Profissionais de saúde da Unicamp podem acessar rede de apoio em saúde mental

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No enfrentamento à pandemia causada pelo novo coronavírus, os profissionais de saúde estão na linha de frente. Ainda que sejam treinados para suportarem jornadas extenuantes e lidarem diretamente com o sofrimento humano, as pressões ligadas ao combate ao Sars-Cov-2 são, certamente, inéditas. Medo e perigo de contágio, cobrança da sociedade, autocobrança e esgotamento físico e mental são apenas alguns dos desafios colocados a estes profissionais.

Para a psiquiatra e Chefe do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria (DPMP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Renata Cruz Soares de Azevedo, é absolutamente normal que essas pessoas sintam medo. Pensando nisso, ela e cerca de 20 profissionais da área de saúde mental começam hoje um trabalho de atendimento virtual que visa apoiar os colegas em suas angústias, ansiedades e temores.

Confira a avaliação da médica sobre a rotina dos profissionais de saúde no enfrentamento à pandemia e saiba como funciona a rede:

Apesar de lidarem cotidianamente com doenças, o enfrentamento à pandemia do coronavírus possui uma gravidade inédita. Como você observa a rotina destes profissionais de saúde nesse momento?

Essa situação está trazendo desafios que são novos para todos. Primeiro porque há ainda muitas incertezas com relação a como a pandemia vai se desenhar no país. A incerteza deixa os profissionais particularmente angustiados. Aqui no Hospital das Clínicas, por exemplo, foi feita toda uma reorganização para ter espaço disponível para os potenciais casos. A visão do Pronto Socorro, que é sempre cheio e hoje está praticamente vazio, esperando os pacientes que estão por vir, gera angústia. Ao mesmo tempo, para que a reorganização fosse feita, foi preciso que todo o resto de tratamento que se faz, dos pacientes graves que atendemos cotidiamente aqui, fosse reorganizado. Claramente estamos cuidando dos pacientes em tratando de uma forma diferente, porque há o estabelecimento de prioridade para a pandemia. Além disso, há todos os desafios pessoais, porque os profissionais que estão trabalhando têm filhos que não estão na escola, e ao chegar em casa há uma série de cuidados ampliados de higiene, como deixar sapato fora, lavar imediatamente as roupas, tomar banho. Isso redesenha o cotidiano de pessoas que, sim, estão acostumadas a tratar doenças graves, mas nesse contexto isso fica redesenhado.

Quais são as pressões que estes profissionais sofrem?

Parte da pressão refere-se à responsabilidade do trabalho em si, porque as pessoas sabem da carga que trabalhos dessa natureza impõem, e que elas vão ter que ser a linha de frente. Também há uma pressão e uma expectativa da sociedade sobre como os profissionais de saúde devem agir nessa situação. Ao mesmo tempo, visto que surpreendentemente há um certo rechaço por parte de algumas pessoas - vimos profissionais sendo hostilizados porque estavam usando transporte público, por exemplo. Há pressões da família dizendo “não me visite porque tenho medo que você me traga a doença”. Então há pressões de diversas naturezas. Além de uma pressão frequente em profissionais da saúde que é “tenho que dar conta”. Os mais jovens principalmente, como os residentes que estão ainda em formação. É algo como “eu preciso dar conta, mas ao mesmo tempo eu tenho medo”. E isso é humano e absolutamente compreensível.

audiodescrição: fotografia colorida da Chefe do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria (DPMP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Renata Cruz Soares de Azevedo
"Esses sentimentos de insegurança e medo são humanos e precisam ser trabalhados"

De onde parte e como funciona o grupo de apoio virtual?

Já existe um trabalho no hospital há muito tempo que é chamado de consultoria. Os profissionais da psiquiatria são chamados seja porque há pacientes com problemas psiquiátricos, seja porque as equipes solicitam para lidar com questões que envolvam o cuidado e aspectos emocionais. Nós já estávamos atentos a como íamos trabalhar nesse momento da pandemia em particular. A partir disso, resolvemos criar um grupo de trabalho de profissionais que são da Universidade, mas que estão fazendo um trabalho voluntário porque vai além da atividade deles. São pessoas que se disponibilizam a fazer apoio emocional virtual aos profissionais de saúde da Unicamp. Nós temos atualmente 20 profissionais e provavelmente teremos mais, que estão disponibilizando horários para atendimento virtual. Esse atendimento será em grupo ou individual, para os profissionais de saúde que os solicitem.

Neste momento, o trabalho é feito por profissionais vinculados à Universidade, não é um voluntariado aberto em função de uma série de particularidades do atendimento neste contexto, entre eles a compreensão do trabalho em um serviço hospital terciário/quaternário no SUS.

Como acessar essa rede?

Nós temos um e-mail institucional (apoioprofissionais@hc.unicamp.br) para os profissionais de saúde da Unicamp que queiram receber o atendimento. A pessoa vai abrir um googledocs em que vai inserir informações para organizar o atendimento, entre elas o horário disponível, sua profissão - para tentarmos fazer grupos com alguma homogeneidade -, a expectativa que tem em relação ao apoio para direcionar o atendimento. Já temos 36 pessoas que solicitaram, e os primeiros grupos ocorrem hoje à tarde.

Que mensagem deixar a estas pessoas que estão lidando no enfrentamento à pandemia?

Sentimentos de insegurança e medo são humanos e precisam ser trabalhados. As pessoas não precisam sentir nenhum constrangimento em buscar a ajuda, o trabalho de quem está na linha de frente é muito importante e essas pessoas têm todo direito de pedir ajuda para ter a sua saúde mental preservada no momento.

 

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audiodescrição: fotografia colorida da Chefe do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria (DPMP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Renata Cruz Soares de Azevedo

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