Semana de Geografia discute África e suas Diásporas

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Débora Jeffrey, da Faculdade de Educação da Unicamp
Débora Jeffrey, da Faculdade de Educação da Unicamp

Por uma geografia afrocentrada: África e suas Diásporas. Esse foi o tema da XII Semana de Geografia da Unicamp, que ocorreu entre os dias 5 e 7 de novembro, no Instituto de Geociências, com atividades como mesas, palestras e minicursos.  O evento faz parte do Unicamp Afro, cujo objetivo é resgatar e valorizar traços afro-brasileiros que compõem a construção da identidade do país através de atividades que ocorrerão ao longo do mês de novembro. Uma das atividades da Semana de Geografia foi a mesa “África e africanidades: desafios e perspectivas para o ensino de geografia da África e suas diásporas no Brasil”, que ocorreu na quarta, 6. A mesa, coordenada pelo docente do IG Vicente Eudes Lemos, trouxe a visão dos docentes Débora Jeffrey, da Faculdade de Educação da Unicamp; Billy Malachias e Carlos Machado, da USP.

Billy Malachias discorreu sobre racismo estrutural e território. Em sua fala, tratou de temas como a indissociabilidade entre racismo institucional e individual e sobre a raça nas perspectivas biológica e cultural.  Segundo o docente, o racismo individual, o institucional e o estrutural são ações diretamente relacionadas. O institucional é definido como a incapacidade do Estado em atender com equidade toda a população. As práticas individuais, que se manifestam no interior das instituições, são repetidas cotidianamente, formatando um tratamento preconceituoso que não é resultado de uma orientação deliberada.  “(O tratamento preconceituoso) está na crença da pessoa que está atendendo em não olhar para um diferente com a mesma atenção e cuidado que olharia para um semelhante seu”, disse. Já sobre a raça sob o ponto de vista biológico, o docente salientou como os traços físicos levam mulheres, negros e outras pessoas a serem discriminados pela aparência. “O que você pensa sobre um corpo masculino, feminino, preto, branco, é aquilo que está na sua cabeça. Há uma diferença significativa em como sou visto e como eu me vejo. Como as pessoas me vêem, eu nada posso fazer. Mas como eu me vejo, tenho muito a fazer”, disse. 

Débora Jeffrey abordou a formação de professores. Para a docente, o grande desafio nos cursos de formações de professores de geografia é como pensar o tempo, o espaço e o lugar em meio à individualização e a generalização.  Lembrou que o direito à educação, em uma dimensão histórica, está vinculado à meritocracia, mas que todos têm direito à educação. Direito esse resguardado pela Declaração Universal de Direitos Humanos que expressa em seu artigo 26 que todo ser humano tem direito à instrução. “O nosso papel é situar, orientar e trazer referências que constituem a cultura afrobrasileira entre os estudantes”, destacou. Débora também criticou as mudanças na Base Nacional Comum Curricular no que se refere à Geografia. “Tivemos um grande retrocesso, em especial em torno do debate da discussão étnico-racial na construção da história”, disse. Para a docente da FE, “eventos como esse são fundamentais para que possamos problematizar e compreender a dinâmica em que a geografia se situa”. 

Carlos Machado, da USP, falou sobre ciência, tecnologia e inovação africana. Abordou o “racismo científico e a construção do imaginário sobre a pretensa falta de inteligência do povo negro construída por diversos intelectuais ao longo dos séculos”. Na palestra, trouxe conhecimentos científicos africanos na matemática, na astronomia e química, produzidos há milhares de anos. Exemplificou com descobertas como o Osso de Lebombo - objeto matemático mais antigo com cerca de 44 mil anos, encontrado na Suazilândia, na África; e o Calendário de Adão, estrutura feita de rochas perfeitamente alinhadas com o movimento do sol, localizada na África do Sul, e erguida há mais de 70 mil anos. “Graças à rede mundial de computadores temos acesso a muitas produções de afrogeografia centrada que ficou escondida por séculos. Existe um grupo que dominou o território e construiu uma narrativa com sua versão sobre a história e a ciência. Graças à internet e à divulgação de informações e de conhecimentos bem fundamentados, temos outras possibilidades para além do eurocentrismo”, disse ao Portal Unicamp.

Mesa discute desafios e perspectivas para o ensino da geografia da África e suas diásporas no Brasil
Participantes do evento

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