Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública inicia atividades no IdEA

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Buscar uma abordagem mais inclusiva, segundo princípios éticos e democráticos, na prática cotidiana das escolas públicas brasileiras é um dos objetivos de um grupo de estudos que está sendo criado no Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, em parceria com o Instituto Unibanco. Na terça-feira (5/10), às 17h, uma palestra com o educador Marvin W. Berkowitz, professor de Educação do Caráter e codiretor do Centro para o Caráter e Cidadania da Universidade de Missouri-St. Louis (UMSL), marca a atividade inaugural do Grupo.

Telma Vinha, coordenadora do grupo do IdEA: busca por uma abordagem mais inclusiva
Coordenadora do grupo do IdEA, professora Telma Vinha: busca por uma abordagem mais inclusiva 

Composto por pesquisadores internos e externos à Unicamp, o grupo defende a promoção de uma escola pública gratuita, de qualidade, emancipadora e socialmente referenciada. Em um momento em que o governo federal introduz políticas reducionistas para lidar com os conflitos no ambiente escolar (como o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares) é imperativo trazer esse tipo de discussão para o debate público e incentivar a interlocução com pesquisadores de excelência, afirma a professora Telma Vinha, coordenadora do Grupo.

“É motivo de muita alegria realizarmos o lançamento do nosso grupo com a palestra do professor Berkowitz, uma das maiores referências na área do desenvolvimento moral e educação do caráter”, destaca a pesquisadora, que é docente da Faculdade de Educação da Unicamp. “O professor Berkowitz tem desenvolvido programas nessa área e contribuirá com a discussão do projeto ‘A convivência ética e democrática na escola e na sociedade’, que estamos elaborando de forma cooperativa para ser desenvolvido em redes de educação pública.”

O tema da palestra (em inglês, com tradução simultânea para o português e transmissão pela página do IdEA no YouTube) será “O papel das escolas no desenvolvimento da autonomia e na construção do futuro”. Diretor da Academia de Liderança em Educação de Caráter, Berkowitz nasceu em Nova York, obteve seu bacharelado (1972) em Psicologia pela State University of New York, em Buffalo, e seu doutorado (1977) em Psicologia do Desenvolvimento ao Longo da Vida pela Wayne State University, em Detroit.

Em entrevista ao Portal da Unicamp, Berkowitz explica que a educação do caráter engloba iniciativas que suscitem a bondade humana, entendida como a motivação e a capacidade de se tornar um agente da promoção de valores em prol da coletividade. Tal conceito inclui a capacidade de fazer o melhor em qualquer empreendimento (caráter performático), buscar o conhecimento (caráter intelectual) e fomentar a cidadania responsável (caráter cívico).

Para Berkowitz, a educação do caráter e a educação para a cidadania são disciplinas que se sobrepõem nos ambientes escolares de sociedades democráticas. “Ser um cidadão democrático competente, participativo e responsável pressupõe outros aspectos do caráter. A cidadania requer habilidades, disposições e conhecimentos necessários para ser um bom cidadão. Tais disposições incluem moral, desempenho e caráter intelectual. É preciso servir ao bem comum orientado pela verdade e pelo conhecimento, e ser capaz de perseverar diante de forças opostas”, declara o professor. “Portanto, uma educação de caráter abrangente e eficaz é uma parte crítica da formação de um cidadão democrático.”

Educador Marvin W. Berkowitz, professor de Educação do Caráter e codiretor do Centro para o Caráter e Cidadania da University of Missouri – St. Louis (UMSL)
Educador Marvin W. Berkowitz, professor de Educação do Caráter da University of Missouri – St. Louis (UMSL)

Ele cita casos de sucesso nessa área nos Estados Unidos durante as gestões dos presidentes Bill Clinton (1993-2001) e George W. Bush (2001-2009), nos âmbitos municipal e estadual, estimulados pela legislação federal. De acordo com o especialista, tanto a educação do caráter quanto a educação socioemocional são pautas de leis em alguns Estados norte-americanos. Países como Cingapura, Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, China e Indonésia também têm voltado sua atenção para esses temas.

