Reitores sensatos: veja artigo publicado no Estadão

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Reitores sensatos

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
27 de setembro de 2019 | 03h00

Depois que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ameaçou cortar verbas das universidades federais que, a seu ver, estariam promovendo balbúrdia em vez de fazer pesquisas, deputados bolsonaristas em algumas Assembleias Legislativas aproveitaram o argumento para pedir a criação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) com o objetivo de apurar "gastos excessivos" com docentes e "aparelhamento esquerdista" nas instituições públicas de ensino superior.

Apesar de entidades de docentes terem classificado a iniciativa como "atentado à liberdade de cátedra" e tentativa de "criminalizar" as gestões universitárias, em São Paulo os reitores da USP, da Unicamp e da Unesp agiram com sensatez. Em vez de resistir à criação de CPIs e deflagrar um debate corporativo, optaram por converter seus depoimentos em divulgação do que suas instituições estão fazendo. A estratégia foi duplamente bem-sucedida. Em primeiro lugar porque, sem confronto ideológico, os deputados bolsonaristas não puderam recorrer à demagogia. E, em segundo lugar, porque os dirigentes das universidades estaduais paulistas, apoiados em números, calaram seus críticos.

Numa sessão da CPI à qual compareceram só 3 dos 9 deputados que a integram, ocorrida no último dia 19, o reitor de Pesquisa da USP, Sylvio Canuto, titular do Instituto de Física, lembrou que, se a instituição fosse um país, seria o terceiro maior produtor de conhecimento científico da América Latina, ficando atrás do próprio Brasil e do México. Ela é, também, a universidade brasileira que mais colabora com o desenvolvimento da indústria. Das oito startups brasileiras que hoje têm mais de US$ 1 bilhão em valor de mercado, quatro foram fundadas por alunos da USP, disse Canuto. Desde que ganhou autonomia, a USP aumentou em 1.100% o indicador de produção científica. O número de alunos de graduação cresceu 50% e o de teses, 400%.

Canuto mostrou ainda que a USP participa de grandes consórcios internacionais de ciência e tecnologia que, para os leigos, como os deputados bolsonaristas que integram a CPI das Universidades da Assembleia Legislativa, parecem não ter finalidade prática e oferecer resultados a curto prazo. É o caso do Telescópio Gigante de Magalhães, que está sendo construído no Chile. Ele é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias nas áreas de física, engenharia de materiais, análise de dados e captação de imagens. Um dos desafios do projeto é a construção de espelhos de 8,4 metros de diâmetro, que necessitam de perfeição microscópica para funcionar. Os espelhos estão sendo construídos fora do país e uma professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP integra o conselho científico do projeto.

Em seu depoimento na CPI, o reitor de Pesquisa da USP lembrou ainda que a instituição participa do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, um projeto que envolve 15 mil pessoas em todo o País e que desenvolve técnicas de controle biológico de pragas na agricultura, alternativas ao uso de agrotóxicos e transplante de útero de doadora falecida. É uma conquista médica inédita que foi feita pelo Hospital das Clínicas da USP. Além de Canuto, o pesquisador Antonio Vargas Figueira, do Centro de Energia Nuclear da Agricultura, em Piracicaba, participou do depoimento. Os reitores da USP, Unicamp e da Unesp também prestaram depoimento à CPI, que até agora não detectou nada de irregular nessas instituições - nem mesmo o "predomínio do marxismo cultural que tem de ser vencido", segundo acusa Weintraub.

Fica evidente que o ministro desconhece a área que dirige e que não sabe que é nas universidades de ponta onde se discutem e desenvolvem políticas públicas. Também fica evidente que, se o governo tivesse algum projeto para o ensino superior, o ministro deveria estimular discussões sobre como instruir melhor a sociedade, em vez de perder tempo com patrulhamento ideológico e denúncias infundadas.

Artigo Jornal Estadão

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