Diário de Brumadinho

2º Dia – “Uma enorme onda varreu tudo”

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Rastro de lama

Hoje (30) foi nosso segundo e último dia de campo. Amanhã (31), começaremos a arrumar nossas coisas para voltar. A missão de reconhecimento da equipe CENACID  teve, por questões de logística, que ter menos tempo em campo. O que não significou menos trabalho, pelo contrário.

Hoje, visitamos a área da barragem rompida e onde estavam as instalações e equipamentos da Vale: escritórios, refeitórios, oficinas. O que restou da barragem é agora um grande buraco cheio de lama.

O rompimento da barragem gerou uma enorme onda que varreu tudo, deixando um cenário de terra devastada. A lama agora endurece, e pode-se ver aqui e ali destroços de maquinas, equipamentos e estruturas de galpões.

Na área coberta pela lama dos rejeitos, existem algumas áreas onde os bombeiros estão concentrando esforços. São áreas onde existem maiores probabilidade de achar corpos de vítimas.

Fomos conhecer, com o tenente coronel Watanabe, dos bombeiros do Rio de Janeiro, a área de apoio ao resgate. Esta unidade de apoio está localizada na pequena localidade de Córrego do Feijão, a cerca de dez quilômetros de Brumadinho.

Antes uma pacata comunidade mineira de casas pequenas e bonitinhas, a vila de Córrego do Feijão está cheia de gente frenética, correndo de um lado para outro. Helicópteros rodeiam o tempo todo no pequeno campo de futebol da vila, criando um trafego aéreo digno de uma grande cidade. Ali saem os grupos para as missões.

Segundo nos explicou o capitão Daniel, bombeiro paranaense que veio como voluntário ajudar no resgate, primeiro os helicópteros identificam os locais onde podem estar os corpos das vítimas. Em geral roupas, manchas de sangue e outros indícios são suficientes para gerar uma área de interesse.

Um grupo de bombeiros segue para a área, equipada com pranchões de compensado, pás e um saco de plástico preto. Os pranchões são usados para que os bombeiros possam se locomover na lama, que em muitos lugares chega a atingir 14 metros de espessura. Às vezes, segundo o capitão Daniel, eles são obrigados a “nadar” na lama.

Quando um corpo é desenterrado, eles chamam o helicóptero, que traz o corpo para a vila para ser desinfetado e identificado pelos legistas. Muito frequentemente os corpos estão mutilados, o que dá muito trabalho e faz a identificação ser mais lenta. Até o momento foram recolhidos 99 corpos e identificados menos da metade. Outros duzentos e tantos figuram como desaparecidos.

Na sala de comando, situado dentro da pequena capela de Nossa Senhora das Dores (!), o comandante das operações, o major bombeiro Rafael, de Minas, nos recebe e nos mostra os equipamentos de que dispõe: vários telões e mapas nas paredes com estimativas de profundidade da lama e mais detalhes que possam ajudar nos trabalhos de resgate.

À noite, nossa equipe, comandada pelo professor Renato Lima, fez um mapa preliminar mostrando as diferenças do fluxo de lama no vale do Córrego do Feijão. Também foi feita uma estimativa da energia envolvida pelo fluxo de lama desde a barragem até a foz no Rio Paraopeba. Hoje a noite a equipe foi à sede das operações entregar estes mapas ao major Rafael.

O major Rafael agradeceu e ressaltou a importância da nossa colaboração por mais pequena e preliminar que fosse, pôde, segundo ele, auxiliar bastante na busca de corpos das vitimas da tragédia.

Por outro lado, é importante para nós do CENACID – assim como para todos os nossos colegas da Universidade Pública – mostrar que nós podemos participar ativamente durante estes eventos e de outros eventos, levando conhecimento científico para minorar o sofrimento das pessoas. É a nossa vocação como instituição pública sendo realizada.

Tenho recebido muitas manifestações de apreço de amigos e colegas. Agradeço e retribuo, comovido. Aqui sou só mais um, numa pequena equipe. Vejo aqui por todo lugar muito empenho e disposição de fazer o melhor. Com o carinho e o incentivo de vocês, com certeza ficamos todos mais fortes.

Como diria um poeta mineiro que embalou os sonhos de minha geração, a lição sabemos de cor, só nos resta aprender....

 

*Jefferson Picanço é docente do Instituto de Geociências da Unicamp e integra uma missão que busca estudar as causas do rompimento da barragem em Brumadinho, fornecendo recomendações às autoridades que estão à frente das operações.  Ele é membro do Centro de Apoio Científico em Desastres (CENACID), da Universidade Federal do Paraná. Uma equipe do Centro irá estudar o caso, em especial os mecanismos e consequências do fluxo da lama-rejeito.

Imagem de capa
Técnicos avaliam impactos da tragédia na área devastada

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