Berkowitz aponta que, inicialmente, a educação socioemocional tendia a se concentrar em conteúdos e currículos e na prevenção de problemas psicológicos, como depressão, violência, suicídio e abuso de substâncias, por meio do desenvolvimento de habilidades sociais e psicológicas. Já a educação do caráter era mais diversa, com foco em personalidade e valores, e recorrendo a uma ampla gama de estratégias, como currículos, relacionamentos e missão escolar. “Com o passar do tempo, cada uma reconheceu os pontos fortes da outra e passaram a ser mais amplas e com resultados direcionados. Muitas abordagens agora são descritas por ambos ou apenas um dos rótulos. ”

Problemas de convivência – como bullying, indisciplina, violência e preconceito – e os efeitos que exercem no clima escolar, nas práticas pedagógicas, nas relações interpessoais e no desenvolvimento humano, vêm sendo objeto de pesquisas na área de educação. Apesar de serem questões comuns a diversos países, eles ganham maior proporção no Brasil, em vista de nossas carências estruturais, defende Telma Vinha. “As desigualdades de raça, gênero e nível socioeconômico, entre outros fatores, também se manifestam no menor desempenho, na maior severidade e frequência das punições nas escolas”, destaca a docente da FE, observando ainda que estudantes negros, pobres e homossexuais são as maiores vítimas de bullying.

“Trata-se, portanto, de um grande desafio que aponta para a necessidade de buscarmos estratégias capazes de melhorar a qualidade das relações interpessoais nas escolas, enfrentar as desigualdades e, ao mesmo tempo, favorecer a formação cidadã, rumo à autonomia moral. ”

As atividades do Grupo “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública” abrangerão projetos, estudos e seminários avançados, encontros e debates com pesquisadores nacionais e internacionais, participação em centros e redes de pesquisas e realização de eventos e ações de disseminação direcionadas ao público externo. No Brasil, os grandes desafios nessa área e a limitada abrangência de programas de prevenção e mitigação das violências e promoção de uma convivência positiva demandam mais contribuições da academia.

“Por ser um lugar de convívio com a diversidade e de vivência no espaço público, a escola pode ser o local ideal para se aprender a conviver de maneira participativa, inclusiva e respeitosa, fortalecendo os valores democráticos. Mas as experiências bem-sucedidas nessa área em escolas públicas brasileiras são ainda iniciativas isoladas, quase artesanais”, conclui Telma Vinha.

O novo grupo de estudos do IdEA é composto pelos seguintes pesquisadores: Adriana Braga (EFLCH/Unifesp/Guarulhos), Adriano Moro (GEPEM/Fundação Carlos Chagas), Ana Maria de Aragão (FE/Unicamp), Ângelo Cortelazzo (IB/Unicamp), Carlos Vogt (Labjor/Unicamp), Cesar Augusto Nunes (GEPEM/Instituto Unibanco), Flávia de Campos Vivaldi (GEPEM), Luciene Tognetta (FCLAR/Unesp/Araraquara), Maria Suzana Menin (FCT/Unesp/Presidente Prudente), Mirela de Carvalho (Instituto Unibanco), Ricardo Henriques (Instituto Unibanco) e Telma Vinha (FE/Unicamp), com apoio técnico de Elvira Pimentel (doutoranda da FE/Unicamp).

Palestra “O papel das escolas no desenvolvimento da autonomia e na construção do futuro”

Palestrante: dr. Marvin W. Berkowitz

Data: 5 de outubro de 2021

Horário: das 17h às 19h

Idioma: Inglês com tradução simultânea para o português

Transmissão: www.youtube.com/c/InstitutodeEstudosAvançadosUnicamp

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Alunos e professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental  Maria Pavanatti Favaro durante atividade em sala de aula. Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública vai iniciar atividades no IdEA

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