Universidade de Nova York visita a Unicamp e discute raça, classe e equidade

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estudantes do ProFIs e da NYU

“Alguns dos programas de ação afirmativa mais avançados do mundo estão no Brasil e a Unicamp é peça fundamental no excelente debate que vem sendo realizado”, afirmou Erich Dietrich, professor e diretor associado de assuntos globais da Universidade de Nova York (NYU), em visita nesta quarta-feira (1) à Unicamp. Dietrich é responsável pela disciplina Raça, classe e equidade no ensino superior no Brasil, do programa de mestrado e doutorado em Política Educacional no Ensino Superior da NYU, e trouxe seus 14 alunos para conhecerem a Unicamp e, mais especificamente, o ProFis (Programa de Formação Interdisciplinar Superior).

A comitiva foi recebida pelo reitor Marcelo Knobel e pelos pró-reitores de graduação, Eliana Amaral; pós-graduação, André Furtado; e Extensão e Cultura, Fernando Hashimoto; pelo diretor executivo de relações internacionais, Mariano Laplane; pela assessora da Diretoria Executiva de Relações Internacionais, Elena Brugioni, e pela coordenadora do ProFis, Mariana Freitas Nery. Participaram ainda da reunião, realizada na sala do Consu, Renato Pedrosa, do Instituto de Geociências (IG), e Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Políticas Públicas (Nepp).

reitor e pró-reitores
André Furtado, Eliana Amaral, Marcelo Knobel, Mariano Laplane e Elena Brugioni

Além de apresentar a Universidade para os estudantes, o reitor traçou um panorama da trajetória das ações afirmativas na Unicamp, apontando avanços e desafios enfrentados. Citou o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais), o debate e a implementação do Sistema de Cotas, o Vestibular Indígena, a Cátedra dos Refugiados entre outras iniciativas. “A Unicamp é uma universidade pública e gratuita, mas a maioria de seus estudantes vem de famílias ricas. É essa inversão que estamos tentando mudar com esses programas”, explicou.

Eliana Amaral, por sua vez, destacou a preocupação da universidade com a permanência dos estudantes. “Para que esses estudantes permaneçam aqui, oferecemos um amplo programa de suporte financeiro e psicológico, que inclui bolsas, moradia, alimentação e transporte”, pontuou.

estudantes do ProFIs
Mariana Nery, Bruna Casarini, Eloíse Santos, Marcos Vaz, Caio Mattos, Gabrielle Caroline, Natalia Joventino, João Luís Pelatti, Maria Isabel Martins

Na parte da tarde, o palco foi dos estudantes e egressos do ProFis, que analisaram o programa a partir da perspectiva da experiência vivida. As dificuldades durante o ensino médio e a distância entre sua realidade e a Unicamp foram alguns dos principais pontos destacados. “A maioria de nós nunca pensou que poderia estar na Unicamp”, explicou Eloíse Santos, estudante do Instituto de Geologia, egressa do ProFis. Apesar dos imensos desafios enfrentados durante os dois anos no ProFis e a graduação, os estudantes foram unânimes em afirmar as qualidades do programa e o impacto deste em suas vidas. Além das oportunidades intelectuais e profissionais que se abriram, os estudantes apontaram o ambiente livre e seguro da Unicamp como responsável por mudanças em sua identidade racial e afirmação da sexualidade.

estudante da NYU
Fawziah Qadir, NYU

A relação com a identidade racial no Brasil foi um dos pontos que chamou a atenção de Fawziah Qadir, estudante do terceiro ano de doutorado na NYU, que fez parte da comitiva. Para ela, mulher negra norte-americana, foi curioso ouvir estudantes do ProFis afirmando que só na universidade passaram a se identificar como negros. “Nas minhas últimas duas visitas, na Educafro e aqui na Unicamp, eu ouvi pessoas afro-brasileiras afirmando que precisaram aprender a ser negras. Nós temos um trauma compartilhado, a escravidão. Mas a experiência histórica vivida é muito diferente”, comentou Fawziah Qadir. “Nós somos pesquisadoras. Nos preparamos com antecedência, lemos muito antes de vir sobre o mito da democracia racial e do impacto que ela teve sobre a questão da raça no Brasil. Mas, falar com as pessoas e saber como entendem essas coisas a partir das suas experiências, é completamente diferente”, completou.

Para Beth Markowitz, doutoranda do Programa Administração em Ensino Superior da NYU, a oportunidade de ouvir os estudantes do ProFis foi um diferencial muito importante da visita à Unicamp. “Nós podemos ouvir informações importantes da administração,  que tem uma agenda e  requisitos a atender. Mas queremos saber também sobre as experiências vividas pelas pessoas que realmente recebem os programas, que estão no fim dessa cadeia das ações afirmativas”, comentou.

Durante a estadia de pouco mais de duas semanas no Brasil, o grupo norte-americano visitará ainda universidades e organizações sociais em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. “O objetivo é que ao final do curso os estudantes conheçam mais sobre o Brasil, sobre ações afirmativas e sobre o sistema de educação pública aqui, especialmente das universidades públicas”, explica o professor Dietrich. A disciplina, que está em sua sexta edição, congrega estudantes de diversas áreas, que se preparam durante dois meses para a viagem ao Brasil. “É muito interessante voltar à Unicamp e ver como as políticas têm evoluído ao longo dos anos”, reflete Dietrich.

professor NYU
Erich Dietrich, NYU

Segundo o professor, este é um momento particularmente importante para este debate em seu país, pois a Suprema Corte norte-americana acaba de limitar as opções de políticas públicas para as ações afirmativas nas universidades. “As ações afirmativas nos Estados Unidos estão sob ataque. Estão sendo cada vez mais limitadas”, relatou. Para ele a experiência no Brasil permite aos seus alunos refletir sobre questões como o acesso a universidade; o caráter de direito ou privilégio do ensino superior; e a distribuição deste direito ou privilégio na sociedade, sob outro ponto de vista.

Fawziah Qadir, além de vir ao Brasil, teve oportunidade de cursar outras disciplinas internacionais, conhecendo as experiências educacionais da Índia e da África do Sul, e do Egito, onde viveu por cinco anos. Para ela, a educação deve ser compreendida como um todo, desde os primeiros anos, e globalmente. “A educação é um fundamento sem o qual não podemos realizar nossas liberdades, não conseguimos participar politicamente, não temos nossa cidadania completa”, observou. O foco dos seus estudos é o acesso à educação e a equidade, com especial atenção aos grupos marginalizados.

Imagem de capa
Estudantes da Universidade de Nova York visitam a Unicamp

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