Unicamp participa de coalizão internacional para acelerar estudos sobre coronavírus

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Médicos, instituições e organizações de pesquisa e financiamento de 30 países anunciam nesta quinta-feira (2) a criação de uma rede para acelerar os estudos sobre o novo coronavírus.

A iniciativa, batizada de Coalizão de Pesquisa Clínica Covid-19, tem um olhar especial para países mais pobres. A meta é encontrar alternativas a preços razoáveis e, uma vez que elas sejam definidas, garantir o atendimento do maior número de pessoas.

“Não é possível deixar de tratar parte da população“, afirma Jadel Kratz, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês), um dos integrantes do projeto.

Num comunicado publicado na revista médica britânica Lancet, a coalizão observa que, dos quase 600 ensaios clínicos para enfrentar a Covid-19, poucos estão planejados para áreas países de menor renda. A falha, na avaliação do grupo, precisa ser rapidamente corrigida. “A Covid-19 é uma doença global. É importante que todo mundo avalie as intervenções na sua própria população, sobretudo para as peculiaridades de cada país”, diz Kratz.

Para acelerar as pesquisas, reduzir desperdícios e garantir resultados mais rápidos, a coalizão aposta no uso de plataformas para que dados sejam usados e compartilhados de forma padronizada.

“Isso aumenta a transparência, permite a comparação das informações e reduz as repetições de pesquisas”, afirma o professor Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que integra a coalizão.

A Fundação Oswaldo Cruz também está na lista de participantes brasileiros da rede lançada nesta quinta-feira. A presidente da fundação, Nisia Trindade Lima, reforça a necessidade do olhar para países em desenvolvimento e a importância de que resultados das pesquisas sejam compartilhados com instituições e gestores. “Estamos diante de um desastre a nível global. Isso requer muito da pesquisa, uma resposta rápida e eficiente”, completa.

A Fiocruz anunciou semana passada a participação no projeto Solidariedade, coordenado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), para avaliar a eficácia de medicamentos já disponíveis no mercado para o tratamento da Covid-19. Os dados serão usados também para abastecer a plataforma da coalizão.

Kratz ressalta que muitos estudos relacionados ao novo coronavírus já estão em andamento, e parte deles tem objetivos e desenhos muito semelhantes. A princípio, isso poderia ser considerado um desperdício. Com a padronização dos dados, é possível ter respostas mais robustas para determinados questionamentos. “O número de participantes da pesquisa será maior, o que poderá dar mais confiabilidade para informações.”

No caso dos estudos que ainda não tiveram início, a coalizão poderá auxiliar na formatação da pesquisa, o que também ajudará na comparação. “A iniciativa pode ajudar a colocar os condutores do trabalho no mesmo fórum, compartilhar ideias, fazer ajustes no desenho”, afirma o integrante da DNDi.

Ele ressalta ainda que o propósito não é liderar nem a agenda nem coordenar estudos adicionais. “A ideia é organizar as instituições, dar suporte às iniciativas já em andamento.”

Não é apenas no desenho do estudo que a plataforma poderá ajudar. A uniformização dos dados na plataforma poderá ser útil também no caso da necessidade de registro de medicamentos nos países ou na facilitação da adoção de políticas de acesso às terapias. A rede de pesquisa também deve oferecer uma série de mecanismos para dar suporte e aproximar centros de pesquisa para obter financiamentos.

No documento divulgado na revista Lancet, integrantes da coalizão ressaltam a importância da observância de princípios éticos. Dias observa que, diante da demanda da população, alguns países se apressam em apresentar alternativas terapêuticas sem que haja comprovação. Para ele, isso pode trazer inúmeros riscos. “As tomadas de decisão devem ser baseadas em resultados sólidos.”

Ele avalia que resultados apresentados até agora para hidroxicloroquina, um medicamento usado para tratamento de artrite e lúpus, por exemplo, são iniciais e somente deveriam ser apresentados como uma perspectiva de tratamento, não uma garantia.

A presidente da Fiocruz, julga ser importante, neste momento acelerar processos de análise. “Salvar vidas é o valor ético maior. Isso não significa validar a eficácia de medicamentos sem estudo, mas acelerar o trabalho.”

Kratz observa que a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa aprovou 16 pesquisas clínicas relacionadas ao novo coronavírus, demonstrando a agilidade na análise. O gerente da DNDi, no entanto, observa que há ainda um aprendizado no caminho. Ele reconhece haver uma pressão para que resultados sejam rapidamente encontrados. “Está todo mundo torcendo para isso. Mas não podemos pular etapas. Nem fazer má ciência agora. Mesmo pulando etapas ou acelerando processos, é importante que tudo seja ligado à ética e bons processos.”

Questionado sobre se a oferta de hidroxicloroquina nos serviços para uso, a critério de médicos, nos casos mais graves de Covid-19, era uma boa prática médica, Kratz resumiu: “Tudo gestão de risco.” Em seguida, completou: “Se fosse um medicamento totalmente experimental, sobre o qual não tivéssemos nenhuma informação, seria inviável.” Ele lembrou, no entanto, que estudos até agora reunidos têm limitações. “Espero que os dados de uso em caráter experimental possam ajudar na avaliação da eficácia do medicamento.”

Acesse a matéria na Folha

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Homem é submetido a exame da Covid-19 em laboratório na França | Foto :Jeff Pachoud / AFP

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