Documentário Limiar retrata experiência de transição de gênero a partir do olhar da mãe

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O documentário “Limiar”, de Coraci Ruiz, irá estrear no Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, um dos maiores festivais artísticos dedicados à temática LGBTQI+. O filme, construído em diálogo com a tese de doutorado de Coraci no Programa de Pós-graduação em Multimeios da Unicamp, traz o olhar da diretora sobre a transição de gênero do filho, Noah. No festival, que ocorre de 11 a 22 de novembro, “Limiar” será exibido na Mostra competitiva de longas, entre 12 a 16 de novembro, na plataforma Sesc Digital

“É um festival muito importante e é muito bom estrear nele. Teremos contato direto com nosso público-alvo, pensando na campanha de impacto e em como o filme pode chegar nas pessoas que podem se apropriar dele. O festival é um caminho maravilhoso para isso. É muito significativo que seja a primeira exibição pública”, diz a diretora.

Coraci, que é documentarista desde 2003, conta como e por que decidiu tornar a experiência de transição de gênero do filho em filme. Confira na reportagem: 

O pessoal e o político

Transformar a experiência do filho em filme, para a documentarista, dialogou com a necessidade de disputar narrativas em um momento de ascensão ultraliberal. A conexão entre as experiências do âmbito privado e o contexto político, evidente em “Limiar”, como aponta a diretora, é própria dos documentários autobiográficos. Dessa forma, as lutas pela redemocratização, as manifestações contra o impeachment de Dilma Rousseff e as marchas feministas e LGBTQI+, contrapostas à emergência de um neoconservadorismo, dialogam entre si no filme.

Avaliação semelhante é compartilhada pelo orientador da tese de doutorado da documentarista, o professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp Gilberto Sobrinho. “O filme transborda em indagações e reflexões sobre identidade e subjetividade, no contexto do turbilhão de acontecimentos políticos pós-golpe de 2016 e a ascensão da extrema direita. Filme poético e ao mesmo tempo político, na coragem de revelar a intimidade e, com isso, reverberar a premissa do ‘pessoal é político’, já expresso por feministas há um certo tempo e que ganha nova roupagem nessa imersão intimista”, avalia.

A sensibilidade e a potência do filme, ainda, relacionam-se à forma como a documentarista decidiu retratar o processo de transição de gênero, sob a ótica de um registro positivo, mas que não reduz a experiência e a complexidade do assunto, mostrando também as angústias e dúvidas que perpassam o processo. “A ideia foi trazer uma experiência que acolhe os conflitos mas que é positiva, que sai do registro de sofrimento, dar dor, da incompreensão, da vulnerabilidade”, conta Coraci. 

Conversas intergeracionais 

Outra característica do documentário diz respeito às diferentes experiências geracionais relacionadas ao corpo, que são costuradas através dos depoimentos de Noah, da avó de Noah e das indagações de Coraci. Estas visões, que se intercalam, deixam transparecer sutilmente diferentes paradigmas intergeracionais durante a narrativa. Assim, o processo de enxergar a autonomia sobre os corpos e os constrangimentos políticos sobre esses corpos atravessam também o documentário, em momentos de diálogo a respeito de modificações corporais e hormonioterapia, por exemplo.

“Para minha mãe, a questão de mexer nos corpos foi muito chocante. Toda a transgressão dela tinha a ver com a questão da natureza. Eu cresci um pouco assim, meio natureba, então é um exercício de você se desapegar das suas certezas. A gente cresce, se torna convicto de algumas coisas e de repente, nesse caso,  isso vai por água abaixo, porque aí por exemplo o hormônio já não é mais como eu via o anticoncepcional, como um veneno. É um possível lugar de encontro para as pessoas trans e um lugar desejável e bem-vindo e que temos que reivindicar”, avalia a documentarista.

Conexão com a pesquisa de doutorado

A tese de doutorado de Coraci Ruiz, intitulada “Documentário autobiográfico de mulheres: tecnologias, gestos e estéticas de resistência”, foi defendida em setembro deste ano. Abordando o potencial do campo colaborativo entre documentário autobiográfico, documentário performativo e teoria feminista do cinema, a pesquisa também mapeou produções brasileira deste gênero de filmes.

Para o orientador da tese, que também foi coordenador de pesquisa do filme "Limiar", a bagagem conceitual traçada de forma madura na pesquisa está, indiretamente, presente no documentário, e a seleção do filme para o Festival Mix é um reconhecimento importante. “A notícia da seleção para o Festival Mix Brasil, na categoria competição brasileira foi uma agradável surpresa. Isso é o reconhecimento de que nossas pesquisas, com foco grande nas relações entre arte e política, sobretudo em filmes de mulheres, negros e lgtbs têm gerado produções instigantes, academicamente, e em outros circuitos também”, afirma.

Confira o trailer do documentário "Limiar":

 

Imagem de capa
audiodescrição: fotografia de coraci ruiz e filho noah

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