da Soweto assinam termo de doação do acervo. Da esquerda para a direita: Mário Medeiros, Romildo José, Alva Helena de Almeida (presidenta), Flávio Jorge, Aldair Rodrigues (Foto: Maria Júlia Venâncio)
Integrantes da Soweto assinam termo de doação do acervo. Da esquerda para a direita: Mário Medeiros, Romildo José, Alva Helena de Almeida (presidenta), Flávio Jorge, Aldair Rodrigues (Foto: Maria Júlia Venâncio)

Flávio Jorge Rodrigues da Silva, diretor da Soweto, afirma que essa parceria com o AEL é parte de um esforço em apresentar ao Brasil do Século XXI a memória da resistência e luta iniciada por uma geração de ativistas, principalmente na segunda metade do século passado, que, empunhando a bandeira da luta de combate ao racismo, se propôs a desmistificar a farsa da democracia racial existente no país. "São muitas caixas que concretizam uma antiga aspiração de nossa entidade: mostrar uma história de luta importante mas, infelizmente, ainda pouco conhecida e marginalizada por uma sociedade racista. Através dos recursos técnicos mais modernos e da valorização dos meios digitais, esse material poderá ser acessado por públicos mais amplos e variados."

A incorporação do conjunto à Unicamp faz parte de um projeto mais amplo de preservação da memória negra coordenado pelos diretores do AEL, Aldair Rodrigues, do Departamento de História e Mário Medeiros, do Departamento de Sociologia, em parceria com o CEBRAP Afro (Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Social) e envolvendo a presidente do núcleo Márcia Lima (Universidade de São Paulo), o coordenador do projeto Afro Memória Paulo César Ramos, e Maria Julia Venâncio. O objetivo é preservar, digitalizar e difundir acervos das organizações negras brasileiras.

No contexto de implementação das ações afirmativas na universidade, a iniciativa oferece novas referências e inúmeras possibilidades de pesquisa. Aldair Rodrigues destaca que a preservação do acervo é um gesto contra o apagamento do protagonismo negro na história do Brasil. "A documentação da Soweto abrange capítulos importantes das lutas contra o racismo e das lutas por justiça social no país. Torna-se possível reconstituir, por exemplo, a relação dos integrantes do movimento negro com o sistema partidário em diferentes níveis do legislativo."

Mário Medeiros, diretor adjunto do AEL, sublinha que a chegada do acervo da Soweto ao AEL permite ter um panorama mais rico das experiências políticas dos movimentos negros brasileiros ao longo dos anos 1990, tendo em vista que, desde o nome da organização, sinalizam-se os interesses transnacionais e a circulação internacional de ideias sobre o antirracismo. "Por outro lado, o conjunto de intelectuais militantes que compuseram e compõem a Soweto mostram pessoas importantes na construção de uma agenda propositiva dos ultimos 30 anos do movimento negro, envolvendo a marchas como a de Zumbi dos Palmares (1995) ou a institucionalização partidária e com o Estado.", acredita. 

Romildo José auxiliando na organização preliminar do acervo na sede da Soweto (foto: Aldair Rodrigues)
Romildo José auxiliando na organização preliminar do acervo na sede da Soweto (foto: Aldair Rodrigues)

Para Paulo César Ramos, coordenador do projeto Memória Afro do CEBRAP, abre-se uma oportunidade para os estudos sobre o processo de democratização no Brasil conhecerem melhor a história da relação dos movimentos negros com outros movimentos sociais como o MST, o movimento sindical, o movimento estudantil, e a formação da SEPPIR. "O registro dessa relação é marcante no material da Soweto.", afirma. 

Maria Júlia Venâncio, graduanda em Ciências Sociais na USP, que atuou na organização preliminar do acervo junto aos membros da organização, explica que trabalhar com o acervo na sua sede possibilitou que esse processo contasse com as perspectivas e memórias de militantes que participaram ativamente de diversos marcos registrados nos materiais, além de permitir que arranjo dos documentos seja mais fiel à suas lógicas de acumulação. "Acredito que o acesso aos acervos e os diálogos intergeracinoais são formas de enriquecer nossa formação e fazem com que a juventude negra se veja representada nos espaços e programas universitários a partir do reconhecimento da importância dos movimentos negros na história do Brasil."

Sobre a Soweto Organização Negra

A Soweto foi criada em São Paulo em 1991. Participaram da sua fundação Antonio Santos, Arnaldo França Xavier, Cleide de Paula, Damaris de Figueiredo, Edna Muniz de Souza, Emilson André Jacinto, Flávio Jorge Rodrigues da Silva, Gevanilda Gomes dos Santos, João Batista de Jesus Felix, José Francisco, José Galvão Mesquita, José Roberto Barbosa, Luís Carlos de Freitas, Maria do Carmo Sales Monteiro, Maria Inês da Silva Barbosa, Maria José Pereira dos Santos, Matilde Ribeiro, Paulo Rafael da Silva, Ramatis Jacino, Sebastião José e Suelma Inês Alves de Deus. Dentre esses fundadores, quatro permanecem até hoje na instituição: Flávio Jorge Rodrigues da Silva, Gevanilda Gomes dos Santos, Paulo Rafael da Silva e Suelma Inês Alves de Deus.

Confira algumas imagens do acervo em sua chegada no AEL: 

Chegada do acervo ao AEL (foto: Aldair Rodrigues)
Acomodação do acervo às instalações do AEL (foto: Aldair Rodrigues)
Integrantes da Soweto assinam termo de doação do acervo. Da esquerda para a direita: Romildo José, Alva Helena de Almeida (presidenta) e Flávio Jorge (foto: Mário Medeiros)
Documento Acervo Soweto (foto: Mário Medeiros)
Documento Acervo Soweto (foto: Mário Medeiros)
Parte do acervo na sede da Soweto (foto: Aldair Rodrigues)
Imagem de capa
Acervo contra racismo estrutural, desigualdade e marginalização social da população negra está no Arquivo Edgard Leuenroth

